Regina foi levada para a mesa de cirurgia e Emma ficou junto com a família da prefeita, aguardando na sala de espera. Já era madrugada e Cora estava pensativa, encostada na parede em um dos cantos da sala. Por sua vez, Emma permanecia sentada na primeira fileira de cadeiras, encarando as próprias mãos e observando a faixa que envolvia-lhe os dedos até o pulso direito.
Horas antes, uma enfermeira limpou os resquícios de sangue seco na mão da alpha, e achou melhor envolvê-la com analgésico, pois percebeu um inchaço se formando na mão direita.
Emma ainda relutou em aceitar os cuidados, insistindo que não era necessário, porque não estava sentindo dor na região, mas Cora praticamente a obrigou a ficar quieta para que a enfermeira pudesse fazer o curativo.
Agora, Emma lamentava não ter quebrado a mão afundando o rosto de Michael até explodir o cérebro do desgraçado.
— Não entendo... Como não pensamos em Michael, Henry? — Cora murmurou, atraindo o olhar do marido, que se sentou na última fileira no fundo da sala enquanto Madison e Henry II dormiam em um sofá encostado à parede lateral. — Michael é viúvo há alguns anos e também perdeu o vínculo com a companheira, quase na mesma época que Regina perdeu o dela.
Emma levantou a cabeça, prestando atenção no que Cora contava. A alpha não sabia praticamente nada sobre Michael, porque sendo justa, nunca tinha dedicado mais do que uns segundos para pensar qualquer coisa a respeito dele, e também não o cogitou como um forte suspeito, pois já tinha percebido a mordida de reivindicação no pescoço do homem e supôs erroneamente que Michael era vinculado a outra pessoa e não um alpha viúvo.
— Não adianta ficarmos pensando nisso agora, meu amor — Henry Senior disse baixinho, num tom contemporizador — Michael sempre foi tão discreto, tão..
— Invisível? — Cora completou com expressão melancólica — Acho que todos estávamos tão envolvidos com o luto de Regina, com a situação dela ser uma ômega viúva com dois filhos pequenos para criar, que praticamente não nos importamos com a perda, com o luto do Michael também.
— Michael mordeu Regina contra a vontade dela, Cora. O fato dos moradores desta cidade não terem dado muita importância para a perda do vínculo dele, não é justificativa para o crime que Michael cometeu. — Emma pontuou, não gostando do rumo da argumentação da alpha mais velha.
— Eu sei, querida — Cora sorriu fracamente — Acho que só estou tentando entender o que aconteceu. Por que alguém que conhecemos desde sempre, uma pessoa que parecia tão inofensiva, fez isso com a nossa filha? Toda essa situação é tão dolorosa e revoltante! — a mulher não segurou as lágrimas.
Emma e Henry Senior se levantaram praticamente ao mesmo tempo, ambos com a intenção de confortar a mulher mais velha, porém August Booth apareceu na sala de espera para dar notícias à família naquele momento.
Emma foi a primeira a avistar o homem e, sem demora, o abordou:
— Como Regina está?
Cora e Henry Senior logo se juntaram a alpha mais jovem, olhando com expectativa e alguma esperança para o homem, enquanto Madison e Henry permaneceram dormindo no sofá.
— A prefeita Mills reagiu muito bem à cirurgia. — August se apressou em dizer, querendo logo acalmar os pais e a namorada da ômega. A declaração do médico foi seguida de suspiros aliviados e alguns sorrisos discretos — Conseguimos parar o sangramento e fizemos um procedimento para restaurar a pele, onde a prefeita foi mordida. As crises convulsivas que ela teve eram uma reação adversa à substância marcadora que o sr. Tillman injetou na corrente sanguínea dela — explicou com calma e num tom baixo para não acordar os filhos da prefeita.
— Não o trate assim, chame-o do que ele é: um abusador — Emma o corrigiu, contrariada.
August fez um meneio com a cabeça, sentindo o cheiro agressivo que saía da alpha.
Henry Senior tocou no ombro de Emma, de maneira gentil e compreensiva.
— Mas vocês conseguiram tirar a substância marcadora de dentro da minha filha? — perguntou Cora, ainda pensando nesse fragmento da explicação de Booth.
O médico a encarou.
— Colocamos um dreno nela, mas como eu disse, a substância já tinha alcançado a corrente sanguínea da prefeita. É possível que o dreno evite futuras crises convulsivas, mas quanto ao vínculo com o... — August engoliu em seco — com o abusador, só com o tempo saberemos se foi ou não estabelecido. — ele olhou de Cora para Henry Senior, antes de parar em Emma — Sinto muito!
Os ombros de Emma caíram. Óbvio que ela estava feliz pela boas notícias sobre a cirurgia de Regina, mas, em outras palavras, aquele último aspecto do relato de Booth, representava uma possibilidade horrível de sua ômega estar vinculada ao maldito abusador.
"Ela não merecia isso... Por que não cheguei antes para protegê-la e matar aquele verme?", a alpha continuou revoltada, culpando-se em silêncio.
Henry Senior, percebendo a expressão de dor no rosto da alpha, colocou as mãos nos ombros dela e a fez se sentar enquanto Cora levava as mãos ao próprio rosto, permitindo-se chorar mais uma vez.
— Devemos acreditar na força de Regina — Henry Senior se pronunciou, olhando de Emma para a esposa — Nossa bebê sempre foi uma ômega obstinada e forte...Tenho certeza que, mesmo inconsciente, Regina está lutando para expulsar qualquer traço do veneno que o infeliz injetou nela. — o pai ômega pontuou, orgulhosamente confiante.
Cora olhou para o companheiro, sorrindo em meio às lágrimas.
— Você está certo! — a mais velha concordou — Peeira também vai nos ajudar... Porque ela sabe que nossa menina não merece passar por mais esse sofrimento — olhou para Emma e se aproximou da alpha jovem, pegando as mãos da outra entre as suas de maneira gentil — Independente do que aconteça a partir de agora, não abandone nossa filha — pediu com olhos marejados — Lembra quando te contei a lenda sobre os nossos ancestrais? — Emma fez que sim com um aceno de cabeça — Eu sei que para você isso pode parecer uma fábula boba, mas não é sempre que a lua do amor verdadeiro aparece. E, naquela noite, quando eu vi o vermelho e o platinado se juntando em nosso satélite no céu, tive a certeza que vocês estão destinadas uma para a outra... Confie em sua ômega, alpha! Não permita que o ato abominável de um homem doente, separe vocês duas, por favor! Mesmo em tão pouco tempo, você e ela já estavam construindo uma história tão bonita...
Emma continuou calada, pensando nas palavras de Cora. Ela não queria abandonar Regina, mas se o vínculo, mesmo que forçado, tivesse se estabelecido, era possível que a própria ômega passasse a rejeitá-la. Doía profundamente na alpha imaginar essa situação, mas como ela conseguiria se manter perto, se Regina passasse a afastá-la?
— Confie em sua ômega, alpha! — Henry Senior repetiu baixinho o que a esposa disse, apertando o ombro de Emma e entendendo o dilema dela, porque o futuro, infelizmente, poderia estar reservando uma provação, um teste de força para o amor nem sequer ainda manifestado em palavras pelas duas.
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When The Heat Comes [AboVerse | ShortFic ]
FanficQuando Emma Swan se mudou para Storybrooke, depois de receber um bar como herança, ela rapidamente se adaptou ao cotidiano naquela cidadezinha e, aos poucos, foi se familiarizando com as histórias (ou os boatos) que os clientes mais assíduos do bar...