Herdeira das Trevas

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Arya encontrava-se grávida, e Caius, consciente de sua inevitabilidade, lutava para manter as preocupações afastadas. Cada dia que passava, a ansiedade se entranhava mais em seu coração.

Quando a pequena Morrigan finalmente veio ao mundo, Caius sentiu uma mistura de alívio e temor. Decidido a buscar orientação, conduziu a recém-nascida até a anciã da aldeia.

No entanto, ao deparar-se com a figura jovem da bruxa, aparentando não mais do que vinte anos, sua surpresa foi incontida. Ela revelou-lhe, com voz suave, que sua própria mãe havia partido deste mundo, e que, apesar da pouca idade, assumira a missão de ser uma poderosa vidente.

“O que você quer de mim?” perguntou ela, com uma voz suave.

Com um nó na garganta, Caius encontrou coragem para expor suas inquietudes:

“Eu preciso que você veja o destino da minha neta” disse Caius, com um nó na garganta. “Ela é... especial.”

“Eu sei” disse a bruxa, com um sorriso triste. “Eu já senti a presença dela.”

Um calafrio percorreu a espinha de Caius, como se o toque sombrio do futuro tivesse encontrado seu caminho até ele.

Superando suas próprias apreensões, Caius depositou a pequena e frágil Morrigan nos braços da bruxa, mantendo em segredo a esperança de que aquele momento pudesse ser apenas uma ilusão passageira.

Hecátia contemplou a menina é rapidamente mergulhou em um profundo transe, perdendo-se em visões que transcendiam o tempo e o espaço.

À medida que a palidez se apossava da face da mulher, Caius sentia sua angústia aumentar, alimentando seus temores mais sombrios.

Por fim, a bruxa devolveu a criança aos braços trêmulos de Caius. No instante em que seus olhares se encontraram, um sombrio presságio se instaurou em seus corações.

“O que você viu?”, questionou Caius, ansiando por qualquer sinal de esperança em meio à iminência do perigo.

E com palavras carregadas de peso, a bruxa proferiu: “Ela carrega a maldição que há tempos assombra sua família.”

Caius fixou o olhar na frágil menina em seus braços. Ela era tão pura, tão desprovida de culpa. Como poderia ela se tornar uma ameaça para o mundo?

“Há algo que eu possa fazer para evitar isso?”, suplicou Caius, desesperado por encontrar uma solução além do destino implacável.

A bruxa, com voz grave e melancólica, respondeu: “Não há escapatória do destino já traçado. Mas você pode guiar seu caminho pela senda da luz. Ensine-a a amar, a perdoar, a sacrificar-se pelo bem dos outros. Talvez, assim, ela encontre forças para resistir à sedução das trevas.”

Caius assentiu, embora com pouca convicção. Ele sabia que proteger sua neta dos perigos que a cercavam seria uma tarefa hercúlea. Sabia que, um dia, ela teria que encarar seu destino de frente.

Determinado a manter o segredo, Caius implorou a Hecátia que fizesse o mesmo. Morrigan carregava consigo a maldição, e ele compartilhara essa informação apenas com sua esposa, Selene.

Concordaram em revelar o segredo somente quando o momento apropriado chegasse, criando um ambiente de luz e ensinando à menina os caminhos do bem.

A vidente, em sua sabedoria enigmática, não possuía total clareza sobre o intricado desdobramento do futuro, mas nos recônditos de sua mente, pôde vislumbrar a sinistra herança que Morrigan carregava consigo.

Ela percebeu, com uma inquietante certeza, que a pequena garota abrigava em seu ser uma poderosa essência demoníaca.

Era como se nas veias de Morrigan fluísse um sangue ancestral, carregado de sombras e mistérios insondáveis. Essa sinistra conexão com o oculto ditava uma terrível verdade: para a criança poder sobreviver, precisaria se alimentar de sangue.

Entre as névoas do futuro, Hecátia testemunhou uma Morrigan transformada, adornada por asas negras que se estendiam como sombras ameaçadoras. Seus olhos, outrora serenos, agora eram chamas rubras de fúria, espelhando o fogo ardente que ardia em seu âmago.

No entanto, Hecátia decidiu guardar essa revelação para si, pois compreendia a carga de angústia e desespero que recairia sobre Caius se ele soubesse da verdade. Ao invés disso, ela manteve silenciosa a visão que atravessou seus olhos.

Mas Hecátia se viu diante de um dilema complexo, incapaz de prever se Morrigan sucumbiria completamente às trevas ou se encontraria uma maneira de resistir à sua influência avassaladora.

Então, guardando para si essa sinistra visão, a bruxa decidiu permanecer vigilante, observando os primeiros passos da criança em sua jornada pela vida. E, à medida que o tempo avançava, ela aguardava, na esperança de que Caius e Selene pudessem moldar o destino de Morrigan com amor e orientação, na tentativa de mantê-la afastada do abismo da escuridão que ameaçava engoli-la por completo.

Herdeiros do Destino - Contos de AranthiaOnde histórias criam vida. Descubra agora