Herdeiros do Destino - Contos de Aranthia

A Primeira Bruxa

Nos primórdios de Aranthia, o reino recém-criado pelos Deuses de Shangri-La, a presença divina era intensamente sentida em cada canto da terra. Era como se os próprios céus estivessem tecidos na tapeçaria da vida, e a magnitude dessa existência transcendental se manifestava em todas as criaturas e elementos daquele mundo novo.

No entanto, os Deuses, sábios em sua governança celestial, decidiram não conceder poderes especiais aos seres humanos que habitavam o novo reino. Uma sombra de temor pairava sobre seus corações, pois eles conheciam as consequências devastadoras que poderes descontrolados poderiam acarretar, como testemunharam em Abaddon, o triste capítulo da história que preferiam esquecer.

Entre os Deuses de Shangri-La, Syrenah, a majestosa Deusa da Lua e da Magia, contemplava a situação com profunda tristeza. Ela era conhecida por sua afinidade com os mistérios da noite, os segredos ocultos e o poder arcano que permeava o universo.

Enquanto observava o sofrimento causado pelos demônios invasores de Abaddon, uma chama de compaixão ardente acendia-se em seu ser divino. As lágrimas lunares rolavam silenciosamente por suas faces celestiais, espelhando sua aflição por aqueles seres humanos indefesos.

Numa noite de luar intenso, quando as estrelas brilhavam com esplendor e o destino tecia seus fios invisíveis com habilidade sobrenatural, ela encontrou-se diante de uma cena angustiante. Uma humana indefesa era atacada por um demônio cruel, cuja risada maligna ecoava no ar, alimentando-se do desespero expresso nos olhos da mulher. Os gritos de dor e medo dela ecoavam pelo ar, penetrando os ouvidos sensíveis da Deusa. Syrenah sentiu um aperto profundo em seu coração celestial, incapaz de suportar o sofrimento infligido a um ser tão frágil diante da violência demoníaca.

Movida por um impulso indomável de compaixão e determinação, ela desceu do firmamento, envolta em um manto prateado que refletia a luz da lua com graça etérea. Sua presença divina e luminosa iluminou a noite escura, fazendo o demônio recuar momentaneamente, surpreso com a aparição da Deusa.

Aproximando-se da mulher aterrorizada, Syrenah tocou gentilmente seu ombro, transmitindo uma sensação de calma e proteção como um suave sopro de vento noturno. A humana, ainda trêmula e com lágrimas transbordando de seus olhos, clamou por qualquer ajuda que pudesse receber.

Então, ela estendeu suas mãos delicadas, as quais pareciam feitas de luz lunar, e emanou sua magia ancestral. Raios cintilantes de energia lunar envolveram a mulher, dançando ao seu redor, como se tecessem uma auréola de poder protetor.

A mulher sentiu uma força renovada fluir por suas veias, um poder ancestral que nunca havia conhecido. Era como se cada célula de seu corpo vibrasse em sintonia com os segredos cósmicos e a força dos elementos.

A partir desse momento, aquela mulher se tornou a primeira bruxa de Aranthia.

A magia de Syrenah havia despertado dentro dela uma conexão profunda com os elementos e forças cósmicas, que fluíam através de seu ser como um rio mágico e poderoso. Ela se tornou uma guardiã dos segredos ocultos, uma curandeira dos males que afligiam os seres vivos, capaz de trazer equilíbrio e harmonia à natureza e àqueles que buscavam sua ajuda.

Com o passar do tempo, os humanos que nasciam em noites intensas, com corações puros e amor pela natureza, eram agraciados com a magia da Deusa. Através do toque de Syrenah, o dom da magia se manifestava neles, transformando-os em bruxos, portadores de uma sabedoria ancestral e de um poder que brotava do amor e da compaixão.

Presenteados pela compaixão de uma Deusa amorosa, eles se tornaram forças luminosas em meio à escuridão que assolava o reino de Aranthia.

E assim, os bruxos do novo reino surgiram como uma resposta à crueldade dos demônios, uma prova viva de que o poder mágico podia ser canalizado para a preservação do equilíbrio entre a Luz e a Escuridão, uma esperança brilhante em um mundo assombrado pela sombra do mal.

Cada noite estrelada em Aranthia ecoava a melodia de suas intenções, enquanto a lua testemunhava a magia crescente que fluía através de suas veias, conectando-os aos segredos mais profundos do cosmos.