37. Um lugar na colina

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Não sei quanto tempo se esvaiu nem o que transcorreu enquanto jazia em inconsciência. Contudo, ao despertar, deparei-me com uma cama modesta. O quarto, com seus detalhes rústicos e escassos acabamentos, exibia uma simplicidade cativante.

Num ímpeto, ergui-me e apressei-me em direção à porta do aposento.

— YURI! YURI! — clamei freneticamente, mas o eco do meu apelo reverberou sem respostas.

Desatei a correr para além da habitação e percebi que me encontrava numa espécie de colina. Aquele local, sem sombra de dúvidas, não pertencia ao reino espiritual; eu estava, novamente, nos domínios humanos.

"Mas como? O que terá acontecido?" - tentei rebuscar alguma lembrança, mas minha mente permanecia um vácuo. Uma dor de cabeça aguda assomou e minha visão se embaçou.

Após agarrar-me ao batente da porta, esforçando-me para permanecer ereta, tudo foi em vão. Desabei lastimavelmente ao solo.

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— Como senti tua falta, como ansiava pelo calor do teu abraço, pelas doces palavras da tua voz, e pela fragrância suave de orquídeas silvestres. Eu te amo além das palavras! — uma voz parecida a minha, entoava essas doces palavras para Yuri.

Eu estava lá, contudo, era como se minha presença fosse mera ilusão; eu podia testemunhar tudo com meus olhos, mas cada ação que executava não emanava verdadeiramente de mim. Subitamente, meu corpo voltou-se para a plateia e, em seguida, para o imponente Ancião, reis e rainhas. Minha boca começou a articular palavras que não eram minhas, cedendo ao controle da entidade que residia em mim proferi:

— A saudade me guiou de volta, mas vós não sois merecedores de compaixão. Rápidos em julgamentos, mesmo após sentir, permitis que vossos corações, encharcados de amargura, obscureçam a visão e entorpeçam o raciocínio. Seres proclamados como luz, agora tingidos pela escuridão, cegados pelo ódio e rancor de uma raça que, no íntimo, sabem não ser a verdadeira culpada. Verdadeiramente, não merecem ser recordados; este é o motivo de eu repousar como...

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Despertei abruptamente, os fragmentos do recente sonho ecoavam em minha mente.

O som suave de panelas em movimento alcançou meus ouvidos, enquanto um aroma delicioso de carne de veado permeava o ar. A noite já havia descido, deixando apenas uma luz tênue adentrar pela fresta da porta do quarto onde eu repousava.

Levantei-me com cautela, ansiosa para evitar qualquer ruído indesejado. Ao abrir a porta com gentileza, o ranger revelou a antiga natureza do móvel. Diante de mim, surgiu uma doce senhora de cabelos grisalhos, adornada com um coque elegante, e olhos rosados encantadores.

— Boa noite, criança! - proferiu com um sorriso afável. 

— Boa noite! A senhora foi minha salvadora? Como vim parar aqui? Onde estamos? E qual é o seu nome? — respondi, entregando-me a uma enxurrada de perguntas ansiosas.

 A gentil senhora sorriu. 

— Parece que alguém acordou cheia de energia! Kkkk — ela riu, virando-se em direção ao fogão, de onde emanava aquele aroma encantador. 

— Peço desculpas! Deveria agradecer primeiro! Muito obrigada por me acolher em sua casa!

— Por nada! Venha, sente-se aqui, e delicie-se com algo. Já se passaram dois dias desde que você chegou aqui. Podemos conversar enquanto saboreamos algo quente! — a amável senhora puxou uma cadeira que estava próxima a uma pequena mesa de jantar, ao lado do fogão.

Acomodei-me à mesa e fui agraciada com um guisado de veado, arroz branco e um punhado de batatas assadas. Aquela refeição singela estava magnificamente temperada; a dança de sabores em minha língua era uma sinfonia cuidadosamente elaborada. A fome que me consumia era comparável à de um servente de construção; parecia que eu não desfrutava de uma refeição há semanas.

— Desfrute mais lentamente, há uma abundância de comida preparada! — a gentil senhora sorriu para mim. 

— Peço desculpas pelos meus modos, estava faminta! — comentei enquanto limpava os cantos da boca e servia-me com mais um punhado do guisado. 

— Compreensível, você passou dias dormindo, e eu não sei por quanto tempo você ficou desacordada na floresta! 

— Floresta? Como assim? — perguntei enquanto saboreava o guisado.

— Você não se lembra de como foi parar lá? Encontrei você no meio da grande floresta, em uma clareira. Ao vê-la, pensei que estivesse morta. No entanto, ao me aproximar, percebi que estava envolta por uma fina, mas poderosa barreira. Talvez seja por isso que nenhum animal a atacou.

— Não me lembro. A última coisa que recordo é estar no R&@<×]#,#)]61&×!

— O que você disse? — ela me indagou, sem compreender a última palavra da frase. 

— Eu disse o 2&#<×72<#>÷[#&. — mais uma vez, a palavra que eu gostaria de pronunciar não saiu como deveria. 

— Hmm! Magia de restrição, isso é bastante incomum. Apenas magos de Rank S conseguem conjurar isso. Você estava envolvida com gente poderosa, não é, criança?

Apenas balancei a cabeça afirmativamente, pois não havia o que responder em relação a isso; provavelmente, as palavras não sairiam novamente. Aquilo devia ser obra dos espíritos, que não queriam que eu revelasse o que havia em seu reino, nem suas histórias.

— Então, isso explica tudo. Provavelmente, sua memória foi bloqueada, e é por isso que não se lembra de como veio parar aqui. Também justifica o fato de não conseguir falar muito do que sabe. Felizmente, conheço uma maga de Rank S que pode tentar reverter o feitiço.

— Sério? Quem é? - perguntei empolgada.

— Eu! HAHAHA! - a velhinha respondeu, soltando uma grande gargalhada.

Quase engasguei ao ouvir sua resposta.

— Coff, Coff! A senhora? - indaguei, surpresa.

— Sim! Aposto que já ouviu falar de mim! Sou Sara Guyve, a Sábia! Mas alguns me chamavam de louca também!

Minhas pupilas dilataram, eu reconhecia aquele nome, era o nome da grande Sábia Louca que havia desaparecido anos atrás, ninguém mais soube de seu paradeiro desde que derrotou sozinha uma Quimera de Rank S.

As Crônicas De Elena - e o Passado Esquecido!Onde histórias criam vida. Descubra agora