Caius entrou no porão de sua casa, que sua esposa Selene transformara em um refúgio mágico.
Velas de cores variadas banhavam o ambiente com uma luz suave. Estantes abarrotadas de livros antigos e misteriosos cobriam as paredes, prateleiras exibiam diversos objetos encantados, como se fossem simples bibelôs. Um enorme armário de madeira escura se erguia no canto, que continha desde ervas aromáticas a ossos sinistros, ingredientes para eventuais feitiços.
Selene estava lendo um livro, absorta em seus estudos. Ela era uma bruxa sábia, que se dedicava a pesquisar sobre histórias e artefatos mágicos. A bruxa tinha uma paixão pelo conhecimento, que Caius admirava e compartilhava.
Ele se aproximou dela com cuidado, não querendo interrompê-la. Ele sabia que ela estava tentando encontrar uma forma de quebrar a maldição de Lúcio, o amado de sua filha Arya.
Se aproximou dela com cuidado, não querendo interrompê-la. Sabia que ela estava fazendo aquilo por amor à sua filha, e por compaixão aos lobisomens.
A cumprimentou com um beijo suave na testa, fazendo-a levantar os olhos de seu livro. A bruxa sorriu ao vê-lo, transmitindo carinho e compreensão.
“Olá, meu amor. Como foi o seu dia” Selene perguntou.
“Foi bem, obrigado” respondeu “Alguma novidade nas buscas?”
“Encontrei algumas pistas sobre o cetro mágico que a Bruxa usou para lançar o feitiço, mas eu ainda não sei onde ele está ou como usá-lo.” a bruxa explicou.
“Selene, eu preciso conversar com você sobre uma coisa. É importante.” ele disse, mudando o tom de voz.
“Claro, meu amor. O que houve? Você está bem?” ela perguntou, percebendo a seriedade em seu olhar.
“Estou bem, mas tenho uma decisão a tomar. E eu quero a sua opinião.” Caius disse.
“Do que se trata?” ela indagou.
“Eu descobri uma forma de quebrar a maldição deles. Encontrei o antigo cetro mágico, que pertenceu à bruxa que lançou a maldição sobre eles há séculos atrás. Esse cetro pode modificar qualquer feitiço lançado por ele. Posso usá-lo para libertar os lobisomens da maldição que os aflige.” o bruxo revelou.
“Meu amor, isso é incrível! Você é incrível! Como encontrou esse cetro, onde ele está? Como vai usá-lo?” Selene exclamou, cheia de curiosidade e admiração.
“Encontrei o cetro em uma caverna secreta, onde a bruxa guardava seus tesouros mais valiosos. Ele estava escondido em um baú lacrado por um feitiço complexo, mas consegui abri-lo” ele contou.
“Isso é incrível! E como você usará o cetro? O que precisa fazer?” a bruxa questionou, faminta por tal conhecimento.
Selene era uma estudiosa em artefatos e historias magicas bastante habilidosa, o marido ter encontrado primeiro, lhe espantava quase tanto quanto admirava.
“Eu preciso de sua ajuda” revelou ele em meio a um suspiro “Não quero quebrar a maldição.”
“O que quer dizer com isso? Por quê?” Selene perguntou, visivelmente preocupada.
“Arya não é a portadora da maldição, mas um dia ele nascerá. Agora que ela encontrou alguém, pode engravidar a qualquer momento” começou o bruxo.
Caius andou pelo lugar, encarando tudo menos os olhos de sua amada. Ele tentava encontrar as palavras certas para explicar.
“Os lobos, são criaturas fortes, temos uma aldeia cheia deles como vizinhos” continuou ele “Tê-los como aliados em uma guerra futura seria benéfico.”
“Eles não têm controle durante a transformação, como poderiam lutar uma guerra?” retrucou ela.
“Por isso o cetro, por isso sua ajuda.” respondeu, ainda sem a olhar nos olhos, “Quero modificar a maldição deles, deixar que tenham controle sobre sua forma de lobo. Pense Selene, todos seriam gratos aos Lumen, podemos sugerir unirmos nossas aldeias… teríamos um exército sempre por perto.”
“Estava pensando também em como o sangue dos bruxos originais da Irmandade Ignis transformou pessoas e bruxos em vampiros, em imortais. Arya e eu temos sangue imortal, quero adicionar um pouco dessa essência no feitiço, conferir imortalidade aos lobos.” Concluiu ele por fim.
Selene ficou em silêncio por alguns instantes, tentando processar as palavras de seu marido. Ela podia entender a lógica por trás de seu plano, mas também sentia uma pontada de preocupação e dúvida.
“Meu amor, eu sei que você está pensando no futuro, na guerra que se aproxima, na profecia que te assombra. Sei que você quer proteger nossa família, nossa aldeia, nosso mundo. Sei que você tem boas intenções. Mas você já pensou nas consequências do que você quer fazer?” ela perguntou, olhando-o nos olhos.
“Que consequências?” ele indagou, finalmente encarando-a.
“Você quer modificar a maldição dos lobos, mas você não quer quebrar. Quer dar a eles o controle sobre sua forma de lobo, mas não quer tirar deles. Você quer que eles sejam seus aliados, mas não quer que eles sejam seus iguais. Vai usá-los como soldados, isso não é respeitá-los como pessoas. Quer dar a eles um presente, mas não perguntará se eles o aceitam.” ela disse, com firmeza.
“Selene, você está exagerando. Eu não quero usar os lobos como objetos, eu quero ajudá-los como amigos. Quero dar a eles uma nova chance de vida, uma nova liberdade. Eles vão ficar felizes com a minha proposta, eu tenho certeza. Eles vão ver que é o melhor para todos nós.” Caius disse, com convicção.
“E se eles não ficarem felizes, se não aceitarem a sua proposta? E se não quiserem ser imortais ou se não quiserem lutar na sua guerra? Você já pensou nisso?” ela questionou.
“Selene, por favor, confie em mim. Sei o que estou fazendo.” ele insistiu.
“Caius, por favor, escute-me. Confio em você, eu te amo. Mas tenho medo do que você está prestes a fazer. Tenho medo das consequências que isso pode trazer. Isso pode ser um erro. Um erro que pode custar caro para todos nós.” ela implorou.
“Selene, por favor, entenda-me. Eu te amo, eu te respeito. Mas tenho certeza do que estou prestes a fazer. Tenho consciência das vantagens que isso pode trazer. Isso é um acerto, um acerto que pode salvar todos nós.” ele afirmou.
Eles se olharam nos olhos por um longo tempo, tentando encontrar um consenso, uma concordância, uma compreensão mútua.
“Você ao menos vai perguntar?” sua amada questionou.
“Não posso arriscar um não. Entenda, eles são amaldiçoados, escravos da lua, o que faremos será uma benção.” Caius respondeu, seus olhos suplicando por compreensão.
Selene não conseguia concordar com aquilo, pois seu coração se rebelava diante das decisões que precisavam ser tomadas.
No entanto, ela compreendia os anseios de seu marido, sabendo que em tempos de guerra, o peso das escolhas se tornava ainda mais desafiador.
A dor a consumia por dentro, mas, no final das contas, Selene se viu obrigada a participar do feitiço que selaria o destino de uma geração inteira.
Envolvida naquele momento, ela se debatia entre suas emoções conflitantes, ciente de que uma poderosa carga recaía sobre seus ombros.
Quando tudo chegou ao fim e a maldição foi modificada, enquanto todos ao redor celebravam em volta da fogueira, um sorriso satisfeito se desenhou no rosto de Caius, despercebido por todos, exceto por Selene.
Ao observá-lo, uma pergunta inquietante emergiu em sua mente: será que o rumo que estavam seguindo os levaria a tão almejada vitória? Ou, no fim das contas, restaria algo da bruxa apaixonada por história e magia que Selene um dia foi?
Seus anseios e inseguranças obscureciam o caminho à frente, lançando uma sombra de dúvida sobre o futuro incerto que os aguardava.
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Herdeiros do Destino - Contos de Aranthia
Viễn tưởng🥈 2° lugar em Contos - Fênix Concurso Literário 🥈 2° Lugar em Melhor Ortografia- Concurso Cósmico 🥉 3° Lugar em Contos - Concurso Clube de Leitura LER Adentre o reino encantado de Aranthia por meio desta coletânea de contos que promete desvendar...