The Snowstorm

Café

Setembro/2014.

Era um dia bem branco em Nova York, e por mais que as pessoas se agasalhassem contra a leve brisa que ocorria naquela época do ano, o outono estava bem acentuado: árvores ficando cada vez mais desprovidas de folhas, e o chão coberto de folhas secas por toda a cidade. Uma paisagem muito bonita por se dizer, já que era o habitual, antes que toda a neve começasse a dar as caras. Dali a alguns meses.

Naquele dia, ela colocou um vestido preto justo ao corpo, com saltos scarpins pretos, que contrastavam com a meia calça na mesma cor. Um batom vermelho sangue em seus lábios já era costume, mas não o casaco branco que usava por cima. Não para seus alunos ou outros professores do local. Ela geralmente ia apenas de preto. Sempre. Uma característica bem nítida de um luto que não passava a muito tempo, mas que em vez de ser mantido apenas pelo simbolismo, era mantido exatamente para que ninguém ficasse tentado a ficar tão próximo.

Claro que uma ou outra exceção eram realmente raras, e após a professora cumprimentar dois colegas de profissão a caminho da cafeteria, ela mesma estava se dirigindo ao local para seu ritual matinal.

– Um café preto por gentileza! - Ela pediu já direcionando a nota de pagamento ao garoto do caixa, exatamente como fazia todos os dias.

Regina era uma professora de literatura de 24 anos, tinha se formado a pouco mais de 2 anos, e já exercia o ofício na mesma universidade a qual obteve o diploma. Não que fosse uma surpresa, pois ela também estava terminando seu mestrado naquele mesmo lugar, e era a melhor da turma quando se formou.

Ela tinha uma rotina que prezava muito: Acordar, se arrumar devidamente, tomar um café expresso na cafeteria da Universidade, ir para a sala de aula. Por fim, ensinar os alunos e disciplinar os encrenqueiros. Ela sabia e admitia para si mesma, que era uma professora "pé no saco".

Não se importava com isso, sempre foi durona na queda, não mudaria agora.

— Aqui está senhorita Mills! — O atendente lhe entregou o pedido sorrindo, sorrindo demais para o gosto dela – Tenha um bom dia!

— Obrigada Richard! - Limitou-se a sorrir minimamente para o garoto.

Regina teve tempo apenas para um pequeno e saboroso gole de seu café, pois no segundo seguinte, sentiu seu corpo ser jogado ao chão perto do balcão, e uma voz meio incrédula começar a tagarelar sem parar e dar a devida chance para seus ouvidos entenderem algo. Após constatar que havia café por toda sua blusa de linho, subiu um olhar mortal para a pessoa que estava em pé.

— Por acaso, usa pessoas como saco de pancadas? Saí por ai derrubando café alheio? Anda olhando para o chão? — Esbravejou com a garota que estava na sua frente.

— Des... Desculpe senhora... — A garota de óculos balbuciou enquanto analisava a Mills que estava no chão ainda.

— SENHORITA!!!

A garota podia jurar que a veia na testa da mais velha saltaria para fora, a cicatriz que ela tinha próximo ao lábio, estava pulsando também de alguma forma... Isso era realmente possível?

Abaixou-se e pegou a pasta da professora, e colocou em cima do balcão após tentar constatar o tamanho do dano que havia causado. O copo foi o próximo, e ela o jogou no lixo ao lado.

Voltou-se para a mulher a sua frente ainda no chão, e começou a analisar a mesma. Morena, cabelos curtos. Cicatriz na boca. Olhos castanhos...

— Não esqueceu nada mocinha?

Emma Swan era seu nome, e odiava ser chamada daquela forma. Estudante de Design, não muito alta, cabelos loiros e olhos verdes tão claros quanto o verde da grama na primavera, infelizmente escondidos atrás de seus óculos com fundo de garrafa.

Desastrada para o terror das pessoas em volta, divertida para os amigos mais próximos. Incrivelmente rápida, se fosse preciso sair correndo de algum lugar. Ter 19 anos tinha suas vantagens.

— Me perdoa... — Pediu com um sorriso de lado meio triste, enquanto se abaixava para ajudar a morena a levantar. E ao analisar a mesma, vislumbrar o estrago que tinha feito na roupa da outra – Eu pago outro café... E posso te emprestar uma blusa minha.

Regina revirou o olho, mas começou a reparar na fisionomia da outra.

Alta, braços bem definidos para alguém da idade dela, provavelmente de uma leve academia diária, que apareciam por conta da regata justa que a loira usava. Calça agarrada preta e coturnos. Uma jaqueta vermelha aberta por cima da regata completavam o visual. Regina se pegou "gostando" demais de visualizar a garota.

"Que ridículo da minha parte" – Pensou ao notar os olhares dos outros clientes na cafeteria".

— Não preciso de outro café, estou atrasada para dar a minha aula. Senhorita...?

— Swan. Emma Swan — A outra respondeu rapidamente, olhando para a morena. - Quem sabe em outro momento então... Por favor, aceite a blusa e já troque aqui no banheiro do café mesmo. Ao menos isso. — Estendeu um suéter que havia retirado da bolsa e um lenço de pano para que ela passa-se pelo rosto depois que o lavasse no banheiro.

A morena ponderou aceitar ou não, mas não haveria tempo para trocar de roupa em seu apartamento. Aceitou a contragosto, e foi em direção ao banheiro pisando duro.

Quando voltou já trocada com as roupas da loira, que estavam um pouquinhos maiores, mas que caiam bem, a loira estava lá, com um café preto e um pedaço de torta de maçã embalados para viagem. Teve uma vontade súbita de sorrir, mas logo ignorou e jogou para bem longe de suas expressões faciais.

— Antes que proteste, gostaria de informar que já está pago e eu não sou muito fã de café expresso. Por favor aceite! Eu estava meio atordoada por ser o primeiro dia nesta faculdade, já que vim transferida, e me distrai demais... Estou atrasada para o estúdio de fotografia — A loira falava sem parar, e a morena aceitou calada vendo que ela parecia realmente arrependida da situação, e já começa a aceitar de bom grado as desculpas da menina até ouvir um pouco mais – Mas claro, se não tivesse ficado parada aí, brincando de princesa da porra toda. Provavelmente nada disso teria acontecido, Madame.

A garota era incrivelmente corajosa, ou realmente muito burra para falar daquele forma com Regina Mills, que agora tinha uma veia saltada na testa, pronta para explodir de tanta raiva. Era visível que queria matar aquela garota naquele exato minuto.

Graças a deus não era uma aluna sua!

Pegou suas coisas junto com a alimentação que tinha aceitado, e tentando manter a voz branda e baixa, se dirigiu a garota que tinha um sorrisinho desdenhoso.

— Tenha sorte senhorita Swan, para que eu não cruze com o coordenador Jones, que se não me engano... É coordenador do seu curso.— Sorriu com escárnio, enquanto via a menina ficar branca – Passar bem senhorita Swan! Um bom dia.

Ela saiu, deixando a garota parada dentro do café com a pior cara de descrente do mundo.

— Essa mulher ainda vai me ferrar!— Ela ainda pôde ouvir a loira dizer para alguém. Mas naquele momento não importa a quem. Ela queria apenas distancia daquela garota.