No dia de embarque para Hogwarts, Alvo estava apavorado.
Além de sonhos terríveis em que ele era escolhido para a Sonserina que o fizeram berrar de madrugada, também tivera pesadelos com a estranha face do homem sinistro do cemitério lhe esperando na porta de Hogwarts com a varinha apontada. Ele acordara em prantos.
Para piorar, enquanto tomava café rapidamente para saírem em direção a Kings Cross, seu irmão aproveitou para lhe dar algumas informações apavorantes.
— Boa seleção, Alvo. Aprendeu algum feitiço, imagino. Vai precisar.
Alvo engoliu o cereal em seco, arregalando os olhos. — Vou?
— Ora, claro. Como vai lutar com o bicho-papão?
Bicho-papão? Alvo sabia o que eles eram. Uma vez viu vovó Weasley reclamar que havia um no sótão, e foi uma dificuldade danada para se livrar dele, pois assumiam a forma de seu maior medo. Alvo não sabia qual era seu maior medo, tampouco o que fazer para repelir um.
— Deve ser mentira. — disse, seguro daquilo. — Você sempre me conta mentiras sobre a seleção. Todo mundo já está cansado de saber que é um chapéu.
— O chapéu vem depois, bobão. Primeiro eles fazem você enfrentar o Bicho-papão para ver como você reage, assim, Chapéu consegue fazer a escolha com certeza.
— Mamãe não disse nada disso!
Tiago revirou os olhos. — Acha que eles querem te assustar? Não vão te dizer nada, é claro, como também não me disseram. — e olhou desinteressado para seu próprio café. — Mas, sabe, sempre que alguém não consegue derrotar o Bicho-papão, essa pessoa cai na Sonserina.
Alvo arregalou os olhos para o além, perdendo completamente a fome.
Não demorou até que todos os seus pertences estivessem sendo achatados para dentro de um Chevrolet Chevette que pertencia ao vovô Weasley. Como seu pai estava fazendo as aulas de direção trouxas, viagens de carro só eram possíveis na companhia de Artur, que tinha seu pequeno automóvel vermelho como novo xodó.
— Parachoque novo. Poltronas novas. Bateria nova. Tudo novo. Reformei até o retrovisor.
Alvo deu uma ultima olhadinha para o Chalé dos Potter com um breve sorriso, pensando que sentiria muita saudade daqueles tijolinhos vermelhos. As cortinas balançam da janela de seu quarto, e se perguntou se um dia qualquer outro lugar no mundo lhe trariam a sensação de lar que sentia ali.
Uma mão repousou no ombro dele. Sr. Potter estava ao seu lado, observando a casa com a mesma ternura.
— Qual a sensação, Alvo? Quero dizer, de deixar um lugar que você gosta para ir para outro completamente estranho?
Ocorreu a ele que seu pai não fazia ideia do que seu filho estava sentindo agora. Quando recebeu sua carta de Hogwarts, Harry Potter morava em um armário sob a escada, provavelmente contando os dias até que enfim desse o fora dali. Não tinha raizes, não pertencia a lugar algum. Hogwarts fora seu primeiro e único lar. Com Alvo não era assim. Ele tivera um lar amoroso, e deixa-lo era uma sensação estranha.
— Assustador. — admitiu. — Mas confortante, ao mesmo. É como se não importasse o que irá acontecer. Existe um lugar que sei que é meu, que posso voltar. E que sempre serei feliz nele.
Sr. Potter continuou olhando, e em seus olhos verdes, algo cintilou.
— Parece um sentimento muito bom.
Sua voz esboçava emoção, e mais do que isso, um quê de dever cumprido.
E a viagem foi longa. Artur foi no carona enquanto Sr. Potter seguramente diria, e Tiago importunou a viagem toda com a história da seleção e Sonserina, fazendo Alvo respirar fundo quando estacionaram, algumas horas mais tarde, na grandiosa estação de trem de Kings Cross, em Londres.
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Alvo Potter e a Chave de Prata
FanfictionDezenove anos haviam se passado quando aquela névoa agourenta e sinistra voltou a comprimir as janelas das casas dos bruxos e trouxas, trazendo outra vez uma longínqua sensação de insegurança e medo, que não era sentida por ninguém desde a queda de...