Capítulo 15

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Liu YuanQi

Me levantei do chão, meu corpo tremia. Minha mente inunda de pensamentos repetitivos. Não posso perdê-lo. Pelos sete céus, não posso perdê-lo. Se isso acontecer, eu queimarei o mundo! Descontrole e uma sede assassina que estava por tanto tempo em silêncio se levantou das margens do meu cérebro, como um demônio surgindo pronto para reclamar minha alma.

Respirei fundo. Devia me controlar, não posso voltar aquela escuridão ou corria o sério risco de nunca mais encontrar o caminho de volta. Foi difícil da primeira vez, me achar, voltar para luz e continuar com uma pequena parte de mim intacta. No princípio, eu tinha medo da paz, da tranquilidade em minha mente e das condenações do meu subconsciente, afinal uma alma culpada sempre será condenada, nem que seja pelo tribunal da própria consciência.

Eu fiz muita coisa ruim. Encarei mais tempo que o necessário o abismo que habita no homem e posso assegurar que não é satisfatório fazê-lo, é enlouquecedor. Respirei fundo, minha mente se tornando calma e cristalina. Comecei a reorganizar as ideias, quando uma figura surgiu, seu manto vermelho deslizava sobre o solo liso do salão de pedra. Seu rosto, transformado em arrogância e ódio sem fim, como um oceano. O Ancestral decidiu nos "honrar" com sua presença.

– Ora, o que temos aqui? Um traidor e um punhado de cachorros vadios que desconhecem seu lugar.

Meus discípulos tomaram posição de ataque, os dragões rosnaram, um som profundo e gutural. Mais um tremor de terra, paredes rachando e despencando, formando, rombos entre a rocha. Desviamos das pedras que caiam, rolei pelo chão, evitando uma parte do teto que teria me esmagado. Me aproximei de um dos dragões, mais especificamente aquele que tentou me asfixiar, ele parecia ser um homem muito leal ao meu ferreiro.

– Vá em busca de Lei LongWei, eu cuido do Ancestral.

– Não deve falar o nome do Bixia com essa boca imunda. Devo cortar sua língua para aprender? – ele replicou em minha direção, rosnando como um animal feroz.

– Não quero começar uma briga. Não sou seu inimigo. Agora, vá! – eu não tinha tempo para isso.

Me levantei, espada em punho. O ancestral também se ergueu, tinha um olhar assassino no rosto.

– Eu te tratei como meu filho, seu rato sujo! Como ousa me trair?

– Um tirano não merece seguidores fiéis e nem adoração cega. Você, Pei FuXian, não merece a alcunha de Grande Ancestral e nem de Grande herói. Hoje, você cairá.

Avancei, nossas espadas se encontraram, um raio de luz se lançou aos ares, fio se avermelhando. Uma parede de qi se movimentando, energia empurrando energia, vermelho contra branco. Desviei dos ataques, rodopiando numa dança perigosa. Um golpe descendente, seu joelho esquerdo foi atingindo. Recuei, a ponta da espada dele arranhando meu abdome. Hanfus ondulando, golpes fluidos e rápidos.

Eu seria a vingança dos que foram mortos sem razão. Pelas minhas mãos ele veria a justiça aplicada, a sua sentença: morte. Uma força vindo de um lugar desconhecido meu deu energia, senti meu qi se avolumando e crescendo como uma árvore. Tinha algo diferente em mim, eu não saberia dizer o que. Vi o semblante de pânico de Pei FuXian.

Mais uma vez espadas se interceptaram, um movimento e o fio da minha lâmina cortou a do Grande Ancestral. Vi sua expressão de pânico. O chutei, ele rolou pelo chão.

– Não. Não pode. Isso não vai acabar assim! Eu não estou sozinho, ele vai me vingar!

Girei a espada e sua cabeça caiu, bolando pelo chão. Seu corpo caiu para o outro lado, tombando. A luta tinha sido mais rápido do que previ e mais fácil do que imaginei. Um Ancestral com milênios de cultivação, foi vencido por um cultivador de mil anos de cultivo. Estranho.

Uma brisa quente vindo do buraco do teto agitavam meus cabelos branco. Espera. Brancos? Peguei uma mecha, o tom escuro se foi sendo substituído por um tom prateado. O que aconteceu comigo?

– Seu lado divino despertou, eu não esperava por isso. – falou Sênior Guan, me virei só para ver meu discípulo mais confiável limpando a lâmina revestida de líquido rubro.

Franzi o cenho. Meus outros discípulos e até meus espiões estavam caídos ao chão, suas gargantas foram cortadas, sangue escorria formando, rios que contornavam as rochas caídas. Estava tão concentrado na luta contra o Ancestral que não percebi o que ocorria ao meu redor. Fixei o olhar nele.

Sênior Guan, é um traidor. Uma onda de dor me sacudiu, cada momento ao lado do meu bom amigo, viravam facetas fingidas daquele que pretendia me esfaquear pelas costas. Um gosto agridoce tomou minha língua, era o sabor da traição.

Seus cabelos negros estavam desgrenhados, seu rosto amistoso encoberto por sombras que o davam uma fisionomia bestial. Não havia emoção nos olhos escuros, ele era puro gelo e maldade. Sua aura se escureceu, como uma lamparina se apagando, trevas ondulavam ao seu redor como dedos, que apagavam as pedras espirituais, lançando o ambiente em escuridão. Até uma claridade fantasmagórica rasgar as trevas, eram as pedras de Luxxer enriquecidas com almas humanas. Mas por quê estavam ali? Magia dos espectros: troca de corpo. Não. Sacudi a cabeça, não podia ser.

– Não esperava por isso, que seu lado divino despertasse. Isso o faz inútil para os meus planos. Mas não importa, eu tenho um plano reserva.

A última pedra espiritual se apagou, as pedras Luxxer perderam a claridade, foi  como a noite caindo. Não havia som na sala, apenas silencio. Ergui a espada, confrontando, pronto para o que seguisse. Ele tentaria fugir, se meu corpo se iluminou com a Ascenção divina, ele procuraria um corpo escuro. Em outras palavras, ele não podia sair daquela sala.

– Quem é você?

– Estava certo sobre o Ancestral ter um compassa. Eu sou esse compassa. – a voz ecoava, como se viesse de todos os cantos da caverna, dificultando meu processo de rastreamento pela audição.

– Por quê? – indaguei, tentando entender o que lhe levou aquele caminho. Quando ele passou a apoiar o Ancestral?

– Os deuses tentaram me prender no abismo, mas nada pode deter o mal de se esgueirar pelas rachaduras da falsa moralidade humana e encontrar o caminho para a superfície. – ele deu uma risada zombeteira e sinistra. – Usei muitos corpos ao longo dos milênios, muitas faces e tive muitos nomes. Em um desses, eu dormi com uma linda mulher com sangue divino correndo pelas veias. Não existe prazer maior que conspurcar aquilo que deveria ser divino.

A compreensão me sacudiu. Uma mulher com sangue divino. Minha mãe. Ele era meu... pai? Então, durante todo esse tempo, ele nunca foi sincero, nunca foi um amigo ou um seguidor fiel. Era apenas um demônio na pele de um humano, esperando pelo tempo certo para reaver seu poder.

– Já deve saber quem sou, seria um lindo momento pai e filho se eu não tivesse pressa. A minha espada está prestes a cair e eu preciso de um corpo para possuir.

Sua voz se silenciou, minha atenção se focou em meus ouvidos, tentando detectar a presença do meu inimigo pela audição. Um passo dele, só um passo. Um som abafado de algo caindo, segui em direção ao baque, minha espada cortando seja o que fosse ao meio. No instante seguinte as luzes das pedras espirituais se acenderam e caído no chão estava o cadáver partido ao meio do Sênior Guan. Não era bem um cadáver, estava mais para uma casca, cujo miolo tinha sido devorado.

Meu pai abandonou a antiga morada em busca de uma mais forte e poderosa. Uma que em seu coração estivesse infiltrado de ódio, afinal, trevas atraem trevas.

Ódio. Um rugido, fez mais do teto desabar.

Arregalei os olhos, um nome se formou em minha mente: Lei LongWei.

Arregalei os olhos, um nome se formou em minha mente: Lei LongWei

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A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora