Capítulo XVIII

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≈Antônio•

Respiro fundo olhando os olhos dela. Sento no sofá sentindo minhas pernas fraquejarem.

— Por que? - ela pergunta - por que você é o contato de emergência de quem te destruiu como você diz que destruiu? - a voz dela sai áspera e eu ergo o olhar.

— Eu não sei, Amanda. - minha voz sai como um sussurro - você pode me falar o que aconteceu com ela?

Vejo ela me encarar e abrir a boca sem dizer nada por um segundo. Ela limpa a garganta.

— Senhor Antônio, boa noite, sou Amanda Meirelles e estou cuidando da Senhora Michelle essa noite. Ela teve um acidente de carro. A Michelle deu entrada com um grave traumatismo craniano.

— Amanda. - tento falar ao ver que ela parece brava.

— Me deixa finalizar. - ela fala erguendo um dedo - Conseguimos estabilizar o quadro dela, mas a saturação decaiu rapidamente e precisei entuba-lá. Induzimos o estado de coma para minimizar os danos neurológicos e esperamos que em 48 horas teremos o primeiro parecer. - ela caminha até mim entregando uma ficha - eu preciso da sua assinatura na admissão dela e nos tratamentos que estamos fazendo. Você tem conhecimento de alguma alergia que ela tenha?

— Não.

— Certo, anote isso na área determinada. Você tem alguma dúvida?

— Ela fez uma cirurgia aqui alguns anos atrás de apendicite.

— Oi? - ela pergunta confusa.

— A Michelle fez uma cirurgia aqui e eu fui o acompanhante, provavelmente por isso me ligaram. Eu tinha uma procuração para responder legalmente por ela pois ela estava indo para um intercâmbio. Não nos casamos, se essa era a sua dúvida.

— Eu não tenho dúvida alguma Antônio, sou a médica e ela a paciente. Estou fazendo meu trabalho e comunicando ao responsável dela.

— Amanda, eu não vejo a Michelle a no mínimo três anos.

— Antônio, não precisa se justificar pra mim. Está tudo bem. Terminou? Eu tenho que retornar.

Concordo e ela pega a papelada da minha mão. Seguro o punho dela.

— Não precisa ficar com ciúmes, nunca menti pra você, sou solteiro, sou o contato por causa disso com certeza.

— Não existe ciúmes aqui, Antônio. Te mantenho informado caso aconteça alguma mudança.

Ela sai da sala rapidamente e fico sentado por alguns segundos respirando fundo. Agora pronto, mais isso.

≈Amanda•

Sinto meu peito queimar e minha pele esquentar. Caminho até a sala de descanso e sento na cama respirando fundo e contando até 10. Não entendia minha reação. Deveria estar preocupada com a paciente. Não deveria ser egoísta, ela estava machucada, mas eu só conseguia pensar que ele estava me escondendo algo. Ou havia mentido sobre algo, não fazia sentido ele ser chamado como responsável pela ex (tóxica como ele dizia) se não a via há anos.

Era como se houvesse um anjinho e um diabinho nos meus ombros. O anjinho falava que a história de ter sido o último acompanhante era completamente plausível. O diabinho falava que algo estava sendo escondido de mim, que eles estavam se falando, que eles eram legalmente casados e ele foi chamado por causa disso.

Minha razão diz que o ciúmes não faz sentido já que somos amigos e não temos nada. A emoção diz que eu to sendo uma otária.

Volto para a UTI e vejo Alice se aproximar.

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