Capítulo 14

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Charles e os amigos resolvem fazer uma fogueira na área externa da casa, enquanto as garotas improvisam algo para comer. Britt insiste em algo tradicional, como macarrão com queijo, enquanto Dana sugere alguns petiscos simples.

— Podemos fazer tudo isso. — Sugeri, pela segunda vez.

— Então você faz o macarrão, e fazemos petiscos. — Dana insiste.

— Está tudo bem, eu faço.

E assim é resolvido o problema do jantar.

Enquanto mexo os ingredientes na panela, sinto um arrepio percorrer minha espinha. Ao virar o olhar, percebi que Charles estava ali, observando-me. Fiquei instantaneamente desconcertada. Perguntas como "por que ele está me olhando?" e "será que fiz algo errado?" invadem minha cabeça.

Nunca fui o centro das atenções e, de repente, me sinto observada por todos os olhos da casa, e acho que tem sido assim, desde o incidente com Mandy, e a sensação de não estar mais na plateia, observando a vida de outras pessoas, é um tanto estranha para mim.

Tento manter a compostura, mas meu rosto está ficando cada vez mais vermelho e minhas mãos mais trêmulas. Enquanto luto para recuperar minha confiança, Charles dá alguns passos em minha direção, seu sorriso traz certo conforto.

— O cheiro está bom. — Ele comenta.

— Cheiro de queijo, Charles.

Eu rio.

Enquanto sirvo o macarrão em um prato, ainda sinto o peso do seu olhar sobre mim. Ele parece genuinamente interessado na minha maneira de fazer as coisas, como se eu realmente o afetasse. Aquilo me intriga, mas também me deixa com uma sensação agradável.

À medida que nos sentamos à mesa e começamos a desfrutar da refeição, percebo que a tensão inicial estava se dissipando. A presença dele já não me deixa tão tensa como antes. Pelo contrário, sua atenção parecia até um incentivo, um estímulo a mais para que eu conseguisse me encaixar com os demais.

Conversamos sobre diversos assuntos, descobrindo afinidades e compartilhamos risadas. Aos poucos, percebo que seu olhar atento não me incomoda tanto, e que ele valoriza minha autenticidade. É o que ele demonstra.

Enquanto todos vão para a beira da piscina beber, Charles e eu ficamos na área externa apreciando a vista, em silêncio.

— Gosto dessa tranquilidade. — Ele comenta, olhando para cima e suspirando.

— Você vem muito aqui? — Eu quis saber.

— Não o quanto gostaria, mas sempre que posso... A vida acadêmica é corrida demais.

— E seus pais, eles vêm?

— Meus pais? Ultimamente, não muito. — ele se vira para mim — Mas me fale de você.

— O que quer saber? Não tenho nada interessante para contar.

— Me fale da sua família.

— Minha família... Acho que ela é o mais normal possível. Meu pai é bombeiro e está se aposentando. Minha mãe é professora de piano.

— Então você toca piano?

— Tive aulas a vida toda, mas nunca vi isso como algo para seguir na minha vida.

— Irmãos?

— Tinha um irmão, o Noah... Leucemia.

— Sinto muito. Minha pergunta foi estúpida.

— Não tinha como você saber.

— Ainda assim, peço desculpas.

— Fazia tempo que eu não falava do Noah. Sempre era difícil falar dele sem chorar. Aprendi a conviver com a ausência dele.

— Sei bem como se sente, Allie.

— Sente falta da Daisy, não é?

— Muita. Era uma garotinha esperta e alegre, adorava tudo que era colorido. Vivia bordando as próprias roupas com uma máquina de costura, dessas bem pequenas, que minha mãe deu a ela. A partida dela deixou um buraco enorme, difícil de preencher.

— Podemos mudar de assunto, não quero vê-lo deprimido. Viemos aqui para relaxar, esvaziar a mente.

— Tem razão. Quer dar uma volta? — Pergunta.

— Quero.

A propriedade é tão grande que eu não imaginava que se estendia para o outro lado da cerca, que fazia parte do jardim muito bem cuidado. Acompanho Charles, que atravessa cercados de plantas e árvores majestosas.

— O que você faz quando não está estudando? — Questiona.

— Raramente não estou estudando, Charles. Mas, quando tenho tempo, gosto de ler, passar um tempo com George e Chloe.

— Você e George...

— Amigos. Somente amigos.

— Ele age como se fosse algo mais.

— Somos apenas amigos.

— Você tem alguém?

— Um namorado? Não. Não tenho tempo para isso. — cesso meus passos, ficando atrás dele — Está flertando comigo, Charles?

— Garotas como você não foram feitas para flertar, Allie. Sinto que você está longe do meu alcance...

— O que você quer dizer?

— Que me sinto atraído por você.

— Mas...

— Sempre tem um mas. Como eu disse, garotas como você não foram feitas para flertes e relacionamentos rasos.

— Está me dizendo que se sente atraído por mim, mas não quer se envolver. É isso?

Ele vem em minha direção, com tal confiança que me faz engolir a seco.

— Estou dizendo que gostaria de estar com você, mais do que realmente posso.

Ele chega mais perto, aproximando seu rosto, ao ponto de quase sentir o calor dos seus lábios perto dos meus. As borboletas no meu estômago dançavam freneticamente, enquanto meus olhos se fechavam em antecipação. O mundo parecia desaparecer ao nosso redor, deixando apenas o magnetismo entre nós.

No entanto, antes que nossos lábios pudessem finalmente se tocar, um estrondo ensurdecedor ecoa ao longe. O som abrupto nos faz afastar e nossos olhares se encontram, repletos de surpresa, e desapontamento.

Preocupados, corremos para o outro lado do jardim, tentando descobrir a origem daquele barulho repentino. Uma densa nuvem de fumaça pairava sobre o horizonte distante, e a agitação se espalhava entre nós, ao nosso redor.

Enquanto observávamos o caos se desdobrar, o momento íntimo que quase experimentamos foi interrompido bruscamente. Meu coração se acelera, mas agora com uma mistura de diferentes emoções. Mas uma parte de mim se perguntava se era aquilo mesmo que eu queria, beijar o Charles, e a outra parte me pedia para ir com calma.

O estrondo foi explicado. A moto de Joe, amigo de Charles, caiu sobre o carro de Matt, outro veterano em Ciências políticas.

Enquanto Joe levanta sua moto, vendo o estrago feito na porta do carro de Matt, Charles balbucia alguma coisa consigo mesmo, aparentemente irritado. Ele olha para mim, como se estivesse desculpando. Eu apenas balanço a cabeça, num sinal de que entendia, e que estava tudo bem.

Com o clima tenso entre Joe e Matt, fomos para os quartos mais cedo. Não conseguíamos nos comunicar sem ouvir as reclamações de Matt, que fazia Joe se desculpar mais uma vez, incansavelmente. Não tínhamos mais clima para continuar a diversão que fora interrompida. Charles também foi para o quarto, visivelmente chateado.

Fiquei com o quarto do andar de baixo, com Brittany, que estava animada para dividir o cômodo comigo, prometendo conversar a noite toda, mas não demorou nem cinco minutos para dormir, tranquilamente. 

Até você chegarOnde histórias criam vida. Descubra agora