Cap 23| A verdade.

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Minha vida está completamente de ponta cabeça.

Eu não posso continuar morando com um estranho, minha vida não toma rumo e eu não posso ficar aqui para sempre.
Decido ir até o quarto de Deimos e ele não pode escapar, tenho muitas perguntas.

Bato com força na porta o chamando.
— Deimos, abra!
Ele abre a porta depois de um tempo de silêncio,  o mesmo está suado, como se tivesse feito exercícios.

— O que foi? — Sua expressão parece ser de dor, angústia, raiva, tudo misturado. Não parece nada com o Deimos gentil.

— Quero conversar com você. Ontem mesmo você disse que faríamos isso e hoje você da às costas. — ele suspira, não parece querer falar no momento.
— Fale. Mas já adianto que se fizer perguntas não irei responder.

Sinceramente o que deu nele?

— Bom, para começar quero dizer que tomei a decisão de ir embora. — afirmo brava.

Percebo que o mesmo ficou espantado, acho que o peguei de surpresa.
— Como assim? — ele pergunta confuso.

— Deimos, não nos conhecemos e isso já é um ótimo motivo. Sabe, eu estive pensando, você some as vezes e é impossível te encontrar, como se houvesse algum portal nessa casa.

Começo a me aproximar dele e o mesmo se afasta. Agora estou completamente dentro do seu quarto, em sua cama há várias coisas estranhas, como, garrafas com um líquido preto dentro. Colares estranhos e penas? Penas pretas, enormes demais para ser de um animal.

— Isso é algum tipo de ritual? — aponto para tudo aquilo. — Tanto faz, mais um motivo para que eu vá embora.

Ele continua sem falar nada. Está apenas parado me olhando.

— Você sabia que tem algum tipo de demônio que me visita à noite, não me faça de desentendido pois eu sei que você sabe. Sabe como eu sei Deimos? Não me pergunte isso pois nem eu mesma tenho a resposta. Porém você mesmo já disse que sabe.

Ainda falo brava. Tentando controlar toda a situação. A cada palavra que sai da minha boca, Deimos mostra algum tipo de reação. Como se fizesse algo de errado e está próximo de ser pego.

Eu fiquei muitas noites sozinha aqui. Eu sou esperta Deimos, cresci em um lar onde eu tinha que dormir na mesma posição a noite inteira. Onde eu decorei o andar do meu pai e o andar da minha mãe, eu sabia diferenciar os dois. Eu tinha que ser rápida para esconder as coisas, eu sei observar muito bem alguém. Eu tenho uma ótima memória, sei diferenciar cheiros.

Eu sei que estive sozinha aqui por várias noites, porém sempre ignorei já que eu tinha companhia em meu quarto. Era você, não era? Você que ficava parado no escuro, me olhando dormir. Você que conversava comigo naquela forma demoníaca. Aquela forma que se eu estivesse bem da cabeça, nunca teria aceitado. Nunca teria conversado.
Você não me assusta. Faz muito tempo que parei de ter medo dos monstros que ficam embaixo da cama. Então me fale a verdade.

Você está imaginando coisas. Isso não tem nenhum sentido. — Ele finalmente falou alguma coisa.
Uma pena que é mentira. Consigo vê-lo mentir.

— Mentiroso. Não vai me dizer a verdade?
— Não tem o que dizer, Dalila.
— Esse braço. Eu já vi uma queimadura e isso obviamente não é. Pare de mentir.
— Você não sabe de nada.

— Saberia se você contasse.
— Fica na sua Dalila. Isso não é da sua conta! Vem cá, você só está assim agora. Kallia te falou alguma coisa, o que foi?
— Não é da sua conta!

Estamos quase gritando um com o outro. Eu estou brava mas controlada. Ele obviamente está se segurando também.

— Eu vou embora. Odeio mentiras, e pelo jeito você não irá dizer a verdade.
— Vai, eu não dou a mínima.
— Não parecia isso ontem. — levanto as sobrancelhas, estou perplexa.

— Tanto faz, não temos nada. Eu fui burra em acreditar nos seus olhares, nas suas atitudes e falas.
— Você não aguentaria a verdade.

