6. Despedida

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Haviam se passado dois dias desde que meus olhos se abriram novamente para um mundo, embora meu corpo ainda se recuperasse, mostrava-se pronto para seguir adiante. 

A partida estava iminente, e enquanto os preparativos finais eram feitos, decidi visitar o túmulo daqueles que me eram mais queridos, para me despedir. O túmulo do tio Ri foi o primeiro em meu caminho. Entre lágrimas, toquei sua lápide e murmurei:

— Esta foi a primeira vez que falhaste em uma promessa, e será também a última. Preferiria que continuasses quebrando promessas do que nunca mais fazê-las para mim. Agora, só poderei ouvir tuas histórias através das memórias alheias! — A dor em meu coração transbordou, e lágrimas escorreram livremente.

Após alguns momentos junto ao túmulo do Tio Ri, dirigi-me aos túmulos de meus pais. Cada passo evocava uma emoção única. Ao ficar diante de suas lápides, senti minhas forças esvaírem-se. Ajoelhei-me, chorando como se tivesse sido ontem a última vez que os vi.

Eles foram enterrados lado a lado. Coloquei minhas mãos sobre seus respectivos túmulos e disse:

— Papai e mamãe, esta foi a primeira vez que passei meu aniversário longe de vocês. Sei que não será a última... — Novamente, lágrimas banharam meu rosto, mas continuei.

— ... certamente, viverei, embora não saiba ao certo como. Sinto medo do desconhecido que os dias vindouros trazem, mas farei valer a pena cada vida que se foi. Amo-vos com todas as minhas forças. Sentirei saudades... não posso mais permanecer aqui, devo partir para a capital. Agora, aos meus dez anos, preciso participar do campo de treinamento para elevar meu nível e escolher minha profissão. Se serei uma paladina como tu, mamãe, ou um mago como tu, papai, só o tempo dirá. Serei forte e nunca mais permitirei que as coisas preciosas me sejam arrebatadas. Em breve, retornarei para vos visitar.

Levantei-me após alguns minutos prostrada. Dirigi-me a um pequeno espaço próximo ao cemitério e ergui um pequeno túmulo para a criança cujo nome desconhecia. Na lápide, escrevi:

"Não sei teu nome, mas agradeço por me salvares, meu pequeno herói!"

Partimos em direção à capital. Ao cruzar novamente aquela estrada, uma sensação de náusea invadiu-me.

— Permanece dentro da carroça, não olhes para nada. - Gian aconselhou ao perceber meu desconforto.

Segui seu conselho. Dois dias se passaram.

— Elena, chegamos, podes sair!

Lá estava eu, diante da imponente capital, um destino que nenhum habitante da vila ousara alcançar antes de mim. Eu visitara a capital apenas algumas vezes com meu pai, quando comprávamos potes para armazenar poções.

— Conheces alguém aqui? Tens algum lugar para ir? - perguntou o Capitão, interrompendo meus pensamentos.

Balancei a cabeça negativamente. Ele suspirou e sorriu.

— Encontrarei um lugar para ti.

Continuamos nossa jornada, parando em uma grandiosa mansão onde o Capitão desceu, sendo recebido por alguns criados.

— Bem-vindo de volta, senhor! - saudou um senhorzinho grisalho.

— Bem-vindo de volta, meu amor! Quem é essa jovem? - perguntou uma linda mulher de cabelos escuros e olhos âmbar. Seus olhos eram tão brilhantes que pareciam gemas preciosas.

— Que bela dama! - elogiei involuntariamente, encantada com sua beleza. Ruborizei ao perceber.

— Obrigada! - ela respondeu, surpresa e feliz.

— Ela é uma moradora da Vila Libã! — O Capitão explicou para a mulher, e todos olharam para mim com surpresa e compaixão, criando um silêncio constrangedor.

— Bem, querida, entra! Precisas de um bom descanso! - a linda mulher falou quebrando o silêncio e conduzindo-me para dentro.

— Onde está Xion? — indagou o Capitão.

— Não sabíamos que chegarias hoje. Pensávamos que irias direto ao Palácio para relatar à sua majestade. Então, ele foi caçar com os primos!

— Realmente não iria chegar tão cedo, mas decidi enviar Gian à frente para avisar que me atrasaria um pouco!

Adentramos a grandiosa mansão. Uma criada acompanhou-me até um quarto exuberante, entregando-me um par de roupas. Ali havia uma bela banheira. Despi-me e comecei a me lavar, sendo auxiliada pela criada. Recusei sua ajuda, mas ela insistiu, afirmando que, como convidada do Lorde Cleones, deveria ser tratada como uma princesa.

"Cleones, então este é o nome dele!" - pensei ao ouvir o sobrenome do Capitão.

Vesti um vestido dourado com lindas borboletas azuis, algo que nunca antes havia usado. Parecia ser extremamente luxuoso. A criada arrumou meu cabelo, e então descemos para a sala de jantar. Todos estavam sentados, exceto Xion.

Um banquete foi preparado, mas não consegui comer muito. Minhas memórias flutuavam entre cenas aterrorizantes.

— Elena, vamos descansar hoje. Amanhã, iremos ao Palácio Real. 

Surpresa, respondi:

— Eu!? Por quê? Fiz algo?

O Capitão e sua linda esposa, Laura, sorriram.

— Não fizeste nada! O Rei apenas deseja fazer algumas perguntas, e tu és a única testemunha! — respondeu Cleones em um tom calmo e sereno, fazendo-me acalmar.

— Minha querida, tornaste-te famosa! - brincou Laura, piscando para mim com um sorriso. E eu sorri de volta.

Ceamos em silêncio o restante da noite.

— Obrigada pela refeição! Irei me retirar! —  Após finalizar a refeição, deixei a sala em direção ao quarto em que estava hospedada.

A noite persistiu por um tempo prolongado, desdobrando-se em um ambiente desconhecido, envolta por indivíduos cuja bondade era palpável, mas cujas faces ainda eram estranhas para mim. Sentia falta do aconchego da minha cama singela, da modesta casinha de madeira que, por vezes, emitia rangidos suaves. Foi uma noite repleta de emoções profundas. Mergulhei minha cabeça no travesseiro e permiti que as lágrimas fluíssem.


As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora