O Início

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Era noite. Pippin encarava o uniforme estendido em sua cama, negro com o símbolo da Árvore Branca de Gondor. Gandalf fumava na varanda, do lado de fora.

- Então, imagino que essa posição é apenas simbólica. Quer dizer, eles não esperam que eu lute para valer, não é? - o hobbit perguntou, lançando um olhar nervoso para o mago.

- Está a serviço do regente agora, terá de fazer o que lhe for mandado, Peregrin Tûk - Gandalf respondeu, e então tossiu. Pippin foi até ele com um copo d'água. O hobbit encarou o céu escuro.

- Não tem mais estrelas - ele notou, preocupado - A hora chegou?

Gandalf demorou alguns segundos para responder.

- Sim - ele disse finalmente. O hobbit se apoiou na amurada de pedra.

- Está tão quieto.

- É o fôlego que se toma antes do mergulho.

- Eu não quero participar de uma batalha. Mas esperar pelo início de uma que eu não posso escapar é ainda pior. - o hobbit fez uma pausa, antes de suspirar - Há alguma esperança Gandalf? Para Frodo e Sam?

Gandalf se apoiou na amurada ao lado do hobbit. Apesar das circunstâncias, estava decidido a não mentir para Pippin, mesmo que com o objetivo de protegê-lo. Mesmo assim, não queria que o hobbit perdesse completamente as esperanças.

- Nunca houve muita esperança - ele disse, e então sorriu ao olhar para Pippin - Só a esperança dos tolos. - ele fez uma pausa, olhando para o fogo que brilhava à distância - Nosso inimigo está pronto. Reuniu todas as suas forças. Não apenas orcs, mas homens também. Legiões de Haradrim no sul, mercenários do litoral. Todos responderão ao chamado de Mordor. Este será o fim de Gondor como a conhecemos. Aqui, o golpe do martelo será o mais forte. Se o rio for tomado, se a guarnição em Osgiliath cair, a última defesa desta cidade acabará. 

- Mas nós temos o Mago Branco - Pippin disse, com um pequeno sorriso - Isso tem que contar alguma coisa. 

Gandalf não retribuiu o sorriso, apenas voltou seu olhar para longe.

- Gandalf?

- Sauron ainda vai revelar seu servo mais mortal - o mago continuou, sério - Aquele que irá liderar os exércitos de Mordor na guerra. Aquele que dizem que nenhum homem vivo pode matar. É o rei dos bruxos de Angmar. Já o viu antes. Ele esfaqueou Frodo no Topo do Vento.

Pippin não respondeu, se lembrando do momento sombrio. Dos vultos de capa, dos guinchos assustadores, do grito de Frodo. E da batalha terrível que acontecera. Aquelas coisas voltavam, vez após outra, por mais que Aragorn e Aerin os acertassem.

- Ele é o senhor dos Nazgûl - Gandalf continuou - O maior dos Nove. Minas Morgul é seu covil. 

Naquele momento, um feixe de luz branca atravessou a escuridão, vindo do fogo de Mordor em direção ao céu. Pippin estremeceu, com uma pequena exclamação de horror. Todos os guardas de Gondor viram a luz, e seus olhos brilharam de medo.

Gandalf colocou um braço ao redor dos ombros de Pippin, em um gesto de conforto. Mesmo assim, não podia tirar o medo crescente do coração do hobbit.

...

Faramir, filho mais novo de Denethor, regente de Gondor, estava preocupado.

Ele liderava a resistência da guarnição de Osgiliath, e tinha visto a luz branca no céu. Ele se aproximou de um homem, que vinha vigiando a aproximação de qualquer inimigo. O homem era velho, e seus cabelos eram grisalhos, mas era forte como um guerreiro deveria ser. Faramir por sua vez era bonito, jovem e forte, e apesar de sua idade, muito sábio. 

- Tem estado calmo do outro lado do rio - o homem disse, sua voz inexpressiva - Os orcs estão aguardando. O esquadrão pode ter saído. Enviamos batedores, se os orcs atacarem pelo norte, seremos avisados. 

Há apenas alguns dias atrás, Faramir tinha capturado dois hobbits, e uma criatura estranha. Descobrira que um deles portava o Um Anel, aquele criado por Sauron para governar todas as raças da Terra Média. Seu coração se acendera ao perceber a preciosidade do que tinha em mãos, e sabia que deveria levar o anel para Gondor, para seu pai. Para que assim ele o usasse como uma arma contra o inimigo.

E era isso que Faramir tinha feito, contra a vontade dos hobbits, e arrastando a infeliz criatura, Gollum, que havia prometido guiar Frodo e Sam até a Montanha da Perdição em troca de sua vida. Apesar disso, depois de um ataque dos Nazgûl, ele ouviu o que o hobbit louro tinha a lhe dizer.

Ele disse que a única maneira de acabar com tudo aquilo seria se o anel fosse destruído. Ele viu com os próprios olhos o que o anel fizera ao outro hobbit. Ele estava pálido, e sua voz se tornava sombria quando sentia a aproximação dos cavaleiros negros. Faramir percebeu naquele momento que o anel tinha vontade própria, e que aqueles hobbits vinham lutando para levá-lo até o fogo de Mordor. 

Foi quando Faramir tomou uma decisão. Ele decidiu ouvir o hobbit, e libertar os três, mesmo sabendo que pagaria com a própria vida por isso. Ele deixou que Frodo e Sam partissem, com a patética criatura, Gollum, os guiando. A última coisa que pôde fazer, foi alertar os dois para que não confiassem nele. O caminho que seguiam era amaldiçoado. 

O que ele não sabia naquele momento, era que, em meio à neblina, os orcs se aproximavam sorrateiramente em barcos a remo, mantendo silêncio quase absoluto, sem chamar a atenção da guarnição. 

O primeiro sinal de que estavam sendo atacados, foi o corpo de um homem rolando uma escada de pedra, com uma flecha enterrada em seu peito. Só então, o alarme foi soado.

- Eles não estão vindo do norte - Faramir disse finalmente, e então, correu - Para o rio, rápido! Vamos, vamos!

Os homens reuniram suas armas, e seguiram suas ordens sem cogitar. Embora Faramir não fosse o filho mais querido por seu pai, o regente, era um comandante muito respeito em Gondor.

Os orcs aceleraram os remos, se aproximando cada vez mais. Centenas de barcos, não mais escondidos pela névoa se tornaram agora visíveis para os homens da guarnição, que correram para interceptar o ataque ao mesmo tempo que os orcs desembainhavam suas espadas, e começavam a pular para a terra firme, sem saber que tinham sido vistos.

Faramir, junto com um grupo de homens que o acompanhava, se escondeu atrás dos grandes arcos de pedra que marcavam a entrada da fortaleza. Podiam ouvir o ruído dos orcs saindo dos barcos, se preparando para o ataque. Com as espadas em punho, eles se prepararam também. Com sorte, poderiam pegá-los de surpresa.

No momento que os orcs correram para dentro, passaram direto pelos guerreiros sem notá-los. Então, de repente, Faramir deixou sua posição, atacando as criaturas impiedosamente com sua espada. Seus homens o seguiram com gritos de batalha.

Um após o outro, Faramir derrubava os orcs a sua volta. Mas eles eram muitos, e para cada um que derrubava, mais dez pareciam surgir da terra. Mesmo assim, a determinação dos homens não falhava.

Faramir iria defender seu reino e sua honra, ou morreria lutando.

O Retorno do Anel #3Onde histórias criam vida. Descubra agora