Capítulo 17 - Abominável

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Emma não pensou muito, ela se jogou contra o alpha e o arrancou de cima de Regina. Num frenesi de violência, a alpha deitou Michael no soco, esmurrando sem trégua o rosto do canalha e quebrando-lhe o nariz, fazendo o sangue manchar os nós dos dedos dela e respingar no tapete aos pés do sofá, onde Regina permanecia inerte.

Depois de um tempo, quando percebeu que o homem desmaiara, Emma puxou o ar pela boca e sentiu as gotas de suor escorrer pelo próprio rosto. Com a adrenalina ainda correndo nas veias, ela girou a cabeça e verificou Regina, antes de se levantar de um salto para se aproximar da ômega inconsciente no sofá.

Mesmo na penumbra do escritório, a alpha logo percebeu o fio de sangue escorrendo da mordida de reivindicação, deixando uma mancha nefasta na gola do vestido da ômega.

Atormentada, a alpha entendeu que aquele sangramento não era normal e só desviou rapidamente o olhar de Regina, no momento em que escutou passos se aproximando da porta escancarada do gabinete.

— O que aconteceu aqui? — Walter, o guarda noturno, chegou perguntando. Ele segurava um lenço pressionado na cabeça careca e parecia confuso. — Alguém me agrediu por trás e me jogou no armário do zelador.

— Esse canalha estava agredindo Regina quando entrei no escritório. — Emma rosnou, meneando a cabeça com raiva para apontar Michael, que seguia desmaiado no chão — Ele a mordeu... — a alpha murmurou contrariada, sentindo a bile subir pela garganta enquanto pegava um lenço no bolso para cobrir a lesão no pescoço da ômega. — Preciso levar minha namorada para o hospital, então chame o sheriff Graham para prender esse desgraçado. — Emma disse com determinação, logo pegando Regina nos braços.

Walter ainda parecia desnorteado. Ele olhou da alpha para o homem caído e inconsciente no chão, mostrando uma careta ao perceber o estrago que Swan havia feito no rosto de Michael. O beta conhecia o dono da oficina desde sempre e estava em dúvida se devia acreditar na história da alpha, pois Tillman sempre foi um alpha pacífico. Essa história que ele atacou a Madam Mayor não parecia fazer sentido.

Por outro lado, Walter, assim como toda a população daquele vilarejo, já sabia que a ômega viúva estava se relacionando com a dona do bar há algum tempo e elas pareciam muito bem juntas.

Ainda em dúvida, o guarda tocou de modo espontâneo na arma que levava no cinto e fez menção de impedir Emma de passar.

— Minha namorada está desmaiada e perdendo sangue. Se você tentar me impedir de buscar ajuda para ela, eu não me importarei de deixá-lo caído no chão fazendo companhia a esse verme. — a alpha resmungou num tom afiado enquanto direcionava ao beta um olhar agressivamente vermelho.

Engolindo em seco, o guarda deu um passo atrás, sentindo um arrepio subir pela espinha. Ele nunca tinha visto um/a alpha mudar a cor dos olhos daquele jeito.

Sem mais objeção, Walter observou Emma passar levando a ômega protetoramente nos braços e soltou a respiração de uma vez. Ele olhou novamente na direção do dono da oficina e buscou, de maneira trêmula, o telefone sobre a mesa da prefeita para chamar o sheriff, assim como a alpha mandou.

///

Emma não sabe como não provocou um acidente a caminho do hospital. Ela estacionou a camioneta de qualquer maneira na entrada e tirou a jaqueta para envolver o corpo já mais frio de Regina, antes de entrar no saguão com a ômega nos braços, gritando por socorro.

Logo, dois enfermeiros apareceram e ela ajeitou a ômega na maca que eles trouxeram, acompanhando-os enquanto a prefeita era levada para uma sala particular, onde receberia o primeiro atendimento.

Nervosa, Emma explicou detalhadamente o que aconteceu, contando que Regina havia sido reivindicada à força por Michael Tillman. A ruga de preocupação que surgiu no rosto de August Booth não foi despercebida por ela.

Mas antes que a alpha pudesse questionar qualquer coisa, Regina começou a ter uma crise convulsiva sobre a maca e todas as atenções se voltaram para a mulher agredida, enquanto os enfermeiros tentavam controlar o ataque aplicando um medicamento nela.

Em desespero, Emma pedia explicações a esmo, tentando compreender o que se passava, mas dois alphas a seguraram pelos braços e a tiraram de perto da maca ao mesmo tempo em que uma cortina foi puxada para manter a privacidade da paciente.

A dona do bar lutou para se desvencilhar do aperto dos homens, querendo ir para perto da ômega, mas outros funcionários chegaram para tentar contê-la e, quase no mesmo instante, Cora entrou na sala onde Regina era atendida, encontrando Emma ainda lutando para se soltar.

— O que houve com minha filha? — a alpha mais velha olhou apreensiva de Emma para os outros. — Ligaram da recepção para minha casa e me disseram que ela deu entrada aqui, com uma laceração no pescoço.

Experimentando uma súbita sensação de culpa, Emma baixou os olhos, ficando quieta. Ela não podia encarar Cora, nem qualquer pessoa da família de Regina.

Segundos depois, Henry Senior, Madison e Henry apareceram na sala também, ostentando a mesma expressão de angústia nos olhares.

Os funcionários do hospital, percebendo a repentina mudança de Emma, e entendendo que aquele era um momento particular para a família, afastaram-se, deixando os Mills encarando com ansiedade a dona do bar.

Cora chegou mais perto da alpha jovem e tocou no ombro dela, confortando-a um pouco.

— Emma, nos conte o que aconteceu, por favor — a mais velha pediu.

Swan levantou a cabeça e seus olhos marejados encontraram os da mãe de Regina.

— Eu falhei em proteger Regina, Cora... — a alpha mais jovem disse de maneira trêmula — Michael Tillman é o autor das cartas anônimas. Eu descobri depois que ele a emboscou no gabinete da prefeitura e a reivindicou à força. — rosnou de dor — Eu a trouxe o mais depressa que pude para cá, mas ela perdeu muito sangue no caminho... sinto muito! — abraçou-se a mais velha, procurando amparo enquanto as lágrimas a cegavam.

Cora ficou em choque com o que acabara de ouvir. Madison e Henry se jogaram nos braços do avô em desespero e os três choraram juntos, sofrendo com a possibilidade de Regina estar correndo sérios riscos.

Ninguém queria pensar no que aconteceria com uma ômega, após uma reivindicação forçada e todos sentiam muito medo. Regina fora vítima de uma violência abominável e os pais dela compartilhavam do mesmo sentimento que Emma: eles se sentiam culpados por não ter estado lá para proteger a única filha.

When The Heat Comes [AboVerse | ShortFic ]Onde histórias criam vida. Descubra agora