≈Amanda•
Antônio busca Aurora e a acalma o quanto pode mas eu sei que é a mim que ela quer. Vejo ele trazer o serzinho até a sala e me olhar como quem pede socorro. Sorrio concordando e ele me entrega o corpinho que relaxa e se conecta ao meu seio de uma forma intensa. Antônio se senta ao meu lado, massageando meu ombro de uma forma suave que beira o carinho e eu fecho os olhos sentindo as lágrimas se acumularem.
A playlist segue baixinha e me vejo ali, na sala, com duas das pessoas que eu mais amo e todo o amor do mundo. Meu peito queima e agora minha vontade de chorar era gratidão. Era um dúbio sentimento muito confuso.
Antônio prepara um chá e quando retorna Aurora já está dormindo. Bebemos o chá em silêncio.
— Amor, escreve cartas... eu sei que falar pode ser mais difícil do que escrever. Eu estou aqui se você quiser conversar, mas... bom, escrever me ajudou. Pode te ajudar também.
Olho pra ele e sorrio, sim, poderia ajudar mesmo.
— Farei isso. - me deito no colo dele e encaixo Aurora na minha frente.
— Meu mundo no meu colo... - ele suspira me apertando - eu sonhei tanto com isso, que bom que não é sonho.
Beijo a mão dele que passeia pela minha bochecha e respiro fundo. Pedi tanto a Deus que ele estivesse aqui para curtir cada momento comigo e com a nossa filha, era incrível que isso não fosse mais só um sonho ou desejo.
≈Antônio•
Amanda e eu nos encontramos em um lugar de cura muito doloroso. Enquanto eu precisava da cura física, Amanda ansiava pela cura psicológica. Era mais do que nítido que ela não estava bem. Os percalços da gravidez não planejada, o medo, minha doença, ter que deixar o emprego por causa da placenta prévia, tudo isso caiu como uma bomba na mente dela quando o puerpério chegou sem pedir licença.
Os dias passavam e eu tentava, cada vez mais, ajuda-la. Queria ser o sol da vida dela assim como ela era o meu. Era angustiante assistir ela se perder cada vez mais e eu não estava disposto a soltar a mão dela.
Amanda dormia no quarto depois de, mais uma, noite em claro e eu conversava com dona Regiane na cozinha.
— Eu realmente não sei o que fazer, já pedi para ela buscar ajuda profissional mas ela se nega, diz que vai melhorar sozinha. Uma médica que recusa a medicina. Eu realmente não entendo! - levo minha mão aos olhos em um claro gesto de esgotamento e minha sogra suspira.
— O puerpério dela não está sendo fácil. Foi muita coisa ao mesmo tempo para entender. Seja a gravidez, a relação de vocês que virou um noivado em 9 meses, os medos, mudança corporal. Você precisa ter paciência.
— Eu estou tendo! Eu faço tudo por ela e pela Aurora, tudo. Tiro a última gota do meu sangue por elas... mas parece - suspiro frustrado - parece que não é o suficiente. Quanto mais eu tento me aproximar, mais ela se afasta. Ela tem passado as noites em claro enquanto eu durmo. Quando me aproximo ela troca de cômodo. Quando chego do trabalho ela se isola. Eu não sei o que eu fiz. Eu não sei o motivo dela estar agindo assim. Eu realmente não sei.
Um mês havia se passado desde a madrugada em que conversamos, teoricamente os quarenta e cinco dias do puerpério já estavam acabando, e tudo parecia estar ficando pior. Amanda criou um muro enorme entre nós e cada vez que eu tentava me aproximar ele parecia ficar mais alto. Não conversávamos. Não nos tocávamos. Até o meu abraço ela negava. Eu estava ao ponto de enlouquecer.
— Tenha calma, só te peço isso... vai passar.
— A questão é: quando?
Ela me olha com carinho e sorri fraco.
— O sol sempre chega depois de tempestade. Só... tenha calma.
Suspiro e levanto para buscar Aurora que chorava no quarto. Troco a fralda e converso com ela até a calmaria chegar.
— Acho que você é a única mulher que parece não me odiar aqui, coelhinha. - sorrio quando ela faz uma careta de força - ou não- dou risada quando vejo o presente que ela deixou na fralda. Troco novamente e levo ela até o banheiro para um banho.
Amanda levanta e a vejo observar da porta.
— Oi, meu amor. Olha a mamãe - balanço a mão da coelhinha em um tchau e Amanda sorri de leve.
— Oi, meus amores. Vou arrumar a roupa dela. Queria dar uma voltinha no parque... só nós três.
Ouvir ela falar assim aquece meu coração e tenho um leve vislumbre do sol.
— Claro, amor. Vamos!
≈Amanda•
Flashback on
≈ 10 DIAS ANTES ≈Minha mãe ainda estava aqui e sinceramente, apesar de amar a ajuda, eu estava de saco cheio. Ela e Antônio não paravam de me questionar, de dizer o que eu deveria, ou não, fazer e isso só me irritava cada vez mais. Minha vontade era sair gritando na rua.
Antônio chegou do trabalho e pela primeira vez vi ele desistir de tentar me dar até um oi. Isso me dilacerou. Por mais que eu soubesse que os dias estavam sendo difíceis ele sempre tentou normalizar tudo, seja com palavras ou gestos. Hoje ele havia chego e ido direto para o banheiro. Levou quase uma hora no chuveiro e depois de comer sentou na sacada mexendo no celular.
Tive que controlar meu sangue por mais de uma vez para não jogar o aparelho pela janela. Minha vontade era gritar com ele, brigar, xingar. Mas a presença da minha mãe tornava tudo mais robótico.
Vi ele bloquear o aparelho quando me aproximei e desbloquear quando me afastei. Inevitavelmente os traumas gritaram por todo o meu corpo e um alerta vermelho gigantesco brilhou nos meus olhos.
Testei mais algumas vezes e a sequência de bloqueio e desbloqueio se repetiu, fazendo todo o meu corpo se arrepiar e um medo gigantesco invadir cada célula do meu sangue.
Esperei ele dormir e lutei entre a razão e a emoção por diversas vezes até que a emoção venceu. Desbloqueei o celular e a conversa aberta era de uma tal de Luana.
Engoli em seco até as lágrimas brotarem e meu corpo chacoalhar em um pranto enorme. Antônio acorda assustado e procura o motivo do meu choro. Jogo o celular no colo dele e vejo ele olhar confuso a conversa.— O que você... - a voz dele falha.
— Você está me traindo? - pergunto como se navalhas cortassem todo o meu peito.
— É claro que não, Amanda. Pelo amor de Deus.
— Que porra é essa então? - falo alto e vejo ele arregalar os olhos.
____________________________________Bom dia 👀
Então...
É isso 👀
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A Cura
FanfictionA cura é muito mais do que o objetivo, é se permitir viver a plenitude do processo. Quando Antônio descobre que está doente, ele perde todas as certezas da própria vida. Quando Amanda sofre uma grande desilusão, ela resolve ser livre. Um em busca de...