━ 𝙿𝚁𝙾́𝙻𝙾𝙶𝙾

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─────  Pedra do Dragão, 17 d.C.

No alto da fortaleza de Pedra do Dragão, uma tempestade rugia do lado de fora, chicoteando as torres e os muros com ventos violentos e trovões que ecoavam pelo castelo. As chamas da lareira central eram o único consolo contra o frio cortante que parecia invadir até as pedras da sala.

A jovem princesa Shaena havia reunido seus irmãos, Aenys e Maegor ali, em um dos salões ancestrais da fortaleza. A sala era imensa, dominada por um brasão de dragão de três cabeças esticado na parede de pedra e a enorme mesa pintada que o pai deles, Aegon, o Conquistador, mandou construir antes mesmo de conquistar Westeros. 

— Estou ficando impaciente. Diga logo o que quer comigo e vamos acabar isso de uma vez — disse Maegor, sua voz cortante.

Aenys, sentado mais distante, suspirou e balançou a cabeça, como se estivesse cansado daquela situação.

— Não precisa ser tão ríspido, Maegor — disse Aenys, erguendo o olhar para o irmão mais novo. — Vamos escutar o que a nossa irmã tem a dizer.

Shaena observava os dois, seus olhos passando de um para o outro. Ela sabia que esse tipo de troca era comum entre eles. Desde pequenos, Aenys e Maegor haviam sido inseparáveis. Suas mães, Rhaenys e Visenya, engravidaram ao mesmo tempo, durante um dos períodos mais tensos do reinado de Aegon. Na época, o pai estava distante, focado em sua tentativa incansável de conquistar Dorne, deixando o governo nas mãos das duas rainhas.

Elas contaram muitas histórias sobre esses dias, mas a que mais repetiam envolvia os dois bebês ainda na barriga de cada uma. Rhaenys e Visenya passavam longas horas juntas, sentando-se lado a lado, permitindo que seus bebês, ainda no ventre, se comunicassem como se fossem gêmeos.

Por isso, eles eram inseparáveis e Aenys era a única pessoa que Maegor ouvia, apesar dos conflitos.

— Eu sei que tenho sido um pouco distante, mas... ainda sou a mais velha entre nós e quero você por perto.

Maegor riu, mas foi uma risada amarga.

— Mais velha? Apenas um ano, Shaena. Isso não faz diferença nenhuma. 

Shaena cruzou os braços.

— Faz diferença quando você age como se ainda tivesse metade da sua idade. Nós somos herdeiros de um reino, Maegor. Comportar-se como um menino mimado não vai nos levar a lugar algum.

— Eu? Mimado? Falou a garotinha do papai — disse Maegor, fazendo uma voz de deboche. 

Shaena não suportava ser chamada de mimada desse jeito. Principalmente porque era assim que muitos membros da corte a chamavam pelas costas. Ela sentia o peso constante de olhares julgadores, como se fosse perseguida desde o momento em que veio ao mundo.

E talvez tivesse sido, desde a noite de tempestade severa, como essa, que ela nasceu, três anos após a conquista de seu pai. Enquanto os ventos uivavam, a ansiedade tomava conta do castelo. A rainha Rhaenys entrou em trabalho de parto, com Aegon segurando sua mão e Visenya a outra, firme ao lado, oferecendo apoio. Após horas de esforço, os gritos de Shaena ecoaram pelo castelo. Orys, ouvindo o choro forte, acreditou que era o som de um príncipe herdeiro e anunciou a todos da corte. 

No entanto, ao verem a criança, não encontraram o esperado príncipe, mas uma filha, pequena ao nascer, mas feliz e saudável. Mesmo assim, Aegon, sem qualquer decepção, pegou Shaena nos braços, sentindo uma imensa alegria por sua primogênita. Era verdade que Aegon a mimava muito, pois tinha grande afeição por ela. Havia até quem dissesse que ele a escolheria para reinar um dia... Mas, muitos não aceitariam que uma mulher sentasse no trono de ferro. 

Shaena estava prestes a responder Maegor, mas Aenys, que havia permanecido quieto até então, levantou a mão.

— Chega! — disse ele, interrompendo a discussão antes que escalasse ainda mais. Seu olhar passou de Shaena para Maegor, exasperado. — Não podemos continuar assim, ou vamos nos destruir.

O silêncio se instalou por um momento, apenas o estalar das chamas preenchendo o ar tenso. Shaena respirou fundo, tentando recuperar a compostura.

— Foi exatamente por isso que os reuni aqui — disse ela, sua voz agora mais controlada. — Não somos mais crianças. O que está acontecendo entre nós precisa acabar. Somos... o legado dos nossos pais e a esperança do reino. E, acima de tudo, somos os filhos do dragão. Eu posso não ter nascido junto com vocês, mas crescemos juntos. 

Aenys olhou de um para o outro, esperando as palavras dela tivessem tido algum efeito. Maegor, por fim, recuou um pouco, ainda relutante, mas percebeu que Shaena estava falando sério.

— E o que sugere que façamos, então? — perguntou ele, com a voz mais calma.

Shaena olhou nos olhos de ambos, determinada.

— Nós vamos fazer um pacto. Podemos ter nossos desentendimentos, nossas brigas... Mas jamais romperemos nossos laços familiares. Somos os filhos do dragão, e nada nos separará. 

— E como exatamente vamos fazer isso? — Aenys interveio, interessado no que a irmã estava propondo.

Shaena respirou fundo, seus olhos percorrendo os rostos dos dois irmãos. Então, finalmente, tomou uma decisão.

— Precisamos de algo mais forte que nossas brigas. Um juramento que nos mantenha unidos, mesmo quando discordarmos. Eu li sobre isso em um livro de feitiçaria valiriana.

Aenys arqueou as sobrancelhas, curioso, enquanto Maegor cruzava os braços, claramente cético.

— Feitiçaria? — Maegor murmurou, um tanto descrente, mas ainda assim atento.

— Sim, algo dos tempos em que nossa linhagem ainda estava em Valíria. Eles faziam pactos que não podiam ser quebrados, nem pela morte. — Shaena se aproximou dos dois, com uma expressão séria. — Vamos selar nosso juramento dessa forma. Deem-me suas mãos.

Maegor permaneceu em silêncio por um instante, ainda relutante, mas sabia que havia verdade nas palavras de sua irmã. Ele trocou um olhar com Aenys, que assentiu lentamente, parecendo mais disposto a seguir adiante. A hesitação foi breve, e em seguida, os dois estenderam suas mãos para Shaena, completando o círculo.

Shaena sacou de sua cintura uma adaga pequena, um presente que ganhou de sua tia, quando completou doze dias do nome, há dois anos. O metal brilhou à luz do fogo.

— Vamos precisar do nosso sangue. — ela disse simplesmente, com um olhar determinado. — E ele deve ser derramado sob o fogo.

Sem hesitar, Shaena cortou a palma de sua mão, permitindo que o sangue escorresse lentamente. Ela passou a adaga para Aenys, que mesmo com uma careta de dor, repetiu o gesto sem questionar. Maegor, por fim, pegou a adaga com um olhar travesso, e fez o corte de forma mais agressiva, como se não sentisse nenhum incomodo. 

Shaena fez uma careta para ele, que o retribuiu com um sorriso travesso. 

Com as palmas sangrando, os três ergueram as mãos sobre o fogo e logo uniram as mãos, o calor do fogo tocando suas peles enquanto seus sangues se misturavam. As chamas pareciam responder ao sangue derramado, crepitando mais alto, como se reconhecessem o poder daquele momento.

— Sob fogo e sangue, fazemos este pacto — murmurou Shaena, sua voz baixa, mas cheia de significado. — Que nada nos separe, nem mesmo a ira dos deuses.

As chamas refletiam em seus olhos, agora ligados por um juramento que, na juventude, acreditavam que seria inquebrável. Mas nenhum deles sabia das provações que o futuro traria, desafiando até mesmo esse pacto.

𝐀 𝐅𝐢𝐥𝐡𝐚 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐧𝐪𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫💫𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐫𝐚𝐠𝐚̃𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora