≈Amanda•
Dona Wilma havia chego há dois dias e desde então nossa vida girou em torno de preparar o psicológico e o físico de todos para a maratona médica que enfrentaríamos. Quando um membro da família fica doente, todos ao redor adoecem um pouquinho. Seja de preocupação, seja de nervoso ou ansiedade.
Aurora já estava com 7 meses e a introdução alimentar facilitou o alívio da culpa que eu sentia a cada vidro de leite retirado. Eu ficaria com Antônio integralmente durante o período de condicionamento e os primeiros 15 dias pós transfusão. Não iria arriscar deixa-lo sozinho, apesar de não ser permitido acompanhantes, mas, ter trabalhado no mesmo hospital em que ele faria o tratamento me concedeu certos privilégios.
O período de condicionamento* era uma fase crítica e eu estava me preparando para vivê-la com ele de uma forma que não deixasse traumas em nosso relacionamento ou no psicológico dele.
(N/A: *O paciente é submetido a um tratamento no qual recebe quimioterapia em altas doses, cuja finalidade é destruir a medula do doente e as células malignas. Por se tratar de uma dose muito mais elevada do que a quimioterapia tradicional, seus efeitos colaterais tendiam a ser maiores também. Dura de 1 a 7 dias dependendo do tratamento, do Antônio serão 4 dias)
Tudo já estava pronto e os dias avançavam com rapidez. Em 48 horas faríamos a internação e a partir dai estaria tudo nas mãos de Deus e da medicina.
Antônio dormia agitado e eu tirava o último vidro de leite antes de deitar. O relógio marcava quase meia noite. Armazeno o leite no congelador e passo no quarto de Aurora, observando ela suspirar tranquila. Minha mãe dormia na cama auxiliar e dona Wilma no quarto de hospedes/studio.
Volto para o quarto e fecho os olhos ajoelhando ao pé da cama.
Pai,
Em algumas horas começaremos uma nova batalha árdua e talvez a mais complicada desde que nos conhecemos. O Senhor esteve a frente e nos guardou em todas até aqui, peço que interceda novamente, guiando os médicos e nos dando sabedoria para lidar com cada efeito colateral, dor, medo e angustia.Acolhe o Antônio nos teus braços e tranquiliza o espírito dele, dê discernimento, calma e sabedoria. Ameniza as dores e os medos.
Acolhe e tranquiliza o coração da Dona Wilma que tem visto o filho passar por essa provação.
De forças a minha mãe e a mim, para que consigamos sustentar os dias e dar suporte a eles dois.
Eu agradeço por todo o suporte até aqui e peço que o senhor esteja a frente de cada escolha e consequências daqui em diante.
Amém!
Sinto meu coração clamar por um lugar específico e pondero por um segundo se devemos ou não fazer isso. Respiro fundo. Beijo a testa dele, vendo-o abrir os olhos e tentar se localizar.
— Vem... - falo baixinho - vem, amor.
Ele levanta meio desnorteado, sem entender nada e pego uma blusa de frio pra gente.
— O que está acontecendo? - ele pergunta confuso.
— Só vem, não fala nada.
Entramos no carro e pela primeira vez pegamos a estrada com ele no passageiro.
— O que aconteceu, amor?
— Nada. - sorrio.
Quando pego a rodovia vejo ele entender e suspirar.
— A Aurora? - ele questiona.
— Talvez seja a última vez que poderemos ir lá em muitos meses. Mandei uma mensagem para minha mãe avisando que voltaremos ao amanhecer.
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A Cura
أدب الهواةA cura é muito mais do que o objetivo, é se permitir viver a plenitude do processo. Quando Antônio descobre que está doente, ele perde todas as certezas da própria vida. Quando Amanda sofre uma grande desilusão, ela resolve ser livre. Um em busca de...