Verdade? Então tudo que eu disse pode ser verdade?
Eu sabia que não estava louca.
— Como sabe? Tem que me contar para saber.

Tá bom, eu sei só de ver como você é e não, não aguentaria. Quase morreu quando me viu na forma demoníaca pela primeira vez. Isso mesmo, eu sou o demônio que te observava dormir. Esse tempo todo era eu.

Deimos diz isso com um sorriso maligno no rosto. Um sorriso assustador. Por mais que eu soubesse da verdade, ou pelo menos achasse que já soubesse. Ouvi-lo falando isso é diferente. Me deu cala frios.

Tento controlar meu rosto. Para não parecer assustada. Não quero que ele tenha razão.

— Eu fiz uma idiotice. Não deveria ter me aproximado de você e nem te contado isso. Você é fraca, não sabe nem a metade sobre esse mundo.

Eu sou cruel, Dalila. O filho de Satan em carne e osso, está na sua frente. Você não poderia fazer nada se eu tentasse agora devora-lá.
Eu sinto o que você está sentindo, sinto o cheiro, cheiro de medo. Pode controlar seu rosto mas não suas emoções.

Você disse que queria respostas. Estou dando elas. Você aguenta a verdade? Eu sumo pois tenho que me alimentar e a igreja é meu prato principal...

Huh? Se alimentar?
Então tudo é verdade. Deimos é um demônio, e é cruel.

Me afasto dele, lentamente. Não tenho nenhuma certeza de que posso confiar nele. Ele está suando muito e as veias de seu corpo estão saltando. Seus olhos não tem mais a cor escura e sim avermelhada.

Não tenho medo dele, porém sei o que ele é. Não seria seguro ficar aqui.

Quando vejo que já estou no corredor. Saio correndo, não posso ficar aqui.
Olho para trás e ele já está no corredor. Não paro de correr. Consigo sair pela porta e corro até a estrada.

Estou novamente correndo mas agora dele.

Paro de frente para a casa e o vejo na porta. Sei que ele irá vim atrás de mim. Então continuo correndo e me jogo dentro da floresta. Sempre quando eu passava nessa rua tinha medo por isso. Um lado é mansões enormes e o outro tem apenas árvores gigantes.
Pensando bem talvez por isso o mesmo mora aqui.

Fico agachada entre os arbustos e o vejo passar com seu carro. Quando o perco de vista, me levanto. Tenho que voltar rápido para sua casa e pegar algumas coisas.

Antes que eu pudesse sair dali. Avisto Kallia, me olhando fixamente, sorrindo. Minha expressão é de alguém completamente assustada. Quando ele chegou aqui?

— Que coincidência. Eu ia na casa de Deimos novamente, queria falar com ele.
— Então vai. — digo assustada.
— Vejo que agora ele contou a verdade. — Kallia é tão assustador quanto Deimos.
— Como você sabe?
— Bom, o carro dele não está na frente de casa e você  aí. Fácil fácil.
— Então vá embora.
— Não não. Sabe, Deimos está me devendo uma coisinha mas talvez você pague o preço.

O olhar dele sobre mim me dá nojo. Ele começa a se aproximar e eu não fico ali para ver o que o mesmo vai fazer.

Saio correndo, entrando para dentro da floresta. Os galhos no chão cortam minhas pernas. Olho para trás e Kallia vem andando, no meio de uma floresta escura mesmo estando de dia. O mesmo tem uma imagem angelical mas parece ser mais demônio que o próprio Deimos.

Acabo caindo no chão, percebo que torci o pé. Tento levantar mas é falho, meus olhos começam a encher de lágrimas.
— Tadinha, se machucou. — Me assusto ao ouvir isso. Kallia está parado atrás de mim. Como o mesmo chegou tão rápido?

Olho para ele e antes que pudesse assimilar alguma coisa, vejo o mesmo levando sua mão que segura um pano até a minha boca.

Tento sair de seus braços mas ele é forte demais. Minha visão embaça e não vejo mais nada, além de uma imensa escuridão...

Amor diabólico by Cristini Onde histórias criam vida. Descubra agora