Capítulo XLVIII

949 84 46
                                    

≈Amanda•

Dona Wilma havia chego há dois dias e desde então nossa vida girou em torno de preparar o psicológico e o físico de todos para a maratona médica que enfrentaríamos. Quando um membro da família fica doente, todos ao redor adoecem um pouquinho. Seja de preocupação, seja de nervoso ou ansiedade.

Aurora já estava com 7 meses e a introdução alimentar facilitou o alívio da culpa que eu sentia a cada vidro de leite retirado. Eu ficaria com Antônio integralmente durante o período de condicionamento e os primeiros 15 dias pós transfusão. Não iria arriscar deixa-lo sozinho, apesar de não ser permitido acompanhantes, mas, ter trabalhado no mesmo hospital em que ele faria o tratamento me concedeu certos privilégios.

O período de condicionamento* era uma fase crítica e eu estava me preparando para vivê-la com ele de uma forma que não deixasse traumas em nosso relacionamento ou no psicológico dele.

(N/A: *O paciente é submetido a um tratamento no qual recebe quimioterapia em altas doses, cuja finalidade é destruir a medula do doente e as células malignas. Por se tratar de uma dose muito mais elevada do que a quimioterapia tradicional, seus efeitos colaterais tendiam a ser maiores também. Dura de 1 a 7 dias dependendo do tratamento, do Antônio serão 4 dias)

Tudo já estava pronto e os dias avançavam com rapidez. Em 48 horas faríamos a internação e a partir dai estaria tudo nas mãos de Deus e da medicina.

Antônio dormia agitado e eu tirava o último vidro de leite antes de deitar. O relógio marcava quase meia noite. Armazeno o leite no congelador e passo no quarto de Aurora, observando ela suspirar tranquila. Minha mãe dormia na cama auxiliar e dona Wilma no quarto de hospedes/studio.

Volto para o quarto e fecho os olhos ajoelhando ao pé da cama.

Pai,
Em algumas horas começaremos uma nova batalha árdua e talvez a mais complicada desde que nos conhecemos. O Senhor esteve a frente e nos guardou em todas até aqui, peço que interceda novamente, guiando os médicos e nos dando sabedoria para lidar com cada efeito colateral, dor, medo e angustia.

Acolhe o Antônio nos teus braços e tranquiliza o espírito dele, dê discernimento, calma e sabedoria. Ameniza as dores e os medos.

Acolhe e tranquiliza o coração da Dona Wilma que tem visto o filho passar por essa provação.

De forças a minha mãe e a mim, para que consigamos sustentar os dias e dar suporte a eles dois.

Eu agradeço por todo o suporte até aqui e peço que o senhor esteja a frente de cada escolha e consequências daqui em diante.

Amém!

Sinto meu coração clamar por um lugar específico e pondero por um segundo se devemos ou não fazer isso. Respiro fundo. Beijo a testa dele, vendo-o abrir os olhos e tentar se localizar.

— Vem... - falo baixinho - vem, amor.

Ele levanta meio desnorteado, sem entender nada e pego uma blusa de frio pra gente.

— O que está acontecendo? - ele pergunta confuso.

— Só vem, não fala nada.

Entramos no carro e pela primeira vez pegamos a estrada com ele no passageiro.

— O que aconteceu, amor?

— Nada. - sorrio.

Quando pego a rodovia vejo ele entender e suspirar.

— A Aurora? - ele questiona.

— Talvez seja a última vez que poderemos ir lá em muitos meses. Mandei uma mensagem para minha mãe avisando que voltaremos ao amanhecer.

A CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora