Capítulo XL

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≈Antônio•

Faço menção de ir até o quarto pela vigésima vez verificar se Aurora estava bem e Amanda segura o meu braço.

— Amor, ela está bem.

— Ela não chora, já tem quase 30 minutos que você colocou ela no berço.

— Exatamente, se ela não estivesse ela iria chorar.

Um choro agudo rompe o silêncio do apartamento e eu ergo uma sobrancelha pra ela.

— Viu?

Amanda me fuzila com o olhar e eu levanto seguindo rápido até o cômodo mas, Dona Regiane, que estava no banheiro, havia chego primeiro.

Ela balança Aurora com carinho e eu sinto meu peito queimar com... ciúmes?

Sim, ciúmes. Era o meu bebê chorando e sendo acalmado por outra pessoa. Volto emburrado para sala e Amanda me olha confusa.

— O que foi?

— Sua mãe já pegou ela. - cruzo os braços e Amanda ri baixinho.

— E você ficou com ciúmes?

— Não!

— Não? - ela ri de novo.

— Para de rir! - reviro os olhos.

— Amor, ela não vai fugir. Ela é nossa.

— Mas eu queria pegar ela. - Amanda acaricia meu braço e beija meu pescoço.

— Eu te amo e amo sua versão pai super protetor...

Suspiro frustrado e entendo o quão besta eu estava agindo. Dona Regiane caminha sorridente até a sala com Aurora nos braços já em silêncio.

— Era a fralda, ja troquei. - ela entrega Aurora para Amanda e me sinto culpado por um segundo pelo sentimento.

Dona Regiane se senta do outro lado da filha e auxilia Amanda na amamentação, ela chora, como das outras vezes, e sinto meu peito apertar por não poder fazer nada.

Levanto para preparar nossa comida e coloco um som baixinho que invade a cozinha e me faz agradecer por cada "novidade" e sentimentos que são despertados por um ser tão pequeno.

Recebemos ligações de amigos e familiares ao longo do dia e minha mãe avisa que viria nos ajudar assim que o resguardo de Amanda terminasse e dona Regiane fosse embora. Amanda conversa empolgada e agradece.

≈Amanda•

Faziam exatos 15 dias que havíamos chego em casa com Aurora e ela era ótima. Linda, chorava muito pouco. Era muito mais perfeita do que eu imaginava. Antônio me ajudava em tudo e eu realmente não entendia o motivo de ter um buraco no meu peito me sugando diretamente para um local que eu definitivamente não queria e não gostaria de estar.

Eu tinha plena certeza sobre o meu privilégio e o quanto eu não podia reclamar. Mas... por que eu queria? Por que eu queria chorar? Por que eu queria deitar na cama e me cobrir por horas, ignorando a existência do mundo e de tudo ao meu redor?

Eu não entendia esse sentimento e pior ainda, eu me culpava a cada segundo por sentir.

Eu tinha um homem que me amava.
Eu tinha uma filha linda.
Eu tinha uma rede de apoio excepcional.
Eu tinha dinheiro para viver bem.
Eu tinha uma casa linda.
Eu tinha tudo o que precisava para ser feliz.

Por que eu sentia que minha felicidade estava sendo um fingimento?

Os dias se arrastavam e a amamentação não estava sendo fácil, cada vez que Aurora chorava era como se facas atravessassem o meu cérebro. Eu sabia da dor que viria e meu corpo travava. Não me sentia viva.

A água caia no meu corpo e eu chorava sozinha embaixo do chuveiro sentindo culpa por algo que eu nem entendia o motivo.

Eu deveria estar feliz.
Eu deveria.
Mas eu não estava.

Onde estava a felicidade então?

O puerpério era como um grande caminhão de cimento que eu me sentia descarregando sozinha. Mas eu não estava sozinha, por que me sentia assim?

A constante sensação de que eu havia me perdido de mim martelava minha mente.

Esfreguei a barriga flácida e senti as lágrimas pingarem ainda mais fortes.

O que estava acontecendo?

≈Antônio•

Sinto Amanda se ajeitar na cama e olhar Aurora no moisés. Ela esfrega o olho com sono e eu assisto quando ela acaricia a mão da bebê de leve.

Vejo ela levantar e sair do quarto e fico desperto observando nossa filha. Amanda demora alguns minutos e dou uma última olhada antes de levantar e descobrir onde ela estava.

A encontro na sacada, chorando agarrada na mantinha do sofá e tenho um deja vu instantâneo.

— Amor? O que houve? - falo baixinho e ela se assusta com a minha presença.

— Oi amor, nada. Pode dormir.

— Não consigo sem você. - sorrio sabendo que ela entendeu a referência e vejo as lágrimas dela se intensificarem. - vem ca!

Chamo e ela entra, sento no sofá e coloco ela no meu colo, meus dedos acariciando os cabelo loiros parcialmente desgrenhados.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não... e é justamente isso que não estou entendendo.

— Você quer me contar o que está sentindo?

— É um aperto no peito, uma dor... um vazio. É como se eu não estivesse aqui. Mesmo estando. Uma sensação de que eu estou perdida.

As lágrimas dela pingam na minha perna e sinto meus olhos marejarem.

— Eu estou com você... se você está perdida eu vou te encontrar.

Ela sorri e beija minha mão, entrelaçando nossos dedos.

Ligo a playlist baixinha e recito pra ela, exatamente como ela fez meses atrás, a nossa música.

— Eu nem pensei já estava te amando. Meu corpo derretia de paixão... - Amanda sorri e fecha os olhos- Queria estar contigo todo instante, te abraçando, te beijando, te afogando de emoção.

— Obrigada... - ela agradece suspirando e ficamos em silêncio, saboreando o momento, até que um choro agudo rompe a noite.

— Fica aqui, eu pego ela.
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Boa noiteeeee

Última do dia🤧🤍

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