Alvo respira fundo, sentando-se em sua cama e pondo a mão no peito. Seu coração batia acelerado. Ele nunca se apavorara tanto desde que sonhara que estava sendo perseguido por diabretes.
Aquilo era bem mais apavorante do que diabretes.
Ele não entendia por que sonhara com aquilo... de novo. Desde o inicio do ano Alvo vinha sonhando coisas estranhas sem parar, cheio de detalhes assustadores e sinistros demais para sonhos de um garoto de dez anos. Sua mãe uma vez lhe contou que pessoas geralmente sonham com coisas que presenciam ao longo do dia. Mas Alvo tinha certeza de que nunca vira pessoas tão apavorantes em toda sua vida. E para piorar a situação, nem mesmo se lembrava do rosto dos bruxos maus.
Nenhum rosto, exceto um. O homem de vestes negras em meio ao fogo.
Alvo achou que nunca seria capaz de esquecer semblante tão maquiavélico, que agia como se cada segundo de dor fosse musica. Lembrou-se do que ele disse, de ter sido capturado pela mulher loira e por... seu pai. Harry Potter, o bruxo mais poderoso vivo e também o chefe do Esquadrão de Aurores, havia posto o homem que vira em seus sonhos em Azkaban, e agora, ele queria acertar as contas. E pareceu já ter vencido a primeira etapa. Um calafrio cortou a barriga do menino.
Mas aquilo era besteira, certo? Sonhos são... só sonhos.
Horrorizado ao lembrar-se do que sonhou outra vez, Alvo começou a procurar algo em seu quarto que o fizesse esquecer daquilo, mas só via a escuridão da madrugada, o que de nada adiantava a não ser para deixa-lo mais medroso. Nem Husby, seu dragão de pelúcia, estava o ajudando muito naquele momento.
Seus cabelos negros estavam bagunçados e espetados, e os olhos verdes, os mesmos olhos do pai, pesados de olheiras. No geral, o ciclo de sono do menino era sempre regular, sem interrupções, deitando-se as nove e acordando as sete. Aquilo era estranho, todo o acontecido. Alvo queria voltar a dormir, mas temeu ter pesadelos de novo. Pensou em chamar sua mãe, mas só de pensar nas piadinhas que Tiago, seu irmão demasiado implicante, faria a respeito disso no outro dia já o fizeram desistir da ideia. Como se já não bastasse toda a perturbação que estava fazendo ultimamente.
Tiago não deixava Alvo em paz há dias. Desde que junho chegara, e com ele o período de envio de cartas de Hogwarts deu por iniciado, seu irmão mais velho o enchia de comentários pessimistas e brincadeiras que o deixavam nervoso e assustado. Aborto, ele berrava, a cada manhã que as corujas correio não traziam consigo a garantia da vaga em Hogwarts do menino. Seus pais lhe disseram para não se preocupar, pois elas não eram enviadas ao mesmo tempo. Eram os diretores e professores que a rescreviam, Gina dizia, e a qualquer hora ao longo dos próximos meses ela poderia chegar. Mas os dias se passaram sem nenhum vestígio de aprovação, e quando Rose Weasley, sua prima, recebeu a própria carta, até mesmo o Sr. e a Sra. Potter começaram a ficar apreensivos. Não era uma apreensão infundada, em absoluto. Se fosse com qualquer outra criança, a possibilidade de ser um aborto seria nula! Quase todos os filhos dos bruxos expressavam magia na infância. Tiago fizera nevar uma vez na idade de sete, quando estava com muita raiva ao ver a Irlanda perder do Argentina na Copa Mundial de Quabribol, e até mesmo Lilian conseguira fazer sua mesinha de chá flutuar junto com suas bonecas. Mas Alvo... Alvo nunca criara neve, nem chuva, nem fizera nada levitar. Nunca havia manifestado magia alguma, nenhum vestígio sequer.E isso estava o apavorando.
Seria ele, o filho mais parecido com seu pai em aparência, aquele que todos paravam pela rua e diziam ser a copia do maior bruxo da história, um aborto? Agora, tão perto de setembro, o prazo final para fazer a matrícula, o filho do meio estava quase se dando por vencido. Talvez ele fosse um aborto Potter. O único, o primeiro.
Talvez fosse ficar preso naqueles pensamentos ruins por toda noite, mas o destino sempre reservava coisas estranhas. Tentando sem sucesso cair no sono mais uma vez, Alvo sentiu alguma coisa chacoalhar seus pés. Levantou-se assustando, pensando ser o homem mau de seus pesadelos, mas por sorte (ou azar), era apenas a figura esguia de Tiago Sirius Potter, seu irmão mais velho.
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Alvo Potter e a Chave de Prata
Fiksi PenggemarDezenove anos haviam se passado quando aquela névoa agourenta e sinistra voltou a comprimir as janelas das casas dos bruxos e trouxas, trazendo outra vez uma longínqua sensação de insegurança e medo, que não era sentida por ninguém desde a queda de...