XI - Na Palma de Suas Mãos

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Estava me sentindo um intruso ali, e como é óbvio, eu era um intruso ali. Não sabia onde enfiar minha cabeça.

O garoto de cabelos negros me olhava tão atônito quanto eu estava com toda aquela situação.

-O que foi? - escutei a voz de Sunghoon ecoar pelo local calmamente. Então vi ele aparecer no final do corredor. E graças a Deus ele não estava pelado, me sentia aliviado. Ele estava apenas com uma toalha que cobria a parte de baixo de seu corpo. Sem tirar os olhos de mim ele direcionou suas palavras para o garoto ao lado dele - eu acho melhor você ir logo - engoli em seco e vi o menino dar passos largos em direção a saída do corredor.

Acho que ir embora daqui como o garoto seria uma boa ideia. Eu poderia esquecer tudo que eu ouvi rapidamente, por mais que fosse difícil tirar dos ouvidos todos aqueles gritos.

Sentia minha pele queimar, e não era nem pelo calor que estava ali, mas sim pela vergonha.

-Olha, eu não vou contar pra ninguém - comecei a dizer sem jeito sem nem mesmo olhar para o rosto de Sunghoon - isso nem é da minha conta, não era nem pra mim está aqui de qualquer jeito - resmungava comigo mesmo - mas isso não vai sair daqui - disse sentindo meu coração acelerar.

Meu Deus, que vexame.

-Quase que eu esqueço - falei erguendo minha cabeça na direção do mesmo que estava encostado na parede com seu torço a mostra. Mesmo já sabendo que ele não estava totalmente coberto, o nervosismo fez minhas palavras simplesmente irem em bora.

Deus. Tomara que quando eu acordar amanhã, tudo isso não venha passar de um longo pesadelo realista...

Era óbvio que eu não estava no meu estado normal. E até cego via isso.

-O Jay tá lá fora? - ele indagou. Respirei fundo tentando fazer meu coração obedecer meu cérebro pra fazer ele voltar aos seus batimentos normais.

-Ele pediu pra te avisar que ele teve que ir pra casa por causa de um almoço. Ele falou que você entenderia - falei por fim vendo o mesmo concordar com a cabeça.

Ele estava ignorando absolutamente tudo o que eu havia dito antes, ele sabia que eu tinha escutado, e principalmente sabia que eu sabia o que estava acontecendo lá dentro, porém apenas decidiu ignorar. 

-Tá beleza então - ele pigarreou e passou por mim indo em direção aos armários - marcamos outro dia, se tiver tudo bem pra você - escutei ele falar. 

Caminhei até os armários e vi o mesmo já com as partes de baixo da roupa e secando o cabelo com a toalha. 

-Claro, por mim tudo bem - falei sem nem mesmo pensar direito no que ele havia dito. Afinal, quem iria conseguir pensar direito depois de ouvir tudo aquilo? Eu precisava esquecer essa situação o quanto antes, isso já tá mexendo com a minha cabeça - Bom, já vou indo - disse indo em direção a saída. 

Quando o vento do lado de fora bateu em meu rosto respirei fundo, parecia até que estava prendendo minha respiração antes. 

. . .

Quando acordei na manhã seguinte, percebi que aquilo não era um pesadelo, era tão real que eu consegui ouvir aqueles gritos de novo antes de acordar de um pesadelo tenebroso que não vale nem a pena relembrar. 

Ao abrir os olhos me revirei de um lado ao outro da cama. 

Esquece isso logo Sunoo!

Aquilo estava me atormentando muito mais do que eu imaginava, e muito mais do que eu queria.

-Sunoo! Levanta dessa cama - escutei Soobin dizer provavelmente da cozinha. 

-Já vou - disse arrastado assim como estava levantando da cama. 

Sai do quarto e vi Soobin com um avental colocando comida na mesa. Ele estava um pouco engraçado daquele jeito. 

-Eu assinei aquele formulário - ele falou inclinando o queixo para a mesa, onde estava o formulário com a assinatura dele - É amanhã né? essa viagem? 

-Sim... - peguei a folha e a dobrei no meio - obrigado hyung - fui em direção a minha mochila e guardei o papel. 

-Olha só, não que eu esteja preocupado e nem nada, mas, se acontecer alguma coisa, qualquer coisa que você considere como ameaça - ele ergueu o celular dele - me liga beleza?

-Pode deixar - ri da atitude do mesmo. 

Fazia um tempo que alguém não se preocupava assim comigo, e Soobin não sabia, mas eu acho incrível como ele faz isso, mesmo as vezes não querendo demonstrar tanto.

-Agora anda logo pra não chegar atrasado - ele disse me apressando (como sempre).

. . .

SUNGHOON 

Jay me olhava apreensivo, via de longe ele reduzindo os passos antes de chegar onde eu e os meninos estávamos. 

Quase ninguém sabia o fato de eu ser gay, tirando os meninos e a minha irmã, mais ninguém sabia sobre, quer dizer, agora o Sunoo também sabe. 

Não gosto muito de falar sobre isso, não é como se ser gay na Coreia e principalmente "filho" de um líder de uma máfia fosse ser aceito muito bem na sociedade, ainda mais na sociedade a qual eu conheço. 

Então sem sombra de dúvidas eu prefiro ignorar o fato de que o Sunoo escutou de mais ontem a noite. E acredito que ele percebeu que eu quero fingir que aquilo não aconteceu.

-E ai gente - Jay falou chegando forçando um sorriso - Sunghoon...

-Eu acho que a gente tem que conversar né Jay? - ele sabia que eu estava puto com ele, talvez a mensagem que eu havia mandado ontem a noite também tenha dado pra notar isso. 

Fui com o mesmo em direção a lateral da escola, que ficava em direção ao ginásio.

-O que você quer falar comigo? Parecia bem sério na mensagem de ontem...

-Eu juro que só não te dou um soco aqui e agora porque até ontem você tinha sido um amigo foda comigo, mas ontem você literalmente fodeu com tudo - falei sorrindo para o mesmo, mas Deus, como eu estava com vontade de bater nele agora. 

-Ainda bem que eu fui um bom amigo - ele disse nervoso. 

-Que merda Jay - disse em sussurro pra ele - você sabia quem tava lá dentro, porque você não impediu o Sunoo de entrar lá?

-Ele viu alguma coisa? - ele arregalou os olhos - merda, eu tinha feito só uma piadinha por cima, não sabia que ele ia entrar lá 

-Viu não, ouviu. Que cacete - disse me encostando no muro da escola - eu tô perdido se ele contar isso pra alguém. 

-Mas você também é muito idiota né Sunghoon? Quem é que transa em um banheiro público? você ficou maluco? - Suspirei pesado, sabia que eu também não fazia muita questão de ocultar nada, por mais que dissesse o contrário - eu sabia quem tava lá dentro, mas quem ia falar que vocês iam fazer no banheiro? - ele "gritava" em sussurro- Será que o Sunoo é boca aberta? 

-Espero que não - disse com os olhos fechados lembrando da burrice que tive.

-Falando nele - Jay disse ao meu lado. 

Abri meus olhos e inclinei a cabeça. Vi o mesmo descer de um carro amarelo em frente a escola, ele foi na direção dos meninos e ficou lá. 

-Se ele deixar escapar isso pra alguém sem ser a gente, o Jeon vai ficar sabendo, e isso vai da uma merda - Jay falou olhando pro mesmo que estava conversando com Niki. 

-Se eu souber que ele falou alguma coisa sobre isso pra qualquer pessoa eu mesmo mato ele- vi o mesmo de longe rindo de alguma coisa. 

Agora ele tinha algo contra mim, se ele souber que eu faço parte da Label, que é uma das maiores suspeitas de ter matado o pai dele, ele com certeza vai querer ferrar com a minha existência. 

Eu estava fodido. 

. . .

NÃO REVISADA 

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