Do Outro Lado da Porta de Uma Camionete Enferrujada

Capítulo 24

         Toda a arquibancada gritava nos últimos instantes do jogo, porque a partida estava empatada e eles definiriam o time vencedor. Eram umas 19h da noite e jogávamos contra um time de uma escola de Sacramento. Esse era um jogo definitivo para as regionais de Lacrosse.

         Eu atravessava o campo correndo, pronto para receber a bola. Justin olha para mim e entendo o que ele quer dizer. De repente, é como se todo o resto ao meu redor fora aquela bola – que caía perfeitamente em meu bastão – ficasse em câmera lenta. Não paro de correr em nenhum momento, até que em um impulso arremesso a bola em direção ao gol e quase fecho os olhos, no nervosismo de não saber se o goleiro a pegaria ou não.

         Um segundo de silêncio, em que a tensão predominava em todo aquele campo. O placar dizia 5 segundos para o jogo acabar. Agora ele marcava também mais um ponto para Beacon Hills High. Gritos ecoavam depois do apito final do juiz. Meu coração disparava. Nosso time se abraça e depois cumprimentamos os adversários com apertos de mão. Agora estávamos classificados para a final. Todos nós estávamos muito felizes e não podíamos evitar sorrisos de orelha a orelha.

         Tiro o capacete e ouço várias pessoas gritarem "Liam! Liam! Liam!" da arquibancada. Aceno nessa direção, em agradecimento, e vejo onde meus amigos estavam lá no meio. Meu olhar encontra o de Theo que sorria para mim.

         Quando eu e os outros jogadores estamos saindo do campo, algumas pessoas que estavam assistindo o jogo saíam, também, pela mesma abertura entre arquibancadas. Muitos passavam nos parabenizando dizendo coisas como "mandaram bem" ou "parabéns". Justin corre em direção a uma menina com tranças no cabelo, que ainda estava saindo dos bancos, e os dois se beijam. Olho para o outro lado e vejo Corey, mesmo que não tenha entrado em campo hoje, indo fazer o mesmo com Mase.

Quando percebo, estou indo na direção de Theo.

-- Wow, não sabia que você era tão famoso aqui. – diz.

-- Aposto que você era o que mais gritava: "Liam! Liam!" – imito.

-- Acho que essas eram as líderes de torcida. – ele aponta para elas com o olhra.

Ele estava... com ciúmes?

-- Será?

-- Você foi ótimo, Li. Sério, parabéns.

-- Obrigado.

Ele me encara como se fosse dizer alguma coisa, mas sua boca não se abre. Seu rosto estava iluminado pelas luzes do campo e não consigo não prestar atenção em seus olhos. Na maior parte do tempo, eles pareciam cinza, mas agora mostravam um tom de verde azulado, que eu nunca tinha visto antes.

-- Como você consegue ficar lindo até suado assim depois de um jogo? Droga, Liam. Me desculpa, mas você vai ter que sair daqui agora ou...

-- Ou o quê?

Olho ao redor e o lugar ainda estava lotado de gente. Volto a ver os olhos brilhantes de Theo e faço o que meu coração manda: beijá-lo. Ele hesita no primeiro instante, mas depois segura meu rosto e minha cintura e me beija de volta.

         -- Ou isso. – ele completa sorrindo.

         Depois que nos afastamos percebo vários olhares nos encarando e cochichando coisas. Ouço duas vozes dizerem, meio distantes:

         -- Como assim? Ele é gay?

         -- Tá mais pra bi.

         -- Então eu tenho uma chance?!

         -- Não, burro. Parece que você tem alguma chance?

         -- Não.

         -- Exatamente.