28. A decadência dos humanos

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Curiosa com tal afirmativa, perguntei:

— Que? Como assim? Nada roubamos. Como se fortaleciam as gentes de outrora?

— Treinavam e lutavam, meditavam e nasciam fortes. Mas parece que os humanos de agora, estão em decadência. Se assemelham a demônios na mesma trama. — Yuri proferiu, num tom áspero.

— Do que fala? — perguntei, indignada, sofrendo humilhação sem entender o porquê.

— Repetem o que tentaram com os espíritos milênios atrás. Roubando energia em troca de crescimento, tal ferramenta, creio, era usada pelos demônios...

Atônita, frente às revelações da Rainha Yuri, indaguei: 

— Como assim, utilizada por demônios? 

— Hunff - ela suspirou. — É uma trama longa.

 — Amo histórias, e não posso sair daqui. — sorri, rememorando escapadas da farmácia do pai para o bar do tio Ri. Um lugar amado por mim, pois ali ouvia histórias que suavam como magia cativante, nostálgicas lembranças fluíram em mim. 

— Pois assente, que uma história virá! Hahaha! — A rainha soltou uma risada ressoante e começou a entoar, os eventos ancestrais. — No início dos tempos, todas as raças coexistiam em harmonia; humanos, tão robustos quanto Elfos, embora breves fossem suas vidas. Demônios, prepotentes, alegavam-se superiores, proclamando força maior. Num dia, desafio aos espíritos foi lançado, numa competição que deveria ser nobre, mas ao perderem, difamações contra nós começaram. Elfos alinharam-se ao nosso lado, enquanto os humanos permaneceram neutros. Com o transcorrer dos anos, a animosidade cresceu, a convivência tornou-se insuportável; em uma reunião de líderes de todas as raças, decidiu-se banir os demônios para terras distantes...

Yuri deteve-se por alguns minutos, seu semblante entristecido. Eu estava completamente absorvida, atenta a cada detalhe que ela compartilhava; essa história, ao longo dos anos, tinha-se perdido nas entrelinhas da memória humana.

— E o que houve? 

Yuri suspirou antes de continuar, sua voz ecoando como um sussurro carregado de memórias sombrias. 

 — ... enraivecidos, sentindo-se humilhados e traídos pelas demais raças, juraram vingança. Os anos se esvaíram, e o eco de seus nomes desapareceu. Contudo, um dia, um rei humano ansiava por uma existência mais longeva, buscando incansavelmente por toda a extensão da terra sem encontrar resposta. Nesse momento, os demônios vislumbraram a oportunidade de seduzir os humanos, levando-os à tentação... naquela época, o rei humano desfrutou de uma vida consideravelmente mais longa, mas tal conquista custou a vida de inúmeras raças... e entre as mais afetadas estavam os espíritos...

Percebi que Yuri se entristeceu, mergulhando em melancolia. Seus olhos denotavam lágrimas, enquanto seus pensamentos vagueavam distantes. No entanto, uma confusão persistia em minha mente: como os espíritos poderiam morrer? Não eram eles seres eternos? E qual era a conexão daquela máquina mágica com a história? Antes que eu pudesse questionar, a Rainha continuou, imersa na narrativa, vivendo cada detalhe como se estivesse presenciando a tragédia e nos meandros da narrativa, Yuri compartilhou o sombrio enredo: 

— Os demônios conceberam uma máquina que explorava a energia de outros seres como fonte inesgotável de mana. Ao tentarem empregar tal artifício, perceberam sua eficácia apenas na raça mais vulnerável, os humanos. Assim, entregaram a máquina ao rei humano, mas exigiram que, em troca, os humanos se alinhassem aos demônios, virando-se contra as demais raças. O Rei, imprudente e cegado pela ambição, aceitou a oferta, lançando mão da inocência de diversos espíritos para atraí-los e explorá-los como fonte de energia... — Em meio à confissão, uma lágrima escorreu pelo rosto encantador de Yuri. Ela suspirou profundamente, na atmosfera carregada de tragédia continuou seu relato.

— Na época, cerca de metade dos espíritos e elfos sucumbiram... minha mãe estavam entre eles...— ela suspirou profundamente, segurando as emoções para continuar a narrativa. — Os humanos tornaram-se poderosos, ultrapassando até mesmo elfos e demônios. Isso provocou temor, pois a ambição humana se assemelhava à dos demônios. Assim, desencadeou-se a primeira grande guerra... Elfos e Espíritos uniram forças para aniquilar a geração de humanos poderosos e eliminar os demônios. Estes, por sua vez, perceberam uma oportunidade de destruir a máquina, enfraquecendo os humanos mais uma vez. Traíram a humanidade, roubando o artefato mágico e levando-o para o reino demoníaco. Contudo, era tarde demais. Os humanos possuíam algo que as demais raças não tinham..."

Na surpresa que se instalou, sem hesitar, indaguei: 

— O que nós temos? 

Yuri, com um leve sorriso, dirigiu seu olhar para mim e respondeu: 

— A herança de Deus, vocês chamam isso de Código Genético. Assim, nunca conseguiríamos erradicar os humanos fortes, a menos que exterminássemos toda a humanidade. Quando os humanos estavam prestes a serem dizimados, percebemos que nossa busca por vingança havia ultrapassado limites, e não podíamos ceifar a vida de inocentes que nada tinham a ver com as escolhas de seus pais. Aquela guerra trouxe consigo uma devastação avassaladora, a terra se via povoada por monstros transformados pelas explosões de mana. Foi então que decidimos propor um tratado de paz, levando em consideração que, com isso vocês voltariam a ter uma expectativa de vida menor.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora