32. Uma revelação

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O salão pulsava com agitação, vozes entrelaçando-se em um murmúrio tumultuado. Indignação e surpresa ressoavam claramente no ar. Algumas vozes proferiam maldições, enquanto outros observavam-me fixamente. Outros ainda desejavam minha morte, julgando-me profanadora do reino espiritual, simplesmente por minha presença ali.

— Este ser não merece estar em nosso convívio, e ousas proclamar que ela é "um espírito reencarnado"? Como te permites nivelá-la a um mero humano? — lamentou, em indignação, uma mulher de cabelos longos e platinados, olhos verdes, assentada em um dos cinco tronos maiores no epicentro do amplo salão, sobre o qual ostentava o símbolo do ar, revelando-se como Rainha do Ar, Ayra.

O salão ecoava com murmúrios indignados, ecoando a tempestade de emoções que tomava conta do lugar.

— Ayra, mantenha a serenidade! — exortou uma mulher de cabelos curtos, tintos de verde-limão, seus olhos adornados em tons alaranjados. — Esta não é a primeira vez que ela nos apresenta tal narrativa. Recorda-te quando selou contrato com aquele humano? A história se repete! Ah... — um suspiro profundo escapou de seus lábios, — minha querida, teu pesar pela perda de entes queridos é palpável, mas por que enxergá-los nos seres tidos como indignos? Não os amavas? Como podes, então, aceitar pactos com esta raça? Coitadinha...

A mulher de cabelos em verde fitava Yuri com piedade, assentada no trono ao lado de Ayra, onde o símbolo da terra marcava sua realeza.

Yuri, em silêncio e concentração, dirigia seu olhar para o grande Ancião. Nada perturbava sua compostura, até que um espirito magnífico, de cabelos rubros como um crepúsculo encantador e olhos dourados como a aurora, assentado no trono ornado com o símbolo do fogo, começou a expressar seus pensamentos.

— Tu deves estar enlouquecida! Espíritos, ao deixarem o plano terreno, não retornam; transformam-se em energia que permeia a natureza. A semelhança desta jovem com Agnis não significa...

Yuri, incontida, surgiu em um lampejo de luz ao lado do monarca dos espíritos do fogo. Em suas mãos, uma espada colossal, forjada de mana pura e condensada, resplandecia com uma beleza em tonalidade lilás.

— Alev, não ousarei permitir que completes essa frase! Posso suportar que te refiras a mim como desejares, mas jamais profira esse nome outra vez! Posso até expirar, mas extirpo qualquer partícula de tua energia. — Yuri, visivelmente transfigurada, revelava uma faceta que antes permanecera oculta sob sua serenidade.

— Já olvidaste o que éramos? Não possuis esse direito! Eu posso evocar esse nome à vontade, pois é o único vestígio que dela restou! — Alev tinha seus olhos repletos de tristeza, cólera e angústia, estava à beira de lágrimas que ameaçavam deslizar por seu rosto.

— EU JÁ ORDENEI QUE PARES! — O grito de Yuri ecoou, suas mãos trêmulas apertavam a espada, agora encostada no pescoço do Rei dos Espíritos do Fogo.

— Pois bem, mate-me. Vamos, mate-me como tu a eliminaste! — Alev falou por impulso, logo após, seu arrependimento se manifestou visivelmente. Ele desejou posar a mão sobre o ombro de Yuri, mas seu orgulho o conteve.

Ao eco dessas palavras, Yuri desabou de joelhos, a espada de mana que empunhava desfez-se em seus dedos. Lágrimas desciam por seu rosto, o olhar perdido e distante como uma estrela solitária no vasto firmamento.

O grandioso salão, outrora repleto de sussurros, agora repousava em um silêncio tão profundo que eu conseguia ouvir as batidas do meu próprio coração. Desconhecia o que se desenrolava ali, quem era Agnis, mas uma certeza me habitava: ela ocupava um lugar de grande importância nos corações ali presentes. Pelos semblantes abatidos, percebia que Agnis era não apenas conhecida, mas profundamente amada.

Minutos se alongaram, onde nenhum verbo se fez presente. Yuri permanecia prostrada, com seu olhar vago. Eu ansiava por chegar até ela, abraçá-la, mas a coragem me escapava. Eu era o epicentro daquele imenso fracasso, mais uma vez, o catalisador de desventuras.

— Ao que parece, Yuri, tu permaneces inalterada, após tantos anos, nossas reuniões desembocam no mesmo desfecho! Mais uma vez, falhaste em provar algo! Apenas instigaste confusão e ressuscitaste memórias dolorosas. Até quando pretendes viver sob essa ilusão? — proferiu o Espírito Ancião, com uma entonação terna e preocupada.

— Yuri, todos nós enfrentamos perdas naquela era, tu não foste a única. É imperativo que aprendas a lidar com a dor de maneira racional. Não acreditas que não desejo ver ver nossa mãe novamente? Acaso não almejo eu o reencontro com Agnis? Por favor, cessa essa autonegação! — pronunciou o espírito assentado no trono adornado com o símbolo da luz, com gentileza em suas palavras.

Yuri, mergulhada em seus próprios pensamentos, absorvia passivamente as palavras dos presentes.

— Antes do caos, questionei tua convicção nas afirmações que proferirias e nas consequências que delas adviriam! — pontuou o Espírito Ancião, concedendo uma breve pausa antes de prosseguir com um tom mais imponente. — Ergue-te! Agora, proclamaremos teu veredicto!

Yuri recobrou a compostura, erguendo-se em silêncio. Aproximou-se de mim e, sem proferir uma única palavra, envolveu-me em seus braços. Respondi ao abraço caloroso, capturando o aroma familiar que emanava dela. Aquele calor nostálgico enchia-me de lembranças, fazendo com que lágrimas aflorassem em meus olhos.

Yuri libertou-me do abraço e dirigiu seu olhar à plateia expectante.

— Antes de proferirem qualquer julgamento, há algo que preciso dizer! Já se indagaram como esta criança humana veio parar aqui? Nunca questionaram as evidências de que ela é um espírito reencarnado? Todos parecem dispostos a acusar antes de buscar compreender.

— YURI! — exclamou o Espírito Ancião, elevando a voz.

Sem temer, Yuri persistiu.

— Esta criança manifestou uma reação ao efeito Luminus!

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora