5. O que aconteceu?

28 7 12
                                    

Naquele local, crescia uma pequena erva chamada Eiris, muito rara e difícil de identificar. Ela se assemelhava à grama comum, mas, graças aos ensinamentos de meu pai, eu conseguia identificá-la com perfeição.

Eiris, uma erva que, quando absorvida, potencializava entre 100% e 1000% a absorção de mana de uma pessoa em apenas 3 minutos. No entanto, se ingerida sozinha, sem outras substâncias, poderia levar ao coma ou à morte em poucos minutos. Muito utilizada na confecção de poções de mana superior, exigindo mais de 100 ervas diferentes.

Meu pai me ensinara como utilizar a Eiris, mas não havia tempo para encontrar outras ervas e preparar poções de alta qualidade. Mesmo se tivesse todas as ervas necessárias, seriam necessárias, no mínimo, duas porções de 100 ml para cada mago suporte acordar. 

Quando alguém entra em estado de insuficiência de mana, o corpo entra em um coma temporal para absorver o máximo de mana, o que pode durar horas ou até dias, dependendo da quantidade de mana no corpo.

Naquela terra de magia e mistérios, eu me vi diante de uma encruzilhada. O tempo escorria como areia entre meus dedos, e as ervas necessárias para a poção curativa eram tão elusivas quanto sombras na noite.

Decidi agir com ousadia. Com as mãos repletas de Eiris, a erva mágica de cura, dirigi-me à imponente tenda do capitão. Lá, sob a luz tênue de velas encantadas, comecei a preparar a porção. Amassei as folhas, misturando-as habilmente em água e mel para suavizar o amargor que poderia revelar minha intervenção.

Minha tarefa estava quase completa quando Gian e Júlio, destemidos soldados do reino, adentraram a tenda, captando o intenso aroma da Eiris. Apressaram-se na minha direção.

– O que você está fazendo? - indagou Gian, retirando a tigela de minhas mãos.

– Você está louca? O que é isso? - questionou Júlio.

– Eiris! - respondi.

Eles ficaram atônitos, inquirindo se já havia ingerido alguma dose da poção.

– O dobro da quantidade que resta na tigela. - retruquei com determinação.

– Tu compreendes as consequências desta erva? - bradou Gian, seu rosto rubro de raiva e preocupação.

– Sim, eu entendo! Mas não havia alternativa. Não permitirei que o capitão pereça! – minha resposta os deixou perplexos. 

Antes de consumir aquela mistura, eu possuía a habilidade de curar ferimentos leves, mas agora meu corpo absorvia mais mana do que podia suportar. Uma sensação avassaladora de desconforto se apossou de mim, meu corpo exalava um suor gélido, minhas pernas enfraqueceram-se, desesperadamente Gian e Júlio ampararam-me em seus braços.

– Me passa o restante, ainda não é suficiente! - implorei, estendendo a mão em direção à tigela.

– Não! Estás louca, irás perecer dessa forma! - exclamou Gian.

– Perecerei de qualquer maneira, não há retorno. Se não permitirdes que eu consuma o restante, todo o meu esforço terá sido em vão.

Seu olhar, marcado por piedade e tristeza, encontrou o meu. Mesmo relutante, Gian entregou-me a tigela, e eu consumi o restante da poção, selando meu destino num mundo de magia e escolhas imprevisíveis.

Naquele instante, uma sensação de extrema intensidade tomou conta de mim, como se meu corpo estivesse prestes a se despedaçar. A mana concentrada alcançava níveis exorbitantes, envolvendo-me em calor, e minha pele começou a emitir um brilho etéreo, aos poucos minha consciência se esvaiu.

Ao despertar, meus olhos ainda embaçados se depararam com a sombra de uma figura que suavemente alisava minha testa com um pano encharcado do orvalho da manhã.

– Capitão! Capitão! Ela acordou!

Os gritos ecoavam enquanto eu despertava, abrindo os olhos em confusão.

Tentando me erguer, percebi que cada osso e órgão doía intensamente. Uma tosse se iniciou, acompanhada por uma dor de cabeça lancinante.

– Graças ao Deus, acordaste! Pensamos que não sobreviverias!

Reconheci a voz de Gian, o mesmo que há pouco clamava por ajuda.

"Capitão? Ele está vivo? Como? Não me recordo de nada. E por que estou viva?" - questionei-me, perplexa.

Antes que pudesse entender, uma figura imponente entrou na tenda. Era ele, verdadeiramente ele. Meu coração saltou de alegria e alívio.

– Como? - murmurei, com a voz embargada.

– Foste tu quem nos salvou! Na verdade, salvaste a todos! - respondeu ele.

– A todos? O que aconteceu? Não recordo de nada!

– Uma descarga de mana varreu o acampamento. Teu corpo era como uma fonte inesgotável, jorrando mana incessantemente. A energia que saía de ti era prontamente absorvida novamente. Isso restaurou a mana de todos num raio de 10 km, curando os que estavam à beira da exaustão, além de todos os feridos. - Gian explicou.

– Quando acordei, tu parecias uma estátua, emanando e ao mesmo tempo absorvendo a mana em volta. Não conseguíamos nos aproximar. Temíamos que não sobreviverias. - o capitão baixou a cabeça.

– E então? - inquiri.

– Havia um jovem garoto. Jamais o vimos antes. Quando percebemos, ele já estava a teu lado, segurando tua mão.

– Onde está ele? O que ocorreu com o garoto?

– Após tocar tua mão, voltaste ao normal. Desconhecemos o que ele fez, ou como conseguiu. Ele simplesmente desapareceu depois disso.

– Como assim desapareceu? Como alguém some sem deixar rastro?

– É um mistério até agora. Procuramos por cinco dias consecutivos e nada.

Permaneci desacordada por cinco dias. Aquela criança que eu decidira cuidar desaparecera após me auxiliar. Sinto-me inútil, prejudicando mesmo quando busco ajudar. De repente, as lembranças da Tia Lia inundaram minha mente, e meu corpo começou a tremer.

O capitão assentou-se ao meu lado.

– Não te preocupes! Assim que tua saúde se restabelecer, viajaremos rumo à capital.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora