A Cidade Branca

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Por três dias e três noites, Gandalf e Pippin cavalgaram sem parar. O hobbit as vezes cedia ao cansaço, e dormia mesmo com as batidas ritmadas de Shadowfax sob ele. Mas Gandalf estava sempre acordado, alerta a qualquer perigo ou sinal de ataque.

Pippin estava apenas meio acordado, quando Gandalf disse à ele.

- Acabamos de entrar no reino de Gondor.

Eles continuaram cavalgando, até que Shadowfax subiu uma colina, e no topo, ele parou.

À frente, havia uma grande planície, e no final dela, uma montanha. Na própria montanha, estava a cidade de Minas Tirith, a Cidade Branca. Suas muralhas e casas se estendiam em diferentes níveis, tomando a lateral da montanha.

Pippin pensou, enquanto Scadufax voltava a correr em direção à cidade, que o lugar era belo, e parecia brilhar a luz do sol. Mas ao mesmo tempo, exibia uma aura de força, e grande poder.

No centro da praça, que ficava na frente palácio de Denethor, regente de Gondor, havia uma árvore. Uma árvore branca, ressecada, como se estivesse quase morta. Pippin lembrou de sua visão e a observou, admirado, enquanto seguia Gandalf até as grandes portas brancas. Na frente delas, o mago parou.

- Agora, preste atenção. Lorde Denethor é o pai de Boromir. Não seria sábio contar-lhe da morte de seu amado filho. E não mencione Frodo, nem o anel. Não diga nada sobre Aragorn também. - Gandalf se virou, como se fosse entrar, mas então se voltou para Pippin e completou - Aliás, é melhor que não diga nada, Peregrin Tûk.

Com essas palavras, os dois entraram na grande casa de Denethor.

Um grande salão se estendia à sua frente, parecido com aquele de Meduseld, o Palácio Dourado de Théoden. Era comprido, e ao longo dele, estátuas brancas de antigos reis os encaravam das paredes. No final, um trono branco se erguia sobre uma pequena escada de pedras. Em um trono negro posicionado abaixo das escadas, estava Denethor.

Ele era um homem velho, com longos cabelos cinzentos que lhe caíam sobre os ombros. Sentava-se curvado, como se carregasse o peso do cansaço e de diversas preocupações. 

- Salve Denethor, filho de Ecthelion, senhor e regente de Gondor. - Gandalf saudou, sua voz ecoando pelo salão. - Trago notícias nessa hora tão sombria.

Denethor ergueu seu corpo, para olhar os recém chegados. Pippin notou que o olhar do regente era vazio, destituído de qualquer cortesia. Mas, ao ouvir as palavras de Gandalf, algo parecido com raiva começou a aparecer em seus olhos. Nesse momento, ele percebeu que Denethor segurava algo em seu colo. 

A corneta de Boromir, partida ao meio. Pippin observou, com os olhos arregalados, enquanto Denethor respondia.

- Talvez tenha vindo explicar isto - O regente disse, erguendo as duas partes da corneta em suas mãos. Seu olhar agora tinha passado da raiva, para um ódio profundo. - Talvez tenha vindo me dizer por que meu filho está morto.

Gandalf não respondeu imediatamente, e então, Pippin deu um passo a frente. Esquecendo todas as recomendações anteriores do mago, ele disse:

- Boromir morreu para nos salvar. Meu parente e eu. Ele morreu nos defendendo de muito inimigos.

Com isso, o hobbit avançou até se aproximar de Denethor, e se ajoelhou na frente do regente. Manteve seu olhar fixo no chão.

- Ofereço-lhe meus préstimos. Os que tenho, em pagamento desta dívida. - ele completou, e então ficou em silêncio.

O olhar de Denethor continuava frio, mas agora parecia haver um pingo de satisfação nele.

- Esta é minha primeira ordem a você - ele disse devagar - Como você escapou, e o meu filho não, mesmo sendo tão forte quanto era?

- Até o homem mais forte pode ser morto por uma flecha - Pippin disse. - E Boromir foi atingido por várias.

Denethor voltou seu olhar para baixo, como se sentisse dor. Gandalf bateu com seu cajado no hobbit que permanecia ajoelhado.

- Levante! - ele ordenou. E então, se virou para Denethor - Meu senhor, haverá um momento para chorar por Boromir. Mas a hora não é agora. A guerra se aproxima. O inimigo está chegando à sua porta. Como guardião, é responsável pela defesa desta cidade, onde estão os exércitos de Gondor? Ainda tem amigos, não está sozinho nessa luta. Mande mensagem para Théoden, de Rohan. Acenda os faróis.

Denethor, que tinha ouvido o discurso com um olhar cada vez mais frio, sorriu levemente com escárnio.

- Você se acha sábio, Mithrandir. Apesar de sua inteligência, você não é sábio. Acha que os olhos da Torre Branca são cegos? Vi mais do que você sabe. Com sua mão esquerda você me usaria como escudo contra Mordor e com a direita tentaria me derrubar. Eu sei quem está com Théoden de Rohan. Ah, sim, já me falaram desse tal de Aragorn, filho de Arathorn. E digo a você agora, não me curvarei à esse cavaleiro do norte, o último de uma linhagem remota á muito privada de sua posição!

- Não lhe foi dada autoridade para negar o retorno do rei, regente! - Gandalf afirmou em resposta, seu tom subindo levemente.

Ao ouvir essas palavras, Denethor se levantou de seu trono num movimento agressivo.

- O governo de Gondor é meu! - ele gritou - E de mais ninguém!

Ao ouvir isso, Gandalf se virou de costas, e, com Pippin o seguindo, deixou o salão de Denethor sem mais uma única palavra.

- Tudo virou uma ambição vã! - ele disse para Pippin enquanto o hobbit tentava acompanhar seus passos largos - Ele usaria até sua própria dor como desculpa.

Eles saíram para o exterior, e ao longe, Pippin viu a nuvem negra que era Mordor, a luz alaranjada do fogo brilhando em meio à escuridão. Seu coração se encheu de medo.

- Durante mil anos essa cidade resistiu. Agora, pelos caprichos de um louco, ela cairá. E a Árvore Branca, a Árvore do Rei, nunca mais florescerá.

- Por que ainda a estão guardando? - Pippin perguntou.

- Porque ainda tem esperança - o mago respondeu - Uma esperança fraca de que um dia florescerá. Que um rei virá, e esta cidade voltará a ser como foi antes de ter decaído. 

Um caminho de pedra se estendia sobre uma grande parte da montanha, que se estendia além do pátio da Árvore Branca. No final desse caminho, depois de uma pequena mureta de tijolos brancos, o abismo de um penhasco caía.

- A velha sabedoria vinda do oeste foi esquecida. Os reis fizeram túmulos mais esplêndidos do que as casas dos vivos. E deram mais valor aos nomes de seus ancestrais do que aos de seus filhos. Senhores sem filhos sentaram-se em palácios antigos, meditando sobre heráldica. Ou em altas torres frias interrogando as estrelas. E então, o povo de Gondor viu a ruína. A linhagem de reis fracassou, e a Árvore Branca ressecou. O poder de Gondor foi dado à homens inferiores.

Pippin caminhou até a mureta, encarando a escuridão de Mordor, e o fogo que parecia emergir dela. Nuvens cinzentas se erguiam sobre a terra amaldiçoada, e de quando em quando, trovões ribombavam. O prelúdio de uma guerra, que estava cada vez mais próxima.

- Mordor - o hobbit disse, com um sentimento sombrio em seu coração.

- Sim - Gandalf concordou - É lá que está. Esta cidadela sempre existiu à vista de sua sombra. 

- Uma tempestade vem aí.

- Esse clima não é deste mundo - o mago respondeu apenas, seus olhos fixos na enorme sombra. - É um truque criado por Sauron, um manto de fumaça que cobre seu exército. Os orcs de Mordor não amam a luz do dia, então ele cobre a face do sol para facilitar sua passagem pela estrada para a guerra. Quando a sombra de Mordor atingir essa cidade... Tudo começará.

Pippin engoliu em seco.

- Bom. - ele disse - Minas Tirith. Impressionante! E... para onde nós vamos agora?

- É tarde demais para isso - Gandalf respondeu, tirando o sorriso do rosto do hobbit - Não sairemos dessa cidade. A ajuda deve vir ao nosso encontro.









O Retorno do Anel #3Onde histórias criam vida. Descubra agora