Capítulo 22

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  O clima do acampamento permaneceu por alguns dias na universidade. Ainda compartilhavam os acontecidos com quem não foi, ou apenas relembravam. E tinha também aquele grupo que aumentava as histórias, e que sou eu para corrigi-las?

Enquanto espero a atendente da biblioteca conferir os livros que estou devolvendo, um grupo de garotas ao lado cochicham, conferindo algo no telefone. Ouço o nome de Mandy, que me parece familiar. Não demora muito para me lembrar de que é o nome da garota que caiu do prédio.

— Não acho que foi um acidente. — Uma delas comenta, em voz tão baixa que quase não a ouço.

— Fique quieta, Paige. — Diz outra, olhando ao redor, tomando cuidado para não serem ouvidas.

Eu disfarço, sorrio para a atendente, que conferia o último dos cinco livros que peguei há alguns dias para as pesquisas.

— O Charles estava lá. Eu sei, porque o vi com ela horas antes, mas ninguém acredita em mim. — Uma garota de cabelos encaracolados e loiros, diz, com a voz chorosa e trêmula.

— Estou dizendo, fique quieta. Não se pode mexer com essa gente. — Outra diz, baixando o tom da voz como se fosse uma confissão.

Eu me recordo de quando Charles me disse que não estava com Mandy, porque estava com os amigos fora da cidade. Se aquela garota estiver falando a verdade, Charles estaria mentindo. Um botão de alerta se acende em minha mente. Se essa possibilidade existe, eu deveria ficar longe dele, e tudo pode ter acontecido naquela noite em que Mandy caiu do prédio.

Eu já estava de saída quando uma das garotas fica finalmente sozinha em uma das mesas de estudos. A mesma que comentou sobre Charles. Aproximo-me dela, sentando ao seu lado.

— Oi! Sou Allie, caloura em Biologia. Eu não pude deixar de ouvir um pouco da conversa de vocês...

Ela hesita, olhando para todos os lados.

— O que você quer?

— Fique calma... eu não quero nada. Só quero que me esclareça algumas coisas, é muito importante pra mim. O Charles estava com Mandy naquela noite?

Hesitante, ela me analisa.

— Eu não quero problemas para mim... — Diz, com a voz trêmula.

— Ei, eu não vou contar é ninguém. É que... preciso mesmo saber, e prometo que ninguém saberá de nada.

— Certo. Mandy estava comigo e outra colega, ela mandou mensagens para Charles, querendo vê-lo. Eles estavam saindo, mas parecia que ele não estava muito a fim dela, e meio que estava se afastando. Poucas horas depois, ele apareceu. Eu os vi conversando na sala do laboratório. Éramos para estarmos juntas, pois iríamos para um festival fora da cidade, mas ela decidiu ficar com ele. Duas horas depois, ela caiu do prédio.

— Ela tomava remédios controlados, certo?

— Sim, tomava. Mas havia parado. Alguém a convenceu de que os remédios viciavam, então ela acreditou, e começou ter crises.

— Quem a convenceu?

— Não sei. Mas isso foi alguns dias antes de Mandy cair do prédio.

Eram várias peças de um quebra-cabeça, e eu tento juntar em minha mente. Charles havia dito que não esteve com ela naquele dia, então mentiu.

— Como você se chama?

— Tina. Tina Blunk

— Tina, não comente isso com ninguém, está bem?

Até você chegarOnde histórias criam vida. Descubra agora