Capítulo 23

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Depois de uma noite tentando me livrar das minhas insistentes divagações, vou para a aula me sentindo exausta. Se pudesse ficaria na cama, mas não posso me dar o luxo de faltar uma aula sequer, quando sou dependente de uma bolsa, o qual preciso manter minhas notas altas e limpas. Não quero fazer meus pais interromperem a lua de mel para me socorrerem ou se explicarem, o que quer que seja.

Eles estão se divertindo, viajando muito e fazendo vários planos. Há muito tempo eu não os via tão animados. Ouvi-los no telefone quase todas as noites é praticamente um bálsamo, mas não estava ajudando nas minhas preocupações.

— Sua cara está péssima! — George comenta, surgindo ao meu lado.

— Bom dia para você também.

— O que aconteceu?

— Nada. Só fiquei estudando.

— Você sumiu ontem. Achei que nos encontraríamos depois da biblioteca.

— Desculpe. Eu... estava com dor de cabeça, achei melhor ficar no quarto.

George estranha, mas não faz perguntas.

— Esteve com Chloe? Eu não a vi chegar.

— Nós saímos...

— Está ficando sério pelo jeito.

— Estamos indo com calma.

— Isso é ótimo.

Entramos na sala e sentamos lado a lado. O professor entra e a aula se inicia. Embora preciso me concentrar, minha mente foge para outro lugar, revivendo o diálogo com Tina, tentando juntar as peças do quebra-cabeça da morte de Mandy. Não cabia a mim investigar, era perigoso demais me envolver, mas tudo me arrastava para aquilo. Charles, James.

No fim das aulas, eu passo onde a Mandy caiu. Olho para cima, depois para o local da queda.

Permaneço parada em frente ao imponente prédio, observando a fachada que parece guardar tantas histórias. Enquanto minha mente vagueia, meu coração se aperta ao relembrar o momento em tudo aconteceu.

Aquele dia começou como qualquer outro. Eu não imaginava que algo tão trágico aconteceria. A rotina acadêmica havia me envolvido de tal maneira, fazendo-me mergulhar nos estudo, atenta ao controle que sempre imponho à minha vida, o mesmo acontece nas aulas e nas interações com meus colegas. Minha vida seguia uma linha reta, sem grandes desvios.

James cruzou meu caminho e meus planos se perderam com ele. Seus segredos e constante afastamento só alimentavam minha curiosidade e desejo de entendê-lo. No entanto, havia algo, além disso. Parece que nos atraíamos mais quando tentávamos nos afastar.

E é nesse turbilhão de sentimentos que a tragédia se desenrolou diante dos meus olhos. Mandy, tão cheia de vida e planos, caiu do último andar do prédio. O tempo pareceu congelar, meu coração acelerou e a aflição tomou conta de mim. Sem pensar em nada, corri em sua direção, movida pela urgência, tentando afastar o terror.

Enquanto me aproximava dela, cada detalhe se agravava em minha memória: os gritos ecoando pelos corredores, a multidão em estado de choque e Mandy caída no chão, imóvel e frágil. Meu corpo tremia, mas minha determinação era firme. Mesmo com medo, me ajoelhei ao lado dela, buscando qualquer sinal de vida.

Naquele momento, toda a minha vida passou diante dos meus olhos. As certezas e os planos que eu havia traçado pareciam pequenos e insignificantes diante da fragilidade da existência humana. Aquele acidente era uma dolorosa lembrança de que, às vezes, o destino nos surpreende com situações inesperadas, nos forçando a questionar nossas convicções.

Até você chegarOnde histórias criam vida. Descubra agora