Novos Dias

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Com cuidado passo a flanela sobre a madeira marrom retirando o pó, sentada no sofá dona Maria fala saudosa do dia que ganhou a estátua de Nossa Senhora Aparecida do seu filho, cada pequeno santinho e objeto do altar improvisado é uma lembrança sua.

O cheiro de chá impregna o ambiente junto com sua fala mansa, inspiro o aroma guardando a paz dessa tarde em mim, sorrio para a falante senhora, não imaginei que limpar sua casa fosse lhe despertar tanta nostalgia, sua morada é cheia de memória que dona Maria alegre compartilha comigo.

Suas palavras aos poucos perdem o sentindo enquanto minha mente viaja para o olhar quente e penetrante de Danilo, a sua escuridão me capturando e despertando sensações estranhas no meu coração.

- Conheço bem esse suspiro, quem é o rapaz ? - o toque suave no meu ombro me traz para realidade.

- Não sei do que está falando - nego de imediato, contudo a mulher me observa com um sorriso esperto no rosto.

- Você não me engana menina, sou velha, não boba. Na sua idade também tinha minhas paixões, é tão bom - seus olhos brilham tomados por nostalgia.

- Gostar de alguém é muito complicado...

- O que aconteceu? - a senhora questiona notando minha inquietação.

- Uma amiga minha meio que brigou com quem ela gosta, e agora quer tentar se aproximar de novo, mas não sabe como... A senhora que tem experiência o que faria nessa situação?
- tento buscar ajuda sem expor a Isa e a Júlia.

- Marcela, por mais que tenha vivido muito, não dá para te dizer uma fórmula certa de ajudar essa sua '' amiga", porque cada pessoa tem seu próprio jeito de se relacionar. O meu conselho é ser sincera, falar o que está sentindo, se desculpar e dar tempo ao tempo, as coisas vão para o seu lugar, e o que tiver que ser será.

- A dona Maria, se fosse fácil assim... - lamento recordando a aflição de Isa.

- Vocês jovens não tem paciência, contudo é assim que funciona a vida, a gente faz o que está no nosso alcance e deixa o mundo seguir - a idosa com sua fala mansa logo começa a usar suas flores e plantas de exemplo, explicando que não dá para apressar a natureza, tudo segue deu próprio ritmo, é só deixar fluir.

Ouço sua sabedoria com atenção, ao mesmo tempo que compreendo seus ensinamentos, sei que essa não é a resposta que Isa espera de mim. A dúvida continua me atormentando, como vou fazer para Júlia e a cacheada voltarem a se falar.

Termino a limpeza e vou para casa uma sacola cheia de verduras que dona Maria fez questão de dar, ao entrar na sala sorrio com a cena que vejo, sentada no sofá minha mãe conversa animada com Cristina, as duas mulheres entretidas no assunto ignoram a televisão ligada num canal qualquer.

- Oii - cumprimento recebendo um aceno gentil de ambas.

Sigo rapidamente para o quarto, não quero atrapalhar, faz tanto tempo que ela não ver minha mãe, a companhia da Cristina faz muito bem à ela, é melhor terem a liberdade de conversar.

Me jogo na cama encarando o teto ainda tomada pelo cansaço, amanhã preciso voltar para recolher as roupas do varal, dobra e guardar.

-Quer? - de repente a porta é aberta revelando uma alegre Jéssica segurando uma caixa de chocolates.

- Delícia - suspiro mordendo o bombom que me deu.

- Foi presente do Guilherme, ele me pediu em namoro. - fala com um sorriso radiante em seus lábios.

- O quê? Me conta tudo. - fico empolgada querendo mais detalhes.

- Mas é curiosa - ri divertida - Já disse mais do que precisa saber.

Delírios de Marcela  Onde histórias criam vida. Descubra agora