Ana Maria
Meu coração parecia que sairia pela boca cada vez que o juiz me olhava. Eu tentava o máximo não ter contato visual. Percebi a sua curiosidade ao saber sobre minha fé. Assim que uma gentil moça me serve, junto minhas mãos.
"O que ela vai fazer, papai?"
"Eu costumo orar antes da refeição, vocês querem fazer comigo?" As meninas se entreolham.
"Mas como faz?" Elas perguntam.
"É só dar as mãos desta maneira." Elas repetiram meu gesto. "Agora é só fechar os olhos." O juiz nos observa, nisso eu falo. "Senhor, agradeço por estar com essa família, pelo juiz que me contratou, abençoe sua vida e a de suas filhas, que não lhes falte nada. Obrigada por este alimento que temos. Amém!" Elas abrem os olhos.
"Depois você ensina como rezar?" Vitória pergunta.
"Ensino sim."
"A conversa está muito boa, mas não vamos deixar a refeição esfriar."
O almoço estava delicioso. Vi então as meninas terminarem e saírem correndo, o juiz elevou seu guardanapo sobre a boca. "Desculpe as crianças, elas saíram desse jeito sem pedirem licença."
"Tudo bem, são só crianças." Disse ele, então dá um meio sorriso e pega o copo de suco. Sou desperta pelo meu celular dentro da bolsa.
"Plim... plim... plim."
"Seu celular!" Ele exclama.
"Eu posso atender?" Ele acena positivamente com a cabeça, e ao pegar minha bolsinha e o meu celular, ele franze a testa e algo me diz que é pelo aparelho que uso. Me levanto indo até a sala. "Lucrecia, o que foi?" Indago.
"Nada, só queria dizer que você está perdendo o almoço no restaurante mais caro da cidade. Aposto que deve estar comendo aquele macarrão instantâneo."
"Lucrecia, é para isso que me ligou?"
"Olha, priminha, se eu fosse você, pararia de acreditar que o juiz algum dia vai olhar para você."
"Do que você está falando?" Disse preocupada. E se ela descobriu que vim fazer entrevista na casa dele? Eu poderia perder o emprego antes de começar, já que não poderia dizer que iria trabalhar para ele.
"Adivinha quem está em outra mesa com uma mulher lindíssima e bem acompanhada?"
"Com quem, Lucrecia? Não faço ideia."
"O juiz está aqui, eu acho bom jogar aquele papel fora, você nunca vai poder estar com um homem como ele, que nunca se interessaria por uma baleia como você." Ela desliga o celular, me deixando triste. Afinal, ela tinha razão, eu nunca chamaria a atenção de um homem, por mais que ela tenha ligado para me provocar dizendo uma mentira, pois ironicamente era eu que estava almoçando com ele. O vejo aparecer como em câmera lenta e se aproximar, notando algumas lágrimas surgirem em meu rosto. "Você está chorando?"
"Não se preocupe, senhor, já vai passar." Então ele dá dois passos e apoia sua mão em meus ombros. Ele era alto, seus olhos param nos meus. Novamente sinto uma corrente elétrica em meu corpo. Ele em seguida sussurra. "Quer conversar sobre o telefonema?"
"Não... Será que posso usar o toalete?"
"Claro... Fica naquele corredor, caso não se lembre."
"Obrigada." Disse, nesse momento, posando minhas mãos onde ele apoiava em meus ombros sobre a palma de sua mão. Foi um toque rápido, porém foi capaz de fazer meu coração acelerar em um ritmo frenético e descompensado.
Aquela menina parecia uma boneca tão frágil. Eu percebi só pela maneira como ficou triste depois de um telefonema. Eu queria saber o que a fez
Ao retornar, acabei ouvindo o juiz explicar a Glória o motivo pelo qual havia me contratado. Ele então se aproximou de mim e disse:— Espero que você não pense que te contratei por pena.
— Jamais pensaria algo assim de você — respondi, admirada, pois percebi que ele realmente era um homem de coração nobre. Nesse instante, uma música turca de uma novela que costumava acompanhar à noite em meu quarto me veio à mente. Então, fechei os olhos por um segundo e me imaginei em um lindo campo de flores. Sentia a grama sob meus pés enquanto a cantora cantava, e eu tocava delicadamente nas rosas. Vi o alto, governante e nobre se aproximando. Eduardo me puxou pela cintura e me envolveu em um abraço por trás, sussurrando em meu ouvido um trecho da música:
— Seria possível o que você diria? Você pode gostar de mim também?
Nesse momento, abri os olhos rapidamente e o encontrei olhando para mim, franzindo a testa.
— Está tudo bem?
— Me desculpe — respondi, envergonhada. Ele então me conduziu até a sala.
— Quer me fazer companhia enquanto preparo a papelada do seu contrato?
— Eu posso? — perguntei, animada. Parecia um sonho estar ao lado dele, um cara que eu só havia visto na revista e achava bonito. Entrei em seu escritório enquanto ele abria a porta.
— Fique à vontade! — exclamou. Sentei-me no sofá onde ele havia me pegado pela mão alguns minutos atrás. Cruzei as pernas enquanto o via dar meia volta para a mesa e ligar o computador.
— Quer ler algum livro enquanto isso?
— Posso?
— Claro, ali na minha estante há muitos clássicos da literatura. Fique à vontade.
— Obrigada! — respondi, indo em direção à estante. Olhando ao redor, notei algumas decorações, como carrinhos de brinquedo e porta-retratos de família. Foi então que vi uma foto de um casal. Seriam os pais dele? Sussurrei para mim mesma.
— Ana Maria, posso te fazer uma pergunta? — Ele se virou, segurando meu currículo.
— Esses números que você me deu como referência, de quem são?
— Da minha tia e de duas primas.
— Menos mal. Foi sua tia ao telefone? Ela brigou com você por estar demorando?
— Não... Claro que não, imagina, já passou — respondi.
— Ok, mas olha, se ela tentar te proibir de morar aqui, posso conversar com ela pessoalmente.
— Não... — disse, interrompendo-o, pois sabia que minha tia faria um escândalo se descobrisse que eu estava trabalhando para Eduardo Guimarães. Ela tentaria fazer o mesmo com Bianca, como havia feito com Lucrecia, tentando enganar um homem rico. Concentrei-me novamente em escolher um livro.
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Um amor precioso (precious love  )
RomanceAna Maria sempre se sentiu a patinha feia da família , ela perdeu os pais muito cedo e desde então foi criada por sua madrinha suas primas sempre zombaram dela por sua aparência por não conseguir um emprego e ajudar nas despesas da casa .Aos dezesse...