Capítulo 20

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Bai Huowu

O céu estava iluminado pelas estrelas, a lua se erguia majestosa, estava cheia e derramava seu luar como prata ao chão. Eu não conseguia dormir, então utilizava meu tempo de outra forma. Lápis corria pelo papel, traçando a espada perfeita para as mãos de Liu YuanQi, o punho seria de ouro branco, seu estojo seria de madeira lisa e de cor gelo, com base de ouro branco. Seria elegante e belo, como a própria figura do imortal.

O desenho estava pronto, agora só faltava fazê-la.

Fechei a caderneta, guardando nas dobras do peito e coloquei o lápis atrás da orelha como um velho hábito, que me trazia certo conforto. O que eu faria agora? Tamborilei a superfície do parapeito da sacada.

Meus pensamentos acelerados se voltaram para outra questão. Quanto tempo eu ainda tinha? Talvez cinco meses, sendo bem esperançoso. Parei de batucar e encarei a ponta dos meus dedos, eles estavam pretos, apodrecendo gradualmente. Logo seria a mão inteira, depois o braço, por fim o corpo. Quanto mais tempo eu insistisse em ficar, mais eu testemunharia o processo de decomposição.

Ouvi batidas na porta, o fluxo dos meus pensamentos se quebraram, me levantei e deslizei a porta e lá estava o imortal, sua postura altiva e requintada, como sempre. Belo, no sentido mais perfeito da palavra. Franzi o cenho. Uma visita tão tarde?

Abri a boca para inquirir se houve algum problema, quando ele se aproximou e me beijou. Surpresa me sacudiu na forma de um pequeno tremor. Eletricidade me percorreu, arrepiando cada pelo do meu corpo. Coração gritando nos meus ouvidos, TUM-TUM-TUM. Intuitivamente, nossos corpos se aproximaram, como dois ímãs se atraindo. Minhas mãos subiram pelas suas costas, sentindo seu calor contra as minhas palmas. Surpresa sendo lentamente substituída pelo prazer. Meus dedos se infiltraram em seus cabelos, o fazendo se inclinar mais em minha direção, intensificando o beijo. 

E ainda assim, eu queria mais.

Liu Yuanqi tomou a iniciativa de se mover, comecei a dar passos para trás, ainda o segurando, não permitindo que nossos lábios se separassem um só centímetro. Assim começamos a adentrar meu quarto. Abri minha boca num convite silencioso, que foi prontamente atendido, senti sua língua entrando na minha boca, me provocando. Soltei um gemido de satisfação. Eu deveria admitir, que os meus sonhos ficaram muito aquém da intensidade das investidas de sua boca contra a minha. Seu gosto era doce com um suave sabor de vinho. Abri os olhos, vinho? Ele estava bêbado? Com certa infelicidade, interrompi o beijo.

– Liu YuanQi? – chamei.

– Hm. – ele apoiou sua cabeça na curva do meu pescoço e quase imediatamente começou a ressonar.

– Pelos sete céus! – praguejei baixinho.

O conduzi para a minha cama, ele se arrastava, olhos fechados, bochechas levemente coradas. Suspirei, era mais que evidente que estava bêbado. Passei a mão pelo rosto, me sentindo um idiota por se quer cogitar qualquer ideia romântica e estúpida dele senti o mesmo que eu. Assim o ajudei a se sentar na minha cama. Liu YuanQi não precisou de ajuda para deitar, já que se acomodou entre os travesseiros e começou a roncar baixinho.  

Lá estava ele, seu hanfu verde desleixado e incompatível com sua usual elegância, cabelos pretos como piche desalinhados e selvagemente jogados pelos travesseiros, cílios escuros fazendo sombras sutis sobre suas bochechas rosadas. Liu YuanQi parecia uma poesia, lindo em suas rimas e metáforas. Lindo em sua melódica capacidade de ser tanto em suas próprias estrofes. 

Assim, ali o encarando, uma breve esperança me enlaçou, talvez, só talvez o ódio possa ceder ao amor. Retirei suas botas com cuidado para não acordá-lo e depois o cobri com o lençol. 

A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora