Capítulo 1 (Degustação)

1K 150 18
                                    

Liz Cavalcante

O que você mais presencia nas favelas do Rio de Janeiro é desentendido entre as mulherada, mesmo com a regra imposta sobre a violência não ser um meio aceito a mulherada quando tá com sangue quente não quer sabe, agora quando perde o cabelo chora pedindo mega para o maridão. Conheço bem quem são as crias que provoca, são as mesmas que fazem buchicho com meu nome a anos e as pessoas me perguntam se eu ligo, a prova vida que não ligo é os meus cabelos saudáveis e naturais batendo acima da minha bunda.

Já apanhei muito nessa vida por ser cabeça quente e por perder a linha, já bati de frente com quem não devia e conheci o diabo em pessoa e hoje em dia prefiro permanecer quieta e com a consciência em paz, mas é claro que tomo uns remedinhos pra manter essa calmaria.

Foi porradaria até as últimas, tapa e puxão de cabelo até não dar mais e no final de tudo quando ouvi o tiro peguei meu caminho pra fora. Se não fosse Caveira dando as caras era algum mandante seu e eu não podia mesmo ser vista aqui, não depois de ter dado um perdido nele após nossa última discussão.

Apresso meus passos às pressas em direção ao salão de beleza, meus pés estão com separadores de dedos e é difícil correr mas faço o possível para chegar no salão da Shirley.

Fecho a porta de vidro atrás de mim e me encosto nela recuperando o fôlego, Shirley está com um garfo de lasanha próximo a sua boca prestes a comer

— Onde você tava garota?

— Caveira apareceu no meio da treta.

— E ele te viu? — Heloísa, uma das funcionárias que está fazendo uma sobrancelha pergunta

— Não, bom eu acho que não..

— Eu acho que ela viu.. — Shirley diz com convicção

— Claro que não viu, você nem estava lá e..— paro de falar quando olho pra ela e a vejo olhando através da porta de vidro que acabei de fechar, ela aponta com o garfo na minha direção e eu preciso engolir em seco.

Ao me virar constato que precisaria de mais do que um engolir em seco, ao encarar aqueles dois metros de homens do outro lado do vidro vindo em minha direção foi como se eu tivesse drenado toda a água do meu corpo, a boca fica seca assim como as minhas próprias mãos.

Ele está sério e muito mal humorado. Si também ficaria se ele tivesse ficado escondido por três dias consecutivas, e ele fica louco quando ele me perde porque sabe que quando quero me esconder absolutamente ninguém me encontra, nem mesmo esses seus funcionários meia boca.

Ele para diante do salão da Shirley, a arma não está na sua mão igual a minutos antes. Ele aponta para mim e em seguida para trás dele, indicando para eu ir embora, balanço a cabeça negativamente e aponto para os meus pés, ele parece mais enfurecido ainda.

Faço um gesto de que só sairia depois de pagar e ele me olha visivelmente puto com a minha extorsão, ele ameaça a cortar a minha garganta e eu preciso rolar os olhos diante da ameaça, apesar de saber que ele é capaz disso se pudesse mas eu não fui campeã olímpica na faculdade atoa, quero ver ele me alcançar.

Ouço um abre essa porra sair dos seus lábios e mesmo assim eu não abro, quando ele ameaça a pegar a arma Shirley se manifesta.

— Abre essa porta pra esse homem Liz, se ele quebrar a minha porta eu não quero nem ver o prejuízo que vou ganhar.

— Se ele quebrar ele sabe que vai pagar e eu disse que não iria falar com ele até sábado, ninguém mandou ele me fazer de otaria e sair na calada da noite. – Ele vê a minha raiva do outro lado do vidro, ele não me coloca apavoro com essa arma na mãos porque sei que comigo ele não faria nada.

Infiltrado no seu coração Onde histórias criam vida. Descubra agora