Capítulo 5

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Liu YuanQi

Os pergaminhos secretos me trouxeram mais incertezas, como uma maré cujas ondas pareciam ser infindas. Havia relatos soltos sobre algo sombrio que dera origem à estrela Sattur, mas nada em detalhes. Tem algo que eu não estou sabendo e tal constatação era desconfortável.

Meus olhos voltaram para o horizonte, amanhecia, sono algum me alcançou durante toda a noite, luto ainda estava emaranhado em mim, como redes numa trama. A espada fixa em meu cinto emanava encanto e saudades, minha mão acariciou seu punho em ouro branco, na vã tentativa de acariciar indiretamente o meu ferreiro. Eu fui um tolo quando o deixei, quando não assumi o que sentia. Não era porque ele era um homem, não, era porque amar me assustava e confiar me fragilizava.

Amar e confiar, ambos eram difíceis para mim.

Eu deveria ter... Deveria...

A pior parte eram os arrependimentos, os muitos "deveria" ou "e se", que reverberaram em mim, como uma voz que ecoava numa caverna. Fechei os olhos e imaginei como seria se eu o levasse para a seita. Bai HuoWu arranjaria um jeito de explodir a forja da Seita, ele correria para fora apressado, deixando destroços atrás de si e riria daquilo, talvez fizesse alguma anotação em seu caderno e diria algo como "bem, isso não dá para misturar". Bai HuoWu viria me procurar no almoço, possivelmente tentando me explicar o que deu errado, enquanto indiretamente daria em cima de mim pela oitava vez no dia. Me faria rir quando fizesse aquele olhar de cachorro pidão, quando me aproximasse dele para limpar o canto de sua boca que estaria suja de comida. Eu fingiria ignorância e ele faria sua melhor reação de frustrado. De tarde, ele iria brincar com as crianças no jardim, um correndo atrás do outro num pega-pega, como se todos tivessem a mesma idade. Dias se passariam assim, depois anos até que chegaria o dia que ele estaria mais velho, mais lento, embora eu ainda estivesse do seu lado. Eu estaria lá quando sua hora chegasse e me juntaria a ele, quando respirasse pela última vez.

Se as coisas tivessem sido diferentes, se eu não tivesse estragado tudo.

Na outra mão, seu caderno de anotações, o apertei contra o meu peito, desejando poder abraçar seu dono.

Subitamente um pensamento cruzou minha mente como fogos de artifícios.

Recordei do dia em que estávamos na estalagem e minha desconfiança acerca da sua identidade me deixava ansioso.

" – O Ancestral te chamou de imperador; durante seu surto, você se referiu a uma meimei, que não existe... Quem é você, de verdade? – perguntei, ainda inseguro, ao mesmo tempo, ansiava que me contasse a verdade, que não me ocultasse nada, tantos já mentiram para mim, não seja mais um Bai HuoWu.

– Acho que já tem um palpite. – ele colocou um baozi na boca e me encarou, pensativo. Depois que engoliu a comida, falou: – E não está errado".

Ele confirmou que era um cultivador demoníaco, então talvez... Me virei para a mesa repleta dos pergaminhos secretos, corri e procurei entre a pilha de rolos, abri um, o fechei, não era aquele. Abri outro e outro. Em busca daquele único trecho, o encontrei, era um papel meio queimado, nele dizia: "Entre os dragões havia lendas sobre uma ervilha que com uma gota de sangue daria luz a uma segunda vida, essa ervilha era chamada de a fruta da provação e...", a informação estava incompleta, mas já era alguma coisa.

A ervilha, ele deve ter a usado assim tinha um corpo humano normal, sem os típicos olhos roxos de outros de sua espécie, claro que considerando que a tal lenda seja verdadeira. Isso justificava a rápida deterioração de seu cadáver, ou seja, era uma casca para resguardar aquele que a usava. O Imperador. Bai HuoWu é o imperador.

Tentei buscar na mente o que eu sabia sobre tal figura, mas não havia muito, ninguém nunca sobreviveu depois de um encontro com o líder dos cultivadores demoníacos, o pouco que relembrei se tratava de histórias curtas sobre sua maldade sem fim e como era retratado como um monstro. Ele também era citado como o adversário direto do Ancestral, ambos sempre estavam se procurando e se defrontando.

Uma certeza me fez levantar da cadeira. Onde o Ancestral estivesse, o Imperador também estaria. Se minhas desconfianças realmente estiverem certas, então encontrarei meu ferreiro se seguir o Ancestral de perto.

Estava decidido, eu iria pessoalmente às montanhas da escuridão.

Chen DaLun estava correndo acompanhado de seus dois leões autômatos, eles vinham em minha direção

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Chen DaLun estava correndo acompanhado de seus dois leões autômatos, eles vinham em minha direção. A criança parou a pouca distância, curvando-se em respeito, era desajeitado. Seus fios negros e bagunçados, me faziam lembrar de Bai HuoWu, um misto de saudades e afeto se derramou sobre mim. Parei e exibi um suave sorriso.

– Não deveria está em aula?

Ele se avermelhou e pareceu desconcertado pelo meu conhecimento acerca dos horários de seus estudos.

– Eu... Tivemos uma pequena pausa.

– Espero que não esteja faltando aula. – adverti.

– Não. Só, queria saber do tiozinho... Ele prometeu que viria... Os outros dizem que ele não virá, que me abandonou... Isso é mentira, não é?

Aquelas palavras me tiraram o ar, abaixei a cabeça em reflexão, eu deveria contar acerca da morte do ferreiro? Ou primeiro deveria confirmar sua nova identidade e quem sabe convencê-lo a... O quê? Assumir a responsabilidade por me fazer amá-lo e pela promessa feita ao pequeno? Corei ao cogitar essa hipótese, eu não sabia se teria tamanha audácia para abordá-lo de forma tão direta.

– Eu sei que ele virá me ver! Ele me prometeu. Mas queria pedir para o senhor, entregar isso para o tiozinho.

Era um papel pergaminho mal-dobrado, com ideogramas grandes típicos de quem está aprendendo a escrever. Segurei aquela carta com força e respeitosamente a guardei nas dobras do meu hanfu. Era mais uma justificativa para o procurar. Satisfeito, baguncei os fios escuros da criança.

– Deve voltar aos estudos, seu pequeno encrenqueiro.

Ele assentiu e saiu mais uma vez em disparada, o par de leões de cobre o seguindo como cachorros fiéis, uma ótima guarda para a proteção de Chen DaLun.

Meus olhos se fixaram no horizonte, seja qual fosse a identidade real de Bai HuoWu deveria assumir a responsabilidade pelas vidas que havia tocado. 

Como disse antes, estarei organizando alguns capítulo dessa parte dois da estória, então teremos atualizações nas quais vou mudar algumas coisas e adicionar outras tantas, enfim, espero que gostem

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Como disse antes, estarei organizando alguns capítulo dessa parte dois da estória, então teremos atualizações nas quais vou mudar algumas coisas e adicionar outras tantas, enfim, espero que gostem.

Também escrevi um extra para contar como Liu YuanQi sabe sobre a morte de Bai HuoWu. Lá eu conto o que aconteceu com o corpo do ferreiro e com o mestre Fei Yin. Pensei em deixar como capítulo, mas depois preferi deixar como extra mesmo, só para costurar alguns elementos, que talvez os leitores achem desconectados.

A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora