Em meio à urgência, meu pai e o líder da vila convocaram aventureiros com classificação a partir do rank D para enfrentarem a crescente ameaça, enquanto orientavam o restante da população a evacuar para a capital.
Eu, meramente uma observadora naquele cenário tenso, percebi que Tio Ri adentrou seu bar e emergiu empunhando uma espada colossal.
- Tio Ri, o senhor era um aventureiro de rank D? - perguntei, fascinada com a magnitude da espada que ele empunhava.
Com um sorriso costumeiro, ele piscou para mim e confessou: -Não conte para ninguém, mas eu era rival do seu pai. Sempre o venci!
Surpreendida, embora o Tio Ri possuísse um porte físico robusto, ele tinha uma personalidade calma e afetuosa que nunca imaginei que se revelaria um aventureiro de classificação superior ao D.
Os ataques se intensificavam, e à distância, uma besta gigante se aproximava da vila.
Meu pai, com determinação, me ergueu e colocou na carroça ao lado da Tia Lia. Sem reclamar, eu compreendia que qualquer intervenção minha seria um estorvo naquela situação.
Meus pais me abraçaram, depositaram um beijo na minha testa e disseram: - Nos vemos mais tarde!
- Ei, pestinha, quando tudo isso acabar, vou te contar como sempre vencia teu pai! - Tio Ri bagunçou meu cabelo, provocando risos.
- Já vai contar mentiras para ela? - retrucou meu pai.
- Hahaha! Inveja mata, Carlos!
- Dois velhos babões! - disse minha mãe, e todos sorriram.
- Nos vemos no seu aniversário!- falaram em uníssono, quando os cavalos iniciaram o arrasto da carroça.
Partimos, lançando um último olhar para trás, testemunhando os três avançando corajosamente na direção da ameaçadora besta gigante.
Após uma jornada de meio dia, fizemos uma pausa ao entardecer para alimentar os cavalos. Decidimos erguer acampamento antes da noite envolver-nos.
Durante a escuridão, um ruído terrível nos despertou. Meu coração congelou ao deparar com uma horda de goblins diante de nós, tantos que mal divisávamos a estrada.
Embora os goblins fossem de rank F, sua quantidade os elevava a uma classificação C ou superior, enquanto a maioria de nós era de rank E e F.
Muitos ali não tinham experiência em verdadeiras batalhas. Os aventureiros mais experientes entraram em combate e ordenaram que fugíssemos em direção à nossa vila.
Sem saída, enfrentar um exército com mais de 500 goblins era impossível. Antes de conseguirmos subir na carroça, os arqueiros goblins abateram todos os cavalos. Tia Lia segurou minha mão, e começamos a correr sem cessar. Os aventureiros que ficaram para trás sacrificaram-se, proporcionando uma hora de vantagem entre nós e aquele exército.
Corremos sem descanso, e após algumas horas, a Tia Lia desfaleceu no meio da estrada. Ela já uma senhora de quase 60 anos, que ganhava a vida com seu modesto restaurante, era evidente que aquilo era sobrecarregante para ela. Tentei acordá-la, mas um goblin logo surgiu à nossa frente, solitário, mas ainda representando um formidável desafio para nós.
Meu corpo inteiro petrificou-se, envolto pelo terror. Recordações dos ensinamentos de meu pai e mãe inundaram minha mente. Empunhei um pedaço de madeira próximo a mim e ataquei. Minha força revelou-se ínfima para causar-lhe dano; exausta, mal dispunha de energia para caminhar.
Meu insignificante assalto enfureceu o goblin, lançando-me longe, minha fazendo minha cabeça colidir com uma pedra. Minha visão turvou-se, senti um calor escorrer pela testa. Fitando o goblin sobre a luz da lua, ele avançava em minha direção quando a Tia Lia saltou sobre ele, tentando impedir o ataque.
- Corre, Elena! Corre! - ela gritou para mim.
Assustada, utilizei a minguada força restante e corri. Sentia-me inútil e covarde naquele instante. Olhei para trás e percebi que estava sozinha. Ainda não havia percebido que os outros já pereceram; eu era a única de pé. Meu coração doía, meu corpo estremecia de tristeza. Rostos familiares, aqueles com os quais convivia diariamente, desapareciam diante de mim. Não consegui mais olhar para trás depois do último grito da Tia Lia.
Horas se passaram desde o ataque dos goblins. Exausta, o sangue na minha testa já havia secado. A noite findava, mas ao longe ainda escutava os ruídos dos goblins. A morte parecia certa.
O céu clareava, vislumbrava a fumaça proveniente da direção da minha vila. Eu estava próxima do lugar que sempre chamei de lar. A emoção de reencontrar meus pais restaurou parte de minhas forças. Corri como se o amanhã não existisse.
À distância, testemunhei a devastação do vilarejo, corpos jaziam dispersos por todos os cantos, e nenhuma casa permanecia erguida, todas consumidas pelas chamas.
No horizonte, vislumbrei uma silhueta familiar, erguida sobre o corpo do imenso lobo abatido. Faltava-lhe um braço, mas com a única mão, firmou a espada e a cravou no peito da colossal besta, fazendo-a gritar de agonia até sua derradeira expiração.
A figura então tombou ao solo. Corri em sua direção, incrédula. Era minha mãe!
Aproximei-me e meu corpo congelou. Os corpos do pai e do tio Ri estavam próximos, junto ao local onde minha mãe sucumbira. Estavam tão deteriorados que mal os reconheci, mas eram eles, tinha certeza. A dor de vê-los naquele estado me fazia querer gritar, lágrimas incontidas fluíam, mas reuni forças e me dirigi à mãe, cuja respiração era frágil. Segurei sua cabeça sobre meu colo, minhas lágrimas banhavam seu rosto.
Tentei enfaixar seu braço amputado. Mas com sua mão restante, ela tocou meu rosto e sorriu levemente.
- Perdoe-me, a mamãe não poderá mais comparecer a nenhuma de suas festas de aniversário.
Segurei sua mão e senti seu corpo exalar o último suspiro de vida. O mundo mergulhou na escuridão ao meu redor, naquele instante, nada mais importava. Queria estar com eles. A vida perdeu seu significado, não tinha mais ninguém, não conhecia mais ninguém.
Olhei para o céu e uma pequena gota de chuva tocou meu rosto.
"Que belo aniversário!" - pensei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!
AventuraDepois de passar por experiências horríveis. Elena ainda tenta viver a vida com seu sonho de se tornar uma grande aventureira como seus pais. Mas no decorrer do caminho várias situações inutilizadas acontecem. Embarque nessa história cheia de revir...