Capítulo final

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Lei LongWei 

Minha consciência oscilava, indo e vindo. Lembrei de abrir os olhos em algum momento e ver o seu rosto, cabelos prateados amarrados num coque, seus olhos arregalados, estava surpreso. Tentei estender meus dedos para lhe tocar a face, mas fraqueza me tomou e o sono me embalou. Em outro momento, minha meimei cantava ao lado da cama, seus dedos dedilhando a pipa com precisão e maestria. Tocava o feitiço da cura, seus dedos delgados e brancos, estavam cobertos por ataduras. O que tinha acontecido? Abri a boca, mas a inconsciência voltou a me dominar.

Dessa vez alguém lia para mim.

"Eu não sei onde o senhor está, mas quero voltar a te ver. Sinceramente, Chen DaLun". O pequeno, de não mais de seis anos, me observava atentamente com olhos de um tom castanho avermelhado. Ele escondeu seu rostinho choroso nos lençóis próximo as minhas pernas.

– Eu guardei as bolinhas de gude e cuido bem dos leões que me deu. Eu fiz tudo certinho, por que você ainda não acordou? O que mais posso fazer? – suas mãos procuravam as minhas. – Você prometeu cuidar de mim! Tem que cumpri o que disse! Por favor, eu juro que serei bonzinho.

Muitas palavras estavam presas em minha garganta, mas não encontravam espaço para subirem pela minha boca. Assim, só me restava tentar apertar sua mãozinha. Me concentrei, sentindo suor brotando pela minha testa. Vamos mexa! Um tremor, um leve fechar de dedos, o garotinho ergueu a cabeça, olhinhos focados em mim. Tentei sorrir e ele se levantou gritando algo, que se perdeu no sono que me puxou.

Fiquei assim por um tempo, ora acordando, ora dormindo. Eu não sabia ao certo como sobrevivi, embora me sentisse grato por ter mais um dia com as pessoas que amo. Eu não pensava mais em morrer e nem desejava o abraço gélido do ceifador, apenas ansiava pelo dia que enfim acordaria e viveria com eles e tentaria, mais que sobreviver, restaurar a civilização dos dragões e seguir em frente, deixando ao passado as cinzas dos cadáveres daqueles que há muito se foram. Deixando o peso das culpas e o grilhão do ódio.

Isso parecia bom, respirar o ar fresco de uma manhã ensolarada, raios solares esquentando minhas escamas e Liu YuanQi agarrado a mim. Sim, eu o levaria para voar, apreciar a vista das nuvens como almofadas brancas nas costas de um poderoso dragão. Sonhos me enchiam a mente, todas pincelavam um quadro de harmonia e amor que eu levaria ao lado do meu tesouro. Cada riso, beijo e carícias eram como luzes numa estrada escura me guiando de volta para ele, meu Liu YuanQi.

Meu corpo estava diferente, uma energia fluía até mim, como um rio. Um coração pulsava no mesmo ritmo e frequência que o meu, ecoando a canção em meu peito. Eu o senti vívido em mim, mesmo com os olhos fechados. Então, simplesmente soube o que ele fez para me manter vivo, meu imortal cedeu parte de sua essência divina para assim a chama que me mantém respirando não se apagasse.

Uma certeza, como a fé cega de que o sol retornará a cada dia, transbordou do meu espírito: eu o amo, mais do que imaginava ser possível para um deserto árido que era meu coração.

Abri os olhos. Ele estava ali, suas mãos entrelaçadas na minha, sorria, como nunca o vi fazendo com tamanha plenitude. Éramos como poemas escritos pela metade que juntos formavam um todo.

– Eu te amo. – murmurei, minha voz arrastada e seca, soava áspera aos ouvidos, mas ele manteve o sorriso, felicidade e afeição lhe aquecia o rosto, que outrora se assemelhava a um lago congelado.

– Eu também te amo. – ele beijou o dorso de minha mão, bochechas corando. – Os outros ficarão felizes com o seu despertar.

– Será bom vê-los. Acho que estou pronto agora, para um recomeço.

Ele assentiu, lábios encontrando caminho para a minha testa, seu calor contra minha pele, seu hálito tentador fazendo cócegas. Meu imortal se afastou, nossos olhos recitando juras apaixonadas, não havia necessidade de palavras, éramos um.

Liu Yuanqi se levantou, me deu um último olhar e se afastou.

Recomeçar era uma palavra estranha com um gosto doce na ponta da língua. Deixar as sombras que por tanto tempo habitei era assustador. Tudo que conheci por milênios foi ódio, agora eu me sentia frágil e desnudo diante do amor. No entanto, eu não estava sozinho, Liu YuanQi, minha meimei, Chao KangLi, Chen DaLun e cada um dos dragões estavam ao meu lado, me sustentando como mãos que me elevavam, me impedindo de pisar sobre os espinhos.

Sim, não seria fácil andar na luz e me acostumar à tranquilidade e a paz. Mas eu ia tentar. Coragem me rodeava, como um vento enchendo as velas de um navio.

Sim, era tempo de recomeçar.

Sim, era tempo de recomeçar

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Chegamos a final!!!!!!!

Não sei se fico feliz ou triste, mas é isso.

Ainda escrevi um extra bem fofinho para aquecer o coração de vocês, meus leitores.

Espero que gostem!!!!

A Espada que Corta as TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora