Quinto copo de cerveja, e sinto minha mente dando voltas. George parece mais resistente ao álcool.
— Vou ao banheiro. — Aviso.
— Quer que eu vá com você?
— De jeito nenhum! — Faço careta — Eu já volto.
Esbarrando em alguns, pergunto onde fica o banheiro. Alguém diz que fica no andar de cima. Encontro a escada e subo, esbarrando em alguns casais. Procuro pelo banheiro, que fica no fim do corredor. Para a minha sorte, está vazio.
Graças a Deus.
Após usar o banheiro e retocar minha maquiagem, saio de lá, indo em direção à escada. Noto que há quadros na parede, com fotografias aparentemente antigas. Em algumas, há três garotos, entre uns sete e três anos, pequenos, abraçados de frente para um lago. Em outras fotografias, estão brincando e sorrindo. Concluo que sejam três irmãos. Em outra parede há um quadro maior, com a foto de um rapaz usando beca e um diploma, retratando uma formatura.
— É o meu irmão mais velho. — Alguém diz, por trás de mim.
— Ah, desculpa, eu só estava...
— Não tem problema. Sou Charles, o aniversariante.
— Caramba, desculpe. Feliz aniversário...
— Veio convidada por outros convidados. Acertei?
— Meio que isso. Sou Allie. Sou caloura.
— Ah... A Allie.
— Como assim a Allie?
— Você ficou meio popular após ajudar a garota que caiu do prédio da universidade.
— Não estou sabendo da minha popularidade. Acho que está me confundindo.
— As fofocas de lá são mais rápidas que a internet.
Eu rio.
— Acontece muitas coisas por lá. — Comento.
— Parece que sim.
— Ali, naquele quadro, são três irmãos? — Aponto para o quadro com três garotinhos abraçados.
— Sim. Tommy, eu e James.
— Eram bem fofos.
— Esperava que eu ainda fosse. — Sibila.
Fico desconcertada, sem saber o que dizer.
— Bom, é melhor eu voltar para festa. Vim acompanhada, e ele está me esperando.
— Seu namorado?
— Amigo. Apenas um amigo.
— Certo. Espero que se divirta, Allie. Obrigado por vir.
— Mais uma vez, feliz aniversário, Charles. Foi um prazer conhecê-lo.
— Igualmente.
Desço os degraus da escada e procuro por George, que não está mais no mesmo lugar. Encontro Chloe no meio de um grupo, sentindo-me aliviada.
— Viu George por aí? — Pergunto.
— Não o vi.
— Eu não consigo encontrá-lo.
— Realmente não o vi por aqui. Nem sabia que ele tinha vindo.
— Droga. Voltarei a procurar por ele.
Ela assente a cabeça, não dando a menor importância para o sumiço dele. Aparentemente, perdeu todo o interesse por ele.
Procuro-o por todo o canto, e conclui que ele pode ter ido atrás de mim, nos desencontrando. Volto para caminho do banheiro, perguntando por ele a todos que encontro. Deparo-me com um cara bêbado que tenta tocar no meu ombro.
— O que pensa que está fazendo? — Perguntei furiosa.
— Relaxa, gata. Não seja tão puritana.
Eu me afasto dele, atravessando o corredor que leva para o banheiro. Ele me segue e pega no meu braço.
— Me larga!
— Ei, vem aqui. Vamos conversar, gata! — Insiste.
— Eu já disse, me largue!
Ele segura meu braço com mais força, e tento me soltar a todo custo.
Alguém surge, dando um soco em seu rosto, fazendo-o cair no chão.
— Se tocar nela de novo, eu te arrebento! — Alguém diz, por trás de mim.
Olho para ver quem é. Ele, de capuz.
O rapaz, caído ao chão, se assusta, com os olhos arregalados, fixados nele.
— Você. É você, não é? — Questiono.
Ele não olha para mim. Se endireita, cobrindo mais o rosto com o capuz, e desce à escada, evitando contato visual. Eu o vejo saindo às pressas, desaparecendo no meio da multidão. Vou atrás dele, decidida a descobrir quem ele é, de uma vez por todas.
É incrível a sua habilidade de se despistar. Ele tem o dom de se transformar em um fantasma. Não o encontro, por mais que eu o procure. E ninguém sabe dizer se o viu, mesmo ele sendo um dos poucos que não estava fantasiado.
— Allie, o que faz aqui? — George pergunta, surgindo do nada.
— Estava... procurando uma coisa...
— Vamos voltar para a festa. — Sugeriu, puxando-me pelo braço.
— E onde você estava?
— Fui atender uma ligação. A festa está barulhenta e não conseguia ouvir nada.
— Te procurei por toda a parte.
— Estou aqui agora, com você.
Voltamos para a festa. Com a mente cheia, encarei a bebida, sem muitas preocupações. Tudo o que eu queria era relaxar, sem pensar em nada, sem me senti frustrada procurando por quem tanto fugia. Bebi, até sentir minhas feridas dormentes. Sem sentir saudades de Noah, que partira tão cedo de um mundo que lhe prometeu tanto para vivenciar. Sem pensar naquele ataque que ainda me aflige, e eu fingia estar tudo bem. Não estava nada bem. Sempre tenho pesadelos, acordo gritando, com medo. E tento viver a vida como se nada tivesse acontecido.
As risadas se tornam mais altas, a música mais envolvente, enquanto a bebida vai fazendo seu efeito em mim. A sensação de entorpecimento começa a se espalhar, diluindo as lembranças amargas e embaçando os contornos nítidos da realidade. Por um momento, parece que estou flutuando em um mar de esquecimento.
As pessoas ao meu redor parecem desfocadas, suas vozes distantes e confusas. Tento me levantar, mas minhas pernas não respondem, como se tivessem vida própria. Sinto-me tão vulnerável, perdida no meio da multidão, uma presa fácil para as minhas próprias emoções descontroladas.
A sala começa a girar, uma vertigem intoxicante que me arranca qualquer senso de direção. Apoio-me na parede, lutando contra a tontura, enquanto uma névoa turva encobre meus pensamentos. As lágrimas ameaçam escapar, uma mistura de frustração e desespero, que se mistura à embriaguez em meu corpo.
Enquanto me debato na tempestade emocional, uma sensação de impotência toma conta de mim. Eu me pergunto se aquele homem, esse fantasma fugidio que habita em meus sonhos e pensamentos, um dia terá a coragem de enfrentar o que tememos. Ou se continuará escapando, deixando-me nesse abismo de incerteza e dor.
A noite avança, e meu corpo exausto clama por descanso. Com a ajude de George, consigo me levantar e me afastar do tumulto. A rua é escura e silenciosa, uma melancolia acompanhando meus passos trôpegos. Prometo a mim mesma que, mesmo na minha vulnerabilidade, continuarei procurando respostas, só assim teria a paz que tanto anseio.
Em meio ao torpor de embriaguez, adormeço com a esperança frágil de que, um dia, encontrarei a clareza para encontrar o desconhecido, para enfrentar aquele que vive fugindo de mim e desvendar o enigma que envolve nossos destinos que parecem estar entrelaçados, ou era coisa da minha cabeça.
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Até você chegar
RomantizmAllie finalmente vai para a faculdade, e tudo estava indo como sempre planejara. No entanto, sua vida começa a virar de cabeça para baixo, e ela percebe que nem tudo está no seu controle, principalmente as coisas que acontecem no seu coração quando...