Amigos

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- Tem miojo - Júlia fala revirando os armários em busca de algo para gente comer.

- "Vamos almoçar na minha casa" - Gabriel resmunga numa voz fina tentando imitar a amiga - Se eu soubesse que não ia ter comida tinha trazido uma marmita.

- Você é cínico, vive comendo besteira, mas já que está reclamando cozinha - Júlia faz uma careta enquanto entregar-lhe uma panela.

- Dá próxima vez que eu vier aqui te trago um quilo de feijão. - Gabriel fala desviando do pano de prato que a garota joga nele.

Do sofá apenas observo a conversa cheia de farpas dos dois, apesar do tom de divertido, percebo que o garoto está realmente chateado querendo comida de verdade. Nota mental, não mexer com o Gabriel quando ele estiver com fome.

Em alguns minutos estamos devorando o arroz feito por Gabriel com molho de salsicha, sem jeito, entre uma colherada e outra, Júlia conta que tivemos sorte aquele dia, além de chegarmos de surpresa, sua mãe não tem hábito de cozinhar diariamente, as duas até mesmo preferem tomar café em vez de jantar.

Mal terminamos a refeição e a anfitriã volta para o fogão a fim de preparar os petiscos para nossa sessão de filmes, tudo muito gostoso, fácil de fazer e principalmente de comer.

Depois que Gabriel e eu afastamos os móveis Júlia traz almofadas coloridas e coloca sobre o felpudo tapete lilás, a vontade nós sentamos jogando conversa fora esperando os demais convidados, o que não demora a acontecer, duas moças e um rapaz logo chegam.

- Gente essa é a Marcela - Júlia me apresenta aos seus amigos.

- Sou a Mel - simpática a garota inesperadamente deposita um beijo estalado na minha bochecha.

Apesar de todos estarem usando roupas escuras, menos Gabriel e eu, é ela quem mais se assemelha a Júlia no estilo e recordo que já vi as duas juntas no dia que Danilo me chamou para roda de capoeira, sua gargantilha, que para mim mais parece uma coleira, é o destaque do seu look.

- Oii - Forço um sorriso constrangida.

- Liga não Ma, essa daí é assim - alfinetando a amiga Júlia chama todos para sala.

- Às vezes me esqueço que sua casa é tão colorida, e ainda tem cachorro quente com guaraná - o rapaz com piercings na sombracelha e na boca resmunga.

- Para de graça Alê, esperava que a gente deitasse em túmulos na sala bebendo vinho num crânio? Somos pessoas reais, não um estereótipo - a moça de mechas azuis no cabelo revira os olhos contrariada, e então percebo o quanto fui tola por pensar algo parecido.

- Deixa ele Drica, faz parte do seu charme ser chato. - Mel provoca o garoto.

- Prefiro esse role nos túmulos. Aqui tem muita cor e barulho, é uma tortura - Ale se pronúncia fazendo os outros rirem, então de modo teatral põe a mão no peito num suspiro: - Como é difícil ser um imortal imcopreendido.

- Corram, é o Alexandre o vampiro de Rio Santo. - Gabriel grita fingindo estar com medo.

- Gostei, é um bom nome para um conto - digo em meio ao riso.

- É por isso que está com a gente, deve ter alma de artista - Ale fala me lançando um olhar profundo que me deixa desconfortável.

- Ela é artista, precisam ver a poesia que escreveu. - Júlia para minha surpresa acha no celular o post do meu poema, Minha Beleza.

Seus amigos curiosos leem meu texto, fico maravilhada com os elogios gentis que recebo, lembro que sem o incentivo de Felipe jamais mostraria esse escrito com medo de ser julgada pelo o que penso e sinto transmitido nos versos, contudo agora ouço o quanto minhas palavras são belas e necessárias.

Delírios de Marcela  Onde histórias criam vida. Descubra agora