Capítulo 13

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Liu Yuanqi

Respirei fundo, ajustei minha expressão de nojo para uma gentil e me virei.

– Grande Ancestral. – o saudei com o comprimento formal, que um discípulo apresenta ao seu Shizun. Vi a expressão mal disfarçada de desgosto do Sênior Guan. – Recebi seu generoso convite e me apressei em comparecer, mas não ao ponto de vim com as mãos vazias. Trago-lhe um presente.

O criado tomou a frente e apresentou a caixa que Bai Huowu fez, esta era trabalhada com emblemas suaves de lótus, extremamente apropriado para o Ancestral, já que o símbolo do Clã Imortal, era a Lótus Noturna.

Devo admitir, que o ferreiro era talentoso.

O Ancestral me deu um sorriso de contentamento, que nunca chegou aos seus olhos, uma cobra fingida. Eu, como um bom filhote de naja, correspondi o sorriso. Ele abriu seu presente. Vi seus olhos se arregalando e uma expressão complicada se manifestou em seu rosto.

Aquilo não era felicidade, era quase temor.

Mas por quê?

Franzi o cenho.

– Uma adaga... Essa... Essa lâmina. Quem a fez?

Analisei seu tom de voz, estava alarmado, mas tentava disfarçar.

Isso é um péssimo sinal.

O Ancestral não pode saber da identidade de Bai HuoWu. Foi a intuição mais forte que já me ocorreu.

– Não sei. A encontrei numa casa de relíquias, estava no mostruário da loja. - respondi desviando o olhar, receio pelo meu ferreiro foi bombeado pelo meu corpo, estremeci.

O Ancestral, de aura obscura como um poço de escuridão, capaz de engoli qualquer resquício de luz, pareceu estranhamente meditativo. Recordava de algo e isto não lhe trazia agrado e sim, um claro incomodo. Olhos sombrios, pesar ou culpa fulgurou por segundos em suas íris. Seus dedos pairavam sobre a adaga, sem nunca tocá-la.

– Uma loja?! Qual? Onde? Diga-me exatamente, onde encontrou essa adaga! – fechou a caixa num baque surdo e se afastou.

Algo do passado o incomodava, algo profundo que não vislumbrei ao longo dos mil anos de minha existência, era uma rachadura em sua postura até então "superior". Curiosidade me balançou, no entanto a mantive controlada.

– Diga-me onde foi. AGORA! – eu sentia a faca afiada em suas palavras.

Ergui uma sobrancelha.

O Ancestral descontrolado? Por quê? O que o passado lhe trazia a mente para deixá-lo tão abalado?

– Se deseja tanto assim, traga-me um mapa e marcarei a vila. - lancei enquanto observava sua reação.

– Ouviram, tragam um mapa. – ele ordenou, quase latindo com suas servas, que correram, se espalhando, agitadas pelo Jardim.

Raiva e timbres roucos de ódio se mesclava ao seu tom de voz. Um fracasso, deduzi. Um homem como o Ancestral só odeia aquilo que não têm controle, algo que ele queria, mas nunca teve. Em outras palavras se lembrava de um fracasso. Interessante.

Rapidamente, um rolo e pincel, com a ponta macia embebida em tinta negra, me foram entregues. Desamarrei o barbante e desenrolei o mapa, com o pincel circulei uma vila de nome KunKai, eu tinha uma loja de antiguidades lá. Desnecessário dizer, que ninguém sabia que era de minha propriedade, sendo assim eu arranjaria meu próprio alibe. Ocultando meu ferreiro e investigando os mistérios daquele jovem. Afinal, quem é ele?

– Se estiver mentindo, Liu Yuanqi, sua cabeça será destacada desse pescoço inútil e tocará ao chão.

Não respondi, mas sustentei seu olhar num desafio silencioso. Eu não tenho medo dele. O Ancestral bufou enraivado e escondeu o mapa nas dobras do hanfu dourado.

A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora