Remus Lupin voltou de seu trabalho de meio período em uma livraria, de volta ao apartamento que dividia com Sirius desde que James se casou em Agosto.
Ele estava cansado, faminto e tudo o que queria era tomar banho e jantar. Assim que Remus entrou pela porta e encontrou Sirius caído no chão com uma carta na mão, ele soube que seus planos não iriam se cumprir
— Almofadinhas? — ele chamou.
Levou quase um minuto para Sirius levantar a cabeça, seu cabelo negro sendo mantido longe dos olhos por uma das mãos, que segurava sua cabeça. Os olhos acinzentados estavam um pouco avermelhados como se ele tivesse chorado recentemente.
Remus ficou imediatamente preocupado, eles estavam em tempos de guerra e a qualquer momento uma tragédia pode acontecer. Vivendo não tão perto do mundo bruxo por causa de suas condições particulares, Remus podia se deixar levar por dias mais calmos e cheio de problemas mundanos, esquecendo assim, em raras vezes, o que pairava sobre suas cabeça como a lamina de uma guilhotina.
— O que aconteceu? — Remus pergunta, lutando para manter sua calma e não deixar o pânico surgir.
Ele pode dizer que está acostumado a isso, fingir calma e tranquilidade enquanto seu interior se contorce com o pânico que sempre está a espreita, mordendo seus calcanhares para lembrá-lo que não está tudo bem, nunca estará, não para alguém como ele. Não para alguém que pode destruir tudo o que ama por na verdade ser um monstro.
Sirius não responde, apesar de estar olhando na direção geral de Remus, o moreno menor não está realmente o vendo ali. Seus olhos de céu tempestuoso parece mais distante, ele não está completamente ali, naquela sala com Remus.
Lupin já viu esse olhar em seu amigo, mais vezes do que gostaria. Em geral com pensamentos de seu passado ou de sua família complicada.
Fazia meses desde que o assunto Black não entrava na roda de conversas. Sirius havia cortado suas ligações com quase todos os membros da sua família no verão antes do quinto ano deles, quando o pobre garoto maltratado fugiu de sua casa de infância para viver com os Potters. As únicas pessoas com quem ele mantinha contato era o tio Alphard que lhe deixou uma generosa herança quando morreu em 1977 e Andromeda que foi renegada pela família quando decidiu fugir e se casar com quem amava, o nascido trouxa Ted Tonks.
Com ela porém, ele perdeu o contato durante a guerra, uma maneira triste de mantê-la e a família dela a salvo dos horrores que rondavam o mundo bruxo.
Havia outra pessoa da família Black, porém, com quem Sirius se preocupava apesar de todos os sentimentos e palavras ruins trocadas entre eles, e esse é seu irmão mais novo, Regulus.
Remus não tem certeza, mas acredita que assim com ele, Sirius não vê o caçula dos Blacks desde a própria formatura em 1978. Regulus teria se formado em junho desse ano se Lupin não estivesse enganado.
Ele se aproximou, sentando-se ao lado do amigo no chão. Lupin observou de relance a carta que Sirius ainda segurava, o homem mais baixo ainda não diz nada, nem olha para ele, mas quando Remus se acomoda o mais confortável possível no chão duro, Sirius se inclina para ele, recostando-se completamente em Remus e lançando seu peso sobre o homem mais novo.
Lupin passa o braço em volta do ombro de Sirius e o abraça, confortando-o. Ele não faz mais perguntas, Remus sabe que Sirius lhe contará o que for quando estiver pronto, então ele apenas fica lá com as costas contra o sofá e os olhos fechados.
Remus não sabe ao certo quanto tempo eles ficaram assim, imóveis, apenas abraçados em silêncio. Ele abre os olhos quando sente Sirius se mexendo, o moreno estendeu a carta que ele ainda estava agarrado para Lupin.
Remus pegou a carta com a sobrancelhas franzidas, Sirius nunca foi do tipo mais silencioso exceto quando era sobre sua família, e ainda assim Black era bem barulhento sobre eles em geral, mas quando ele olhou para a assinatura no final do pergaminho — mesmo antes de realmente ler a carta — ele entendeu parcialmente o problema.
Era uma carta de Regulus, o maior ponto fraco de Sirius. Mesmo com os anos de tratamento passivo-agressivo entre eles durante o tempo em Hogwarts desde a fuga de Sirius para os Potters, todos sabiam que o mais velho amava seu irmão e sentia muito por tê-lo abandonado. Mesmo quando Regulus começou a demonstrar as mesmas crenças de sua família e que seguiria pelo caminho que a maioria dos sonserinos estava indo, ainda assim Sirius não escondeu amá-lo, ou que queria proteger o irmãozinho, eles infelizmente tem problemas de como demonstrar seus sentimentos um para o outro, e tudo que saía das tentativas de comunicação deles era gritos e mais brigas, que Remus sabe o quanto machucou Sirius todas as vezes, ainda que ele tentasse esconder.
Os Blacks aprenderam desde cedo a como controlar suas expressões e a esconder seus sentimentos dos outros, seja para transmitir superioridade ou para simplesmente se protegerem uns dos outros. O que tornou todos meio constipados emocionalmente o que no fim só gerou mais desavenças.
Remus se focou no problema a sua frente, ele leu a carta uma e outra vez tentando entender tudo.
— Sirius?
— Ele vai morrer — a voz sai quebrada, rouca como se ele tivesse gritado por horas.
— Não sabemos isso Sirius — Lupin tentou ser apaziguador, mas ele sabia que aquilo era uma carta de despedida.
Regulus escreveu com todas as letras de que pode morrer, de que até acredita que é isso que irá acontecer se é que já não aconteceu. Céus, a carta dizia que Sirius provavelmente só a receberia quando fosse tarde demais.
Mas Sirius não está de luto, não completamente, ele usou a palavra "vai" em vez de "morreu", então ou ele acredita que Regulus ainda não está morto, ou ele sabe algo que Remus perdeu.
Lupin releu a carta procurando alguma pista. Ele confessa que não entendeu muito.
A maior parte era apenas uma carta de desculpas e despedida. Muito particular, a ponto de Remus se sentir meio mal como se estivesse se intrometendo em coisas pessoais que não o envolvem. E verdade seja dito é meio isso mesmo.
Então ele se prendeu na parte em que Regulus explicava o que o levaria a morte. Parte de Remus se alegrou que o Black mais novo percebeu a verdade sobre o Lorde das Trevas, mas isso o estaria levando para morte e isso destruiria Sirius.
Ele se focou na parte sobre horcrux, Remus nunca ouviu falar sobre isso, mas a ideia de alguém dividindo sua própria alma ao meio era, na melhor hipótese, perturbadora.
— Monstro esteve aqui — Sirius disse tirando Remus de seus pensamentos.
— Que monstro?
— O elfo — ele explicou — o velho elfo da família. Ele veio me implorar para salvar Regulus.
Remus balançou a cabeça para tentar se focar no que Sirius dizia.
— Eu não acho que entendi.
Sirius suspirou, ainda completamente encostado em Remus. Então ele começou a explicar tudo o que aconteceu naquela manhã, e tudo o que esteve pensando.
Remus ficou em silêncio absorvendo tudo, ele não tinha ideia do que fazer ou o que dizer.
Sirius se mexeu, se afastando para olhar nos olhos de Remus.
— O que eu faço?
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Os Marotos, os Sonserinos e as Horcruxs
FanficEm 1979, Regulus foi até a caverna no meio do nada para recuperar a Horcrux e tentar destruir Voldemort com isso, se entregando a morte certa. Levado por Monstro que recebeu a ordem de deixá-lo lá e partir com o medalhão, e que nunca contasse a ning...