A Cura

Capítulo XXI

≈Antônio•

Arrumamos a bagunça pós sexo e deitamos no sofá, pouco tempo depois o porteiro interfona falando sobre a entrega. Amanda desce para buscar enquanto eu me encarava pela última vez no espelho.

— Antônio? - Amanda chama abrindo a porta do apartamento.

— Oi! - grito do banheiro.

Ela entra com a sacola e nos encaramos alguns segundos.

— Vamos colocar Love By Grace para tocar? - falo brincando.

— Nossa, não! - ela balança a cabeça enquanto faz "não"com o indicador.

— Tô brincando - sorrio fraco - vamos fazer logo isso.

— Você quer se ver? - ela pergunta.

— Não... prefiro ver quando você terminar. - falo suspirando e fecho os olhos quando ela liga a maquininha.

Flashback on

— Eu vou ficar careca?

— Cada corpo reage de uma forma, Antônio. Pode ser que sim, pode ser que não. Depende muito da sua reação a quimioterapia.

— Eu não quero ficar careca, tem algo que a gente consiga fazer? Uma forma de controlar, de barrar esse efeito colateral?

— Infelizmente não, Antônio. - o médico brincava com a caneta na minha frente e eu tive que me controlar para não chorar. Me sentia ridículo de dizer que esse era sim um fator que me preocupava. Apesar de não ser um dos mais vaidosos eu tinha sim pontos que batiam forte na minha autoestima. Sabia da minha perda muscular e de como deveria reduzir drasticamente meus treinos e minha massa corporal. Sabia como o tratamento era doloroso e invasivo. Lidar com a mudança física, com a perda de cabelo, era doloroso. Um dos meus medos era me perder.

Encarei o médico alguns segundos antes de voltarmos ao assunto quimioterapia e todos os seus efeitos colaterais. Respiro fundo mentalizando que seria somente uma batalha.

Flashback off

≈ Amanda•
Sinto as lágrimas acumularem nos meus olhos quando começo a movimentar a maquininha da nuca a metade da cabeça dele, sabia o quanto ele era vaidoso com esse cabelo e como isso iria atingir diretamente a confiança dele. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e tento secar sem que ele perceba minha emoção.
Percorro toda a cabeça dele com o equipamento vendo cada uma das mechas cairem no chão.

— Vou ficar horrível com cabeça de ovo.

— Não vai não, para.

— Não precisa me agradar, eu sei que vou. Já que você disse que me ama também, é agora que vamos testar esse amor.

— Para de ser besta.

— Imagina se eu tivesse raspado antes de você voltar da viagem? Você iria tomar um susto tão grande.

— Ah, só estranharia.

— Iria achar que eu estava com outro tipo de doença, eu te disse que estava com os exames em dia, só não disse quais.

— Antônio! - dou risada e finalizo a última parte, limpando o pescoço dele. - acabei.