A TRÉGUA

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Alvo nunca fora um bom mentiroso, mas precisou se esforçar para inventar uma desculpa esfarrapada para Escórpio depois da sua muito longa aula com os professores Barba Longa e Kirke. Disse que havia recebido aulas particulares de poções, o que deixou o amigo extremamente animado, pedindo que lhe contasse tudo que aprendeu. Como não havia aprendido coisíssima nenhuma, quase teve sua farsa descoberta, mas por sorte Pirraça passou pela comunal da Sonserina como um furacão e puxou o tapete sob os pés dos dois, derrubando-os no chão. Escórpio amaldiçoou-o tanto que se esqueceu do que estava falando antes. Ele voltou a se lembrar no dia seguinte, é claro, mas isto deu tempo para Alvo folhear a epítome poçonica atrás de alguma coisa para usar e encobrir sua história.

— Então você vai ser tipo um novo Severo Snape?

— Ãh... sim, claro. — disse Alvo, com voz falha.

— Até com a parte de ser apaixonado pela sua avó?

Ele o respondeu atirando-lhe um travesseiro.

No final do primeiro mês letivo, nada havia mudado muito. Os alunos das outras casas ainda achavam que ele e Escórpio passavam as horas vagas na câmara secreta planejando coisas tenebrosas, exceto por Lisa, que estava inconformada com a longa duração de "tamanha tolice", como costumava dizer. A amiga costumava passar tempo com eles na biblioteca e na árvore perto do lago negro, onde Alvo tentava explicar a ela e a Escórpio os princípios de Quadribol, já que, para sua infelicidade, nenhum dos dois entendiam nada do esporte.

— O batedor pode segurar a goles?

— Não. — diz ele a Escórpio. — Já disse, cada jogador só pode atuar na sua área. Batedores só rebatem balaços, se apanharem a goles é falta.

— Mas e se um goleiro estiver longe... um artilheiro pode defender o aro? — Lisa arrisca.

Alvo já estava a ter pelo menos vinte surtos internos com tantas perguntas básicas.

— Não! — replica, balançando a cabeça com força. — Cada jogador na sua área! — repetiu firmemente.

— Não pode por nem uma mão dentro do aro?

— Não!

— Nem um dedinhozinho?

— Nem um fio de cabelo, Lisa. Nem um! É falta, falta grave! — balançava as mãos, ultrajado.

Os dois pareceram ponderar sobre aquilo em silêncio. Alvo pensou que enfim eles haviam entendido, mas não tardou até que Escórpio voltasse a perguntar:

— Então um artilheiro não pode usar a própria vassoura para rebater um balaço?

Alvo desistiu de explicar o jogo para duas mentes tão lógicas quanto a de Lisa e Escórpio.
Era em momentos assim que sentia muita falta de Rosa. Infelizmente, desde a última conversa que tivera com ela, Alvo só a via de longe, olhando-lhe em uma perfeita mescla de rancor e tristeza, sem dizer a ele uma palavra. Já estava perfeitamente claro que não existia possibilidade dela voltar a ser sua amiga, e era com muito pesar que ele estava se acostumando com a ausência dela, e por isso, tentava ensinar aos novos amigos as coisas que gostava de conversar com a prima.

Mas algumas pessoas eram insubstituíveis.

E para piorar, agora que não estava perto de Rosa, era ainda mais difícil saber as notícias do mundo bruxo. Depois de saber sobre o assassinato de Gelsy Pepperton, a mulher de seu sonho sinistro, ele ficara cada vez mais ávido a se informar do que estava se passando, talvez desesperado para achar evidências de que estava apenas se precipitando ou que estava maluco. Como não assinava o Profeta Diário, tampouco Escórpio, e a única que tinha o mínimo de noção do que estava acontecendo era Lisa. No entanto, mesmo sendo filha do Ministro, Quim não compartilhava muito sobre seu trabalho com ela, para a infelicidade de Alvo. Não era como Rosa, que sempre recebia tudo em primeira mão de Tia Hermione.

Alvo Potter e a Chave de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora