A Verdade

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- Você é linda - a voz rouca sussurra suave no meu ouvido.

Viro para trás me deparando com o sorriso lindo de Danilo, seu olhar negro me envolve e ele me puxa pela cintura fazendo todo meu corpo queimar com seu abraço.

- Marcela - seus lábios se movem no meu pescoço chamando meu nome, contudo sua voz antes tão calma e sedutora vai se tornando um trovão exigente de grito.

-Marcela! - Jéssica rudemente puxa o cobertor me despertando.

- Cadê? - sonolenta procuro pelo o garoto que a instantes estava comigo despertando em meu corpo novas sensações.

- Levanta, a gente tem que ir na missa. - minha irmã fala impaciente.

Sua ordem me faz correr para o banheiro para tomar banho, não precisa explicar muito, o domingo é o dia sagrado para o meu pai e faltar na igreja é capaz de transformá-lo no próprio demônio.

Com rapidez me visto, e no espelho agradeço pela praticidade das tranças, não preciso de muito para em instantes meu cabelo estar lindo.

Abotoando minha sandália permito que meus pensamentos corram livres e logo o rosto bonito de Danilo toma conta da minha mente, depois da competição de skate, em que ficou em segundo lugar, chegou a falar comigo, porém foi tão breve, estava todo mundo em cima dele para tirar fotos e falar sobre a premiação.

Admito que fiquei triste de não ficarmos mais tempo juntos ontem, e só de pensar que quero que me beije de novo meu coração pula no peito cheio de expectativa.

Será que vai a missa hoje?

- Bom dia - o sorriso estampa o rosto cansado da minha mãe ao me ver chegar na cozinha.

Me sento para comer o desejum aspirando o delicioso cheiro de pão recém assado, me perguntando se minha mãe acordou mais cedo para cozinhar para nós ou passou a noite no fogão sem dormir.

Mastigando a massa macia, reparo no seu vestido longo de botões deixando Luísa séria e estranhamente mais envelhecida, ao servir o café na xícara do meu pai, vestido também de modo formal, até com gravata, os dois trocam um olhar perturbadoramente doce.

O ato de cuidado da minha mãe para ele me soa tão distante da relação conturbada dos dois, é como se eu tivesse assistindo outra família, o sentimento de insatisfação só piora quando Jéssica surge no cômodo, o cabelo num coque extremamente organizado, sem um fio sequer fora do lugar.

Observo minha irmã interrogando com os olhos, entretanto não parece perceber meu questionamento, terminamos de comer e vamos para o carro, como de praxe o meu pai liga o rádio mudando de estação até que o timbre inconfundível de Tim Maia preenche o veículo, contagiada pela música minha mãe cantarola baixinho.

– Gosto tanto da sua voz minha preta. – elogia pousando a mão por instante na perna da minha progenitora.

O gesto afetuso anima Luísa que solta a voz cantando livre, para minha surpresa Jéssica também começa a acompanhar, rapidamente uma onda repentina de alegria nos preenche, sem qualquer vergonha, movidos apenas pela fugaz harmonia, nós quatro desafinamos juntos ao som de Não quero dinheiro

'' A semana inteira fiquei esperando para te ver sorrindo, pra te ver cantando.
Quando a gente ama não pensas em dinheiro, só se quer amar''

 Quando a gente ama não pensas em dinheiro, só se quer amar''

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