━ vii. ♕

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By Maegor *

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Desperto com uma onda de água gelada atingindo meu rosto, me arrancando do sono com um choque. Acordo com a cabeça latejando e os olhos ardendo. O quarto gira, e a luz parece agressiva demais para essa hora da manhã. Meu corpo está pesado, como se eu tivesse lutado a noite toda — e, pela dor nos punhos e no maxilar, talvez tenha mesmo.

Tento verificar na minha memória, tento processar o que está acontecendo, mas sou logo interrompido pela voz de Aenys.

— Maegor, levanta! — ele ordena, com uma fúria que raramente vejo. Me sinto ainda mais tonto e irritado.

— Mas que porra... — resmungo, enxugando o rosto com a manga e me apoiando para me sentar no cama. — Que merda é essa, Aenys? Vai me acordar jogando água?

— Isso é o de menos — ele retruca, com um olhar furioso e o rosto tenso. — Você ao menos lembra de como voltou para cá ontem à noite?

Ainda tentando focar, encaro o rosto dele, mas a dor na cabeça parece afundar qualquer tentativa de memória clara. Lembro das tavernas, o cheiro de cerveja e o gosto metálico de uma luta.

Mas é claro que o rosto de Shaena surge no meio disso tudo, e uma sensação ainda pior do que a ressaca me toma. Me vejo de volta com ela, naquele momento em que a deixei, sem coragem de encarar o que eu realmente queria. Fui embora, como um covarde.

Solto um riso forçado, tentando não mostrar a fraqueza que sinto.

— Lembro de tudo, irmão. Foi só uma noite como qualquer outra.

Minto, porque não foi uma noite como qualquer outra. Não mesmo.

A noite passada foi uma mistura louca de emoções que eu nunca esperei sentir. Por anos, me forcei a odiar Shaena, a construir um muro entre nós, convencendo a mim mesmo de que ela era apenas uma menininha mimada, sempre com tudo o que queria ao alcance das mãos, enquanto eu só tinha migalhas de afeto e aprovação.

Shaena era o orgulho do nosso pai, sua herdeira favorita, destinada a grandes coisas — e eu? Um obstáculo, talvez uma sombra.

Mas eu sabia que ela era tudo que eu queria ser. E depois de anos tentando me convencer de que odiá-la era o único caminho, finalmente me vi à vontade com ela, como se todas as barreiras que eu construí tivessem desmoronado. Ela era tudo que eu queria e, ao mesmo tempo, sabia que nunca seria dela; ela pertencia a Aenys de uma forma que eu jamais teria. Sempre seria assim. Por isso, alimentar meu desprezo por ela parecia a única escolha lógica.

Mas quando a vi chorando, vulnerável e frágil, um desejo de confortá-la, de protegê-la, brotou em mim de uma forma que eu não podia ignorar. Sair com ela e conversar foi um alívio inesperado, um desabafo que se transformou em uma conexão que eu nunca soube que ansiava. E quando nossos olhares se encontraram antes do beijo, percebi que, ao invés de ódio, eu estava consumido por uma necessidade de amá-la.

Mesmo que isso signifique desmoronar tudo o que construí; eu não posso negar o que sinto.

Odeio que ela seja tão atraente. Odeio que sua boca seja tão gostosa e que meu corpo reagiu tão bem ao dela. Odeio que meu corpo inteiro nunca ficou tão arrepiado e sedento por uma mulher, como ficou por ela.

Porra, eu a odeio.

Odeio pra cacete.

A odeio tanto que me enlouquece.

𝐀 𝐅𝐢𝐥𝐡𝐚 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐧𝐪𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫💫𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐫𝐚𝐠𝐚̃𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora