A beleza do firmamento é maior no parque mal iluminado, as conversas e risadas de repente não tem mais significado para mim, começam a me sufocar, então me afasto do grupo, ignorando a pele sendo pinicada pela grama me deito observando atentamente o céu.
– Você está bem? – a voz de Danilo vem até mim.
– Estou sim, só estou olhando as estrelas – respondo sem desviar minha atenção do espaço infinito.
– A noite está mesmo linda, também gosto de olhar o céu – o garoto se senta do meu lado.
– É bonito de um jeito triste, a luz que a gente vê são de estrelas que estão muito distantes ou até mesmo mortas, o céu é um cemitério brilhante – reflito contemplando a amplidão celeste.
– Tem razão, é como observar o passado, talvez até mesmo mundos que já foram destruídos. Acredita em vida fora da terra? – indaga curioso.
– Seria egoísmo demais pensar que num universo tão vasto só existem nós humanos. Talvez não seja bobagem fazer pedidos às estrelas, vai que algum ser espacial ouve e realiza. – com esperança fecho os olhos desejando uma vida mais feliz onde não tenha um pai violento e uma mãe incapaz de se proteger e me proteger.
Busco toda fé que existe em mim e mentalizo uma casa de paz e união, onde não tem brigas, choro ou palavrões, onde meus pais se amam e se respeitam, onde Jéssica e eu somos melhores amigas, deixo meu corpo todo ser tomado por essa vontade, lembrando das meditações guiadas que ouvi.
– Está dormindo? – Danilo questiona tocando meu ombro com leveza.
– Não, fazendo um pedido. – viro na sua direção e explico vendo o quanto fica bonito sob o brilho da lua.
– Parece triste. – seus olhos miram meu rosto, tão escuros e profundos quanto céu acima de nós.
– É que lembrei que o sol também é uma estrela que um dia vai fazer parte desse cemitério. Tudo vai acabar, toda a vida que a gente tenta construir vai desaparecer... – as palavras escapam enquanto o vazio toma conta de mim, pedidos às estrelas não são reais, daqui a pouco vou estar em casa e tudo vai continuar horrível como sempre.
Me levanto pronta para ir embora assim que as lágrimas escorrem pelo meu rosto com a dura veracidade que me atingiu.
– Ei, pode conversar comigo – pede com a voz suave.
– É muito complicado – sussurro passando a mão no rosto para limpar o choro.
A escuridão dos seus olhos encontra com os meus me chamando para caminhar na noite dentro de si, nesse instante infinito me perco no seu olhar sendo tomada pelo seu negror que me engole.
Inesperadamente Danilo corta a distância entre nós, me encolho tensa com o contato repentino dos seus braços em torno de mim, surpresa fico quieta sentindo o calor do seu corpo me envolver.
– Me desculpe, é que estava chorando e eu... eu – atrapalhado com as palavras faz menção de afastar diante da minha reação, contudo passo a mão nas suas costas trazendo-o de volta para mim apertando o abraço, colada a ele deito a cabeça no seu ombro, o leve, porém marcante perfume me inunda e inspiro seu cheiro cítrico.
– Você tem cheiro de limão – confesso, diante da minha fala Danilo abaixa o rosto respirando no meu cabelo, com o gesto um calor estranho queima dentro de mim incendiando minha barriga que borbulha formigando.
– Você tem cheiro de chocolate. Seu cabelo é tão macio – mergulha os dedos nos fios da minha nuca num afago que me faz estremecer, cada parte do meu corpo vibra arrepiando até meu coração bater agitado.
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Delírios de Marcela
Novela JuvenilMarcela é uma garota romântica e sonhadora que encontra nos livros o seu refúgio particular. Sem julgamentos, é na literatura onde ela pode ser quem quiser: uma mulher empoderada e dona da própria empresa, uma super-heroína, uma grande atleta ou até...