Amor No Ar

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Me reviro na cama sem conseguir dormir, minha cabeça ainda está sensível e dolorida devido às tranças.

Para durarem precisam ser bem apertadas e claro o peso de um cabelo maior também incomoda, contudo Amara garantiu que dura só nos primeiros dias esse desconforto, e não prejudica em nada meu cabelo.

Buscando um alívio vou tomar um banho, passo shampoo na raiz e massegeio o couro cabeludo, ainda que seja demorado fazer isso em todas as repartições, sigo os conselhos de Amara para manter meu penteado lindo e limpo.

- Caramba Marcela, é quase meia noite! - sonolenta Jéssica me censura.

Sussurro um desculpa, contudo preciso usar o secador, o cabelo não pode de jeito nenhum ficar úmido. Depois de seco prendo os fios num coque e percebo que lavar realmente funciona, a água quente deixou as tranças mais frouxas diminuindo a dor.

Antes de deitar outra vez vou para cozinha atrás de algo para comer, me surpreendo ao encontrar minha mãe acordada .

- Perdeu o sono. - questiona.

- Sim, e estou com fome - falo pegando um punhado de biscoito.

- Marcela - Sob seu olhar severo me afasto com a boca cheia. - Sai daqui menina, não atrapalha.

- Desculpe, vou te ajudar - me aproximo devagar.

- Está bem, pode fazer bolinhas com a massa. - me delega a tarefa.

Fico feliz em rapidamente pegar o jeito de enrolar a massa, sou melhor que fazendo coxinhas.
Do meu lado minha mãe põe pequenos pedaços de goiabada recheando os biscoitos quieta, às vezes flagro seu olhar cansado distante em algum lugar onde não consigo alcançar.

No que será que pensa? Talvez se refugie em alguma memória feliz, ou invente cenários de uma vida diferente. Adultos também se perdem fantasiando?

Os minutos escorrem por nós na noite silenciosa, e depois de algum tempo o sono vence a minha a vontade de ajudar, me despeço sem jeito por ir descansar, enquanto Luísa continua na madrugada cozinhando.

Me deito abraçando Fred, meu cachorrinho de pelúcia tão querido, rapidamente a escuridão da inconsciência me domina e adormeço.

Termino de lavar o rosto lutando contra o sono,o reflexo do espelho mostra meu novo visual, com todo carinho passo a mão pelas minhas tranças admirando o trabalho e a bondade da Amara.

- Você vai assim para escola? - Jéssica questiona me encara de cima embaixo no mesmo instante que saio do banheiro.

- Vou, qual é o problema? - com dúvida analiso minha camiseta conferindo se derrubei pasta de dente.

- Está normal demais, vem - revira os olhos me puxando para sentar na escrivaninha.

O móvel, que era para ter meu matérial escolar, está tomado por maquiagem, perfumes e esmaltes da minha irmã, depois ela ainda reclama que sou folgada.

- Não se mexe. Acha que é fácil ser bonita ?! - Jéssica me repreende.

Não posso protestar é minha irmã que tem um objeto pontudo apontado para o meu rosto.

Jéssica com paciência tenta igualar o delineado no meu olho esquerdo, é um pouco assustador tê-la tão gentil. Devo estar dormindo, o novo dia surgiu tão rápido que isso com certeza ainda é um sonho.

Não, minha sobrancelha latejando da limpeza que ela fez com a pinça é a prova que estou bem acordada. Será está comovida porque cortei o cabelo, ou é a alegria do novo emprego que está tornando-a tão amável!?

Delírios de Marcela  Onde histórias criam vida. Descubra agora