Capítulo 18

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Liu Yuanqi

Fechei a porta atrás de mim. Por alguma razão, além da compreensão natural, eu sentia que havia algo errado com Bai Huowu. Avancei pelo corredor. Aquela promessa foi estranha e me deu uma péssima sensação, era como se mãos invisíveis estivessem apertando meu coração. Era um prenúncio. Eu iria perdê-lo. Parei há alguns passos de distância dos degraus que desciam, rumo ao segundo piso da estalagem.

Me virei e encarei a porta de correr do quarto alugado para Bai Huowu. Fluxos de pensamentos me inundaram, eu não podia perdê-lo, preciso reforçar a guarda ao seu redor ou... Ou levá-lo comigo para a Seita Sol Poente. Isso parecia uma boa ideia, tê-lo ao meu lado era uma garantia a mais que ele ficaria bem, que nada de mal lhe alcançaria, não sem antes me enfrentar.

– Até que é uma boa ideia.

– Senhor Liu? Falando sozinho? – uma criança indagou.

Meu olhar recaiu sobre o menino que subia os degraus. O pequeno havia sido encontrado em cima de um cavalo. Era algo em torno do meio-dia, sol a pino entre as areias douradas. No horizonte, uma mancha marrom que cresceu. Estava em movimento. Era um cavalo e em cima dele, um menino mirrado. Quando a caravana se aproximou, o garoto começou a chorar dizendo que "um homem bonito e bondoso o salvou", além de implorar para que retornássemos e salvássemos seu herói. Ele falava sobre o Rio Cristal e sobre a Vila Cristal, como se a conhecesse, mas nunca a tinha visto com os próprios olhos, havia ouvido histórias e eu já desconfiava quem as contou.

– Deveria está com as outras crianças para tomar café da manhã. – repreendi.

– Eu quero ver o tiozinho. – falou o menino decidido, seus lábios num beicinho emburrado. Suas mãozinhas, se agarraram em minhas vestes. – Ele está bem, não está?

– Hm, já está acordado.

A criança arregalou os olhos, um sorriso iluminou seu rosto e ele não esperou, mas correu até alcançar a porta, a escancarando. Eu fiquei admirado com a velocidade, ele seria um exímio cultivador. Sacudi a cabeça e o segui.

– Não deve incomodar um doente! – repreendi.

Avancei e parei no batente da porta. A cena me surpreendeu, o menino tinha se jogado em Bai Huowu, o qual o segurou, num abraço apertado e depois riu.

– Aya! Vejo que alguém andou lhe dando mais pães, está tão pesado.

– Não estou não! Estou com raiva! O tio me abandonou, eu pensei, pensei que. – a criança começou a soluçar, lágrimas ameaçavam cair.

Eu abri a boca para apaziguar o choro do miúdo, quando Bai Huowu fez uma pretensa mágica, tirando uma bolinha de vidro da "orelha" da criança. A qual parou de prantear, em vez disso, seus olhos cintilaram, como as estrelas, estava animado.

– Gosta?

O menino assentiu, um sorriso florescendo no rosto magro.

Bai Huowu abriu e fechou a mão e logo tinha três bolinhas de vidro, a superfície era lisa e o interior multicolorido, lembrando as tonalidades do arco-íris, elas estavam entre os seus dedos. Havia um sorriso amplo em seu rosto, mesmo que sombras ainda pairassem. O que o preocupava?

Me angustiava não saber.

– Vamos brincar? Quem ganhar, leva as bolinhas. – propôs enquanto cutucava a barriga da criança.

O garotinho riu em resposta.

Pisquei e absorvi a cena. Seus risos, seus sorrisos enquanto brincavam lançando as bolinhas, uma batendo na outra e rolando pelos lençóis, tudo se tornou pinceladas primorosas na tela de um quadro. Era a perfeição, que nunca imaginei, se materializando diante de mim.

A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora