A Fogueira

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O sol estava se pondo no horizonte, tingindo o céu de vermelho e laranja.
Em uma pequena aldeia no reino de Waltara, a leste de Aranthia, um cenário macabro se desenrolava.

Na praça central, o cenário macabro se desenrolava em uma sinistra dança de sombras e chamas. Uma enorme fogueira ardia com um crepitar agourento, projetando luzes dançantes que iluminavam as faces sombrias e retorcidas dos espectadores, como se revelassem os segredos sombrios escondidos por trás de suas máscaras de indiferença. O calor intenso do fogo ondulava no ar, deixando uma sensação opressiva que parecia prenunciar o destino funesto que aguardava aqueles amarrados aos postes de madeira.

Ao redor da fogueira, vinte e duas pessoas permaneciam presas em um silêncio mórbido, seus olhares vazios e desprovidos de esperança, enquanto a agonia e a incerteza se entrelaçavam em seus corações. Suas mãos amarradas e seus corpos trêmulos, testemunhavam a iminência da morte imposta sobre eles. O odor acre de madeira queimada permeava o ar, misturando-se ao cheiro metálico de sangue, suor e lágrimas derramadas em meio à aflição.

A multidão silenciosa, como espectadores de um espetáculo sombrio e trágico, observava cada detalhe com olhares fixos e expressões impiedosas. Ali, naquela praça, a humanidade parecia ter se dissipado, dando lugar a uma sedenta busca por justiça distorcida, alimentada por um ódio fervoroso e uma crença cega em condenações infundadas. E no coração daquela sinistra cerimônia, as vítimas condenadas permaneciam como peões sacrificados, à mercê de um destino cruel e inexorável.

Enquanto o crepitar das chamas ecoava, um vento gélido soprava pelas vielas estreitas da aldeia, sussurrando um lamento mudo para aqueles que se encontravam diante da morte iminente. Era como se a própria natureza estivesse lamentando a injustiça que pairava sobre aquele lugar, como se os elementos estivessem em um coro triste de desesperança.

Naquele momento fatídico, o silêncio era ensurdecedor. O murmúrio do vento e o crepitar das chamas eram os únicos sons que ousavam romper a quietude sepulcral. A aldeia, outrora vibrante e cheia de vida, estava agora envolta em um manto de escuridão e opressão, uma sombra grotesca que ameaçava engolir tudo o que um dia foi esperança.

Enquanto a noite avançava e o sol desaparecia por completo, a fogueira continuava acesa, projetando uma luz sinistra sobre a praça central da aldeia. Ali, vinte e duas vidas pendiam em um limbo cruel entre a vida e a morte, em um espetáculo de horror e injustiça que deixaria marcas indeléveis na história daquela comunidade.

Eram os acusados de bruxaria, um crime imperdoável aos olhos da Sociedade Sagrada, um grupo religioso que se dizia devoto dos nove Deuses de Shangri-La. A Sociedade havia ganhado força e influência nos últimos anos, espalhando sua doutrina pelo reino e perseguindo implacavelmente aqueles que praticavam ou simpatizavam com a magia, numa caçada insana em busca de hereges.

Enquanto a fogueira crepitava, as sombras dos condenados dançavam nas paredes ao redor da praça. A cada estalido das chamas, o cheiro acre de madeira queimada impregnava o ar, misturando-se à angústia e ao desespero. O medo pairava sobre todos ali presentes, como uma névoa densa que sufocava os pulmões e abafava os gritos daqueles que imploravam por justiça.

Os bruxos, seres sobrenaturais que nasciam com um dom ancestral de manipular as forças da natureza, viviam ocultos entre os humanos, como sombras veladas pela normalidade. Por trás de suas aparências comuns, pulsava um poder mágico que os conectava às energias primordiais do universo.

Eles se esforçavam para viver uma vida dupla, equilibrando suas habilidades mágicas com a necessidade de se integrarem à sociedade humana. Mantinham suas verdadeiras naturezas envoltas em mistério, escondendo as chamas da magia que ardiam em seu interior.

Herdeiros do Destino - Contos de AranthiaOnde histórias criam vida. Descubra agora