Marcas de Guerra

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Afeganistão – Novembro de 2020. / posto de vigia 2 – Base militar na Síria.

O dia estava mais quente que o normal, e nem mesmo a água que jogava no corpo em vez de beber, estava ajudando.

Tudo que conseguia ver pela frente da pequena janela da guarnição, era terra e poeira ao longe, e mesmo assim não conseguia ficar tranquila. Já havia bebido água suficiente que tinha em sua pequena base de vigia, e embora o dia estivesse tranquilo, podia ver ao longe, bem na linha do horizonte, algumas fumaças subindo de leve. Sabia que ali era algum tipo de emboscada que os colegas tinham feito para um grupo de rebeldes palestinos, que estavam a estreita no novo acompanhamento americano.

Olhou de relance para um calendário perto da porta, e constatou que já estava ali a pelo menos 4 meses.

4 meses sem falar direito com a esposa e com o filho, ou qualquer pessoa da família. Era raro os momentos de vídeo-chamadas, tentava aproveitar o máximo a única vez que tinha para isso na semana, e mesmo assim, quando mudaram de base, ficou um pouco mais complicado pela falta de sinal.

Emma era cabo do exército, e nunca tinha pensado na possibilidade de servir as forças armadas, se não fosse para que o pai lhe prometesse que ficaria em casa, quando foi convocado. Ele que já era um tenente aposentado, tinha sido convocado para voltar a ativa, para que fosse um piloto substituto caso necessário em uma missão pela Ásia durante 6 meses, com a promessa de que não seria mais convocado apesar da pouca idade que tinha.

Emma detestava o fato dos pais terem se casado antes dos 18, e terem tido a ideia de adotar ela e o irmão tão novos, aos 27. Eles eram incrivelmente novos e conservados para a idade, e o pai era o que tinha mais vida, ainda mais sendo policial ainda, mesmo aposentado do exército. Eles não tinha nem mesmo chegado ao 40 anos. Ela era orgulhosa deles, claro que era. Mas não deixaria o pai voltar, mesmo sabendo que o antigo recruta dele quem havia o convocado.

Killian Jones, era, sem dúvida, o maior filho da mãe do mundo, mas estava com ela nessa e era seu superior em comando. Ela daria a vida a ele, se fosse necessário, só pelas vezes em que salvou a vida dela nesses meses.

Ele tinha ido quase pelo mesmo motivo, o pai era amigo do pai de Emma, e eles não sabiam até que os dois velhos dos dois os colocassem frente a frente, para que fosse comunicado que iam voltar a ativa. E então veio as promessas, e os dois partiram cada um no lugar do próprio pai.

Killian havia servido o exército por 3 anos antes de decidir largar tudo e virar professor, e por isso tinha ganhado um cargo maior ao retornar dessa vez ao front, era o capitão do segundo esquadrão.

Era mais velho que Regina, e a conheceu quando se matriculou na faculdade. Tinham o mesmo círculo de amigos, apesar da diferença de cursos. E juntando o útil ao agradável, eles tinham um ao outro ali do outro lado do mundo, para que corresse de volta as famílias para falar sobre qualquer coisa que ocorresse.

Emma checou as horas novamente agoniada que o sol não baixava tão cedo, e mais ainda por constatar que faltava pelo menos mais duas horas para a troca de plantão, onde poderia finalmente tomar uma ducha e colocar outro uniforme menos pesado.

E foi quando ao virar novamente para a linha do horizonte, que avistou dois tanques americanos vindo com velocidade mais que o normal até a base. Em um deles, após forçar com uma lupa de vigia, verificou que Mathew, um colega de equipe estava em pé acenando para que abrissem logo o portão, indicando alguém ferido.

Ela deu o sinal para tal, e após constatar que não havia inimigos no horizonte, desceu da torre mediana de vigia, para ajudar no que fosse preciso.

Tudo se tornou uma correria sem fim, colegas puxando os amigos de dentro dos tanques, e todos eles ensanguentados demais. Um deles chamado Paul, ela notou que tinha perdido uma orelha e o rosto estava coberto com um pano molhado, provavelmente tinha sido queimado em algum resquício de um ataque de bomba.

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