nada será como antes

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Há memórias e pedacinhos da vida que merecem destaque hoje e amanhã.


Paris - 2023.

Assim que houve o choque entre os dois corpos, Giovanna sentiu um par de mãos segurando firme sua cintura, sentiu também o cheiro amadeirado que invadiu as suas narinas. Agarrou com força o pescoço daquele que acabava de a salvar de cair estatelada.

Antes de voltar com os pés no chão e adquirir sua postura normal, olhou para o homem e pensou que mal tinha chegado em solo francês e já havia se surpreendido.

— Pardon! (Perdão!) — Ouviu o homem disse com seu francês impecável naquele timbre de voz rouco e grosso. A artista se martirizou por não ter aprendido o básico da língua antes de viajar.

— Desculpa, eu não... — Disse ela que tentou se comunicar com aquele que estava em sua frente.

— Não tem problema, falo português. — Alexandre sorriu. A morena sentiu um alívio ao conseguir entender o que o mais velho falava.

— Você é brasileiro!?

— Sou! — Falou sorrindo da surpresa da mulher. — Tudo bem? Machucou?

— Tudo bem, obrigada!

Sem perceber, os dois ainda se olhavam profundamente e seus corpos continuavam próximos um do outro. Ainda sentia as mãos dele repousando em sua cintura e ela ainda segurava seu ombro.

Quando a morena tinha se questionado o que Paris tinha guardado para ela, não sabia que possivelmente descobriria logo no primeiro dia, nos primeiros minutos na cidade francesa.

De fato, a aparência dele mexeu com ela. Aos seus olhos, ele era um dos homens mais bonitos que já conheceu e achou normal o sentimento. Pois é normal achar pessoas bonitas, como também é comum querer conhecê-las. Certo?

— Alexandre. Alexandre Nero. Prazer! — A morena saiu de seus devaneios assim que ouviu a voz dele. A voz!

— Giovanna Antonelli! — Disse ela. — Me desculpa!

— Imagina, não foi nada! Eu que não prestei atenção. — Assim que ambos se afastaram, ela sentiu falta da proximidade e do calor que os corpos emanavam. Por fora e por dentro. Mal sabia ela que ele sentiu o mesmo

— Obrigada de novo! — Envergonhada com a situação e pela troca, ela mal conseguiu voltar a olhar para os olhos dele. — Tchau, Alexandre!

— Tchau! — Num quase sussurro, foi só isso que conseguiu dizer.

A mulher lhe deu as costas e antes de sumir, olhou para trás e teve a confirmação que ele a seguia com o olhar.

Queria contar para alguém. Sua melhor amiga, Cris, foi a primeira pessoa que veio à sua mente, mas se sentiu ridícula em confessar para alguém sua euforia de adolescente sendo uma mulher de mais de 40 anos. E também o que iria dizer? Que conheceu alguém e ele a impediu de cair? Que ficou ouriçada só por causa disso?

A única certeza que tinha era que queria rever aquele rosto de novo e se possivelmente sentir o mesmo perfume que agora estava impregnado em sua roupa.

Tinha algo nele que a deixava um tanto quanto estarrecida. Os olhos de jabuticaba penetravam a sua alma e parecia descobrir todos os seus segredos e pensamentos sórdidos.

Ele ser brasileiro melhorava tudo. Poderiam conversar sobre muitas coisas e ela não iria ter o trabalho de "estudar" uma língua que mal conhecia.

Veja só, ela estava imaginando planos com aquele que acabara de conhecer e só sabia o nome e que provavelmente não teria a sorte de o ver novamente.

Nero, naquela pequena fração de interação com ela, sentiu o aroma que ela exalava e ficou embriagado pelo cheiro da mulher. Não era nada comparado aos perfumes que já tinha sentindo na pele de outras mulheres e naquele momento, era como se ele quisesse sentir somente o cheiro dela.

Ela era muito bonita e algo o intrigava. Queria saber mais sobre ela: sua idade, de onde era, o que fazia. E ele não imaginava que ela queria o mesmo.

Ele enfim sabia o nome dela, por enquanto poderia se contentar com isso.

Ouvir o seu nome ser declamado pela voz de Giovanna foi como ouvir a 9ª Sinfonia de Beethoven ou a canção mais bonita de Milton Nascimento. E ele poderia facilmente se acostumar a ouvir o seu nome saindo da boca dela.

Estranhamente queria confessar a ela suas verdades em palavras, músicas, com tinta ou com letras cursivas inclinadas. Só sabia que sentia a avassaladora vontade de expressar em arte tudo aquilo que não entendia sentir.

Quando eles se despediram, Alexandre enfeitiçado permaneceu no mesmo lugar. A seguindo com os olhos, viu ela se afastar e antes de ir embora, ela olhou para trás.

Não pode conter um leve sorriso que saiu de seus lábios.

Sendo despertado do momento, seu telefone vibrou no seu bolso direito.

Assim que viu pela notificação sua irmã perguntando sobre ele, onde ele estava, lembrou que tinha marcado com ela de ficar com seu sobrinho naquela tarde para que ela fosse a uma sessão de fotos. E ele ainda nem tinha almoçado.

Ao olhar para frente de novo na tentativa de ainda encontrar Giovanna no seu horizonte, se entristeceu já não tendo a visão da mesma. Ele queria a ver de novo, mas Paris era grande e provavelmente não veria ela tão cedo. Se afligiu com isso, pois queria mais sobre ela.

Precisou ter esperança e contar com a sorte.

Para ele, um homem que até então não tinha sentido a real fama da cidade, pode sentir o coração acelerar de maneira diferente depois de anos. Paris enfim estava o surpreendendo.

Podia ser apenas uma ilusão boba sua, mas quando teve a obrigação de soltar o corpo daquela, notou falta do calor que sentiu em suas mãos e no seu corpo. Tentava distinguir aquilo. Parecia novo.

Na verdade, tudo parecia novo agora. Era estranho. Como alguém que mal conseguia, conseguiu despertar nele a curiosidade? A vontade de querer saber sobre o novo?

Tinha visto em algum lugar que: para conhecer alguém, observe; e ele queria observá-la continuamente depois daquele dia. 

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