29. Sobre as antigas guerras

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— Imaginava que a trégua com os elfos tivesse apenas cinco séculos. Enquanto nós persistimos em conflitos com os demônios. Por que eles direcionam seus ataques com mais fervor aos humanos do que às outras raças? — indagações dançavam em minha mente como sombras em busca de respostas.

Yuri soltou um suspiro profundo, ecoando como uma melodia melancólica. 

— A cada tantos séculos, um rei humano se deixa envolver pela teia da ambição, desencadeando guerras renovadas. A humanidade pode ter esquecido a fonte de sua hostilidade para com os demônios, mas retém a consciência de sua astúcia. Os demônios exploram a raça que conseguem ludibriar com mais facilidade, embora os humanos, na verdade, não estejam tão distantes desse jogo ardiloso.

— E por que os Espíritos residem em outro "mundo"? — indaguei, buscando respostas para saciar minha curiosidade teimosa.

— Após o roubo da máquina, adentramos o reino demoníaco com ímpeto destrutivo, mas ela já havia escapado de nossas mãos, evaporando-se como o éter. Rastreamos por toda a terra, sem sucesso. Os demônios, culpados por tal afronta, pereceram, enterrando consigo no túmulo do tempo o paradeiro da relíquia. Aparentemente, eles a sepultaram nas terras humanas, agora revelada por vós que a desenterraram. Ansiávamos por evadir-nos dos conflitos, abandonando a terra para criar um espaço-tempo distinto, um refúgio mais seguro, para nós e para vós, pois nossa fúria quase a desfez uma vez.

— Então, por que persistem em forjar contratos para abandonar este lugar? — questionei, as palavras ecoando como murmúrios das sombras que dançavam entre nós.

Surpresa, Yuri lançou-me um olhar terno. 

— Quando este vórtice temporal desdobrou suas asas, erigimos portais em forma de barreiras, para que nenhum espírito ousasse mais aventurar-se na terra, buscando vingança. Mantínhamos contratos com os elfos, e em suas aflições, nos invocavam quando eram alvejados. Somente nestes cenários, quando um pacto se desenrolava, permitíamos que um espírito deixasse nossos domínios, ou quando invocado, mas tal invocação demandava a mana pura de alguém da terra, uma essência intocada capaz de forjar o elo conosco. E nós, confinados à defesa, nos limitávamos a proteger. Se um dia os elfos almejarem hostilizar deliberadamente outra raça, o contrato é desfeito.

— E quanto aos humanos? Ethan, ao vincular-se contigo, almejava assolar demônios e dragões!

— A restrição paira apenas sobre os Elfos, pois em sua essência, são naturalmente fortes. Na era em que Ethan clamou por mim, quando infundiu sua mana no símbolo do portal, todos puderam sentir a pureza de sua energia, intocada pelas sombras da máquina corrompida. Sua força vital assemelhava-se à de um espírito em sua mais límpida inocência. Quando os espíritos atenderam ao chamado e perceberam que era um humano, recusaram-se a forjar um pacto, atemorizados pela possibilidade de uma nova traição. No entanto, eu aceitei... - os olhos de Yuri refletiam uma nostalgia profunda.

— Mas por que aceitaste? Não sentiste o receio da traição?

— Ah, minha preciosa, no reino etéreo, ecoa um ditado: "A energia de um espírito retorna à natureza, desabrochando em rios, flores, e no sopro do vento, mas nunca se solidifica em pensamento consciente outra vez!" — assim acreditava, até tocar a mana de Ethan, uma energia que ressoava como a do meu irmão mais jovem. Clara, pura, serena, um bálsamo para a alma. As mágoas que abrigava pelos humanos se desvaneceram ao testemunhar meu irmão metamorfoseando-se em um deles! Percebi que todos os seres podem renascer como "humanos". A razão exata permanece envolta em mistério, mas a emoção foi a verdade que senti.

Não podia calcular quanto tempo transcorrera em nossa troca de palavras, mas não experimentava cansaço. Yuri, ao que parecia, deleitava-se na conversa, como se dançasse nos meandros do diálogo.

— Hei! Quase um dia se desdobrou, e tu não sentes a fome que atormenta os humanos? Eles, dizem, precisam nutrir-se incessantemente. — inquietou-se Yuri, preocupada.

— Um dia? Pareceu-me apenas um punhado de minutos. Adoro perder-me em teus contos, não me sinto fami... — antes que pudesse concluir, meu estômago finalmente entoou seu protesto.

A rainha fitou-me, um sorriso travesso nos lábios. — Venha, há arbustos frutíferos nas cercanias.

Enfim, Yuri desceu da efêmera nuvem, pousando seus pés descalços no solo. Segurou minhas mãos e caminhamos sobre a relva verde até um recanto repleto de pequenas árvores carregadas de frutos. Sob a sombra de uma macieira, colhemos algumas de suas dádivas e nos acomodamos para saborear o festim.

— Ah! Que êxtase, o sabor é distinto das frutas terrenas. - declarei, com a boca repleta.

— Elas são feitas de... — Yuri interrompeu-se, fixando-me com intensidade.

— O que houve? — indaguei, enquanto outra mordida encontrava a maçã.

— Elena... teu corpo... ele irradia luz!

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora