Capítulo 16

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         Theo Raeken estava me beijando? Theo Raeken estava mesmo me beijando. Acho que a pergunta certa seria por quê eu não o empurrei para trás. Por que eu ainda não o empurrei? Porque... eu não tinha percebido, mas, agora, eu estava beijando Theo Raeken de volta.

         Ele simplesmente pegou meu rosto com as duas mãos e me beijou. Meus olhos, com certeza, se arregalaram em completo choque, antes de se fecharem e eu retribuir o beijo. Eu não tenho ideia de como isso aconteceu ou porquê essa foi minha primeira reação, depois do impacto inicial, mas sei que, mesmo não sendo kitsunes nem nada, havia uma eletricidade nos cercando. E era ela que, com tanta intensidade, conseguiu sumir com todos os neurônios do meu corpo naquele momento.

         Se eu ainda estava sob tamanho impacto, que não sabia o que fazer, como ou por quê, quando vi, já estava fazendo com tanta naturalidade? Não sei como, de repente, viemos parar aqui, mas a verdade é que isso nem passou pela minha cabeça no momento. Nada passava. Acho que meu cérebro ainda não processou o fato de que eu estava mesmo beijando Theo Raeken.

         Sinto a pressão dos seus lábios aquecendo os meus com o toque. Sua mão passando pelo meu cabelo e a outra na minha cintura. Chegamos para trás e agora eu estava com as costas apoiadas no tronco de uma árvore e ele colocando o peso do seu corpo em um dos braços apoiados na madeira.

         Acho que nós dois somos a representação pura daquela lei de Newton, ação e reação. Não tenho ideia se é a primeira ou quinta, mas isso não importa. Há poucos minutos atrás, eu o soquei e ele me socou de volta. Eu o chuto e ele me empurra. Ele enche a porra do meu saco e eu encho de volta. A parte do beijo ainda é uma incógnita, mas também se encaixa. E se encaixa muito.

         Agora sou eu quem toco em seu cabelo e o puxo, pela cintura, para mais perto. Ele sorri. Que ódio. Eu sempre tinha vontade de socar sua boca quando ele fazia isso, mas me surpreendo com minha súbita vontade de beijá-la mais ainda agora.

         Seus lábios se soltam dos meus, por um momento, e se aproximam do meu ouvido quando ele diz, quase como um sussurro:

         -- Então quer dizer que Liam Dunbar não era só um grande apoiador da causa, batendo em homofóbicos na rua?

         -- Cala a boca, swiftie. – sorrio.

         De repente, a atmosfera volta ao seu peso normal e ouvimos um som de tiro. Alec. Merda, eu esqueci. Esse omento me desestabilizou tanto que esqueci que a gente estava no meio da floresta para salvar nosso amigo de caçadores.

         Trocamos olhares assustados e saímos correndo. Não tinha ninguém do lado de fora e a cabana parecia vazia. Será que Mase e Corey já estavam lá dentro? Ouço algo, mas são vozes muito distantes, então digo:

         -- Você tá ouvindo isso? Acho que não tem ninguém aí. A gente deveria ir pra lá. – aponto para o norte.

         -- Vamos entrar antes. – ele diz e subimos os degraus.

         -- Tá vendo? Não tem nin... – começo, mas ele me interrompe.

         -- Shhh. – coloca o dedo na boca fazendo sinal de silêncio.

         -- Ei! Você ficou bobo? Se tivesse alguém aqui por perto a gente já teria escutado. – exclamo sem entender.

         Ele não fala mais nada e começa a mexer nas coisas. Era um espaço minúsculo e absurdamente bagunçado. Vejo nossas fotos, de novo, pregadas num painel. Que porra de Plano-Chave.

         Ele empurra um frigobar para trás e indago:

         -- O que você...

         Ele parece muito concentrado, até que, do nada, mete um soco no piso de madeira e abre um buraco. Ou melhor, o buraco já estava aberto ali, ele só o deixou à vista.

         -- Confia em mim, Dunbar. – ele, ainda agachado, vira o rosto para mim.

         -- E onde isso me leva?

         -- Onde você quiser. – pisca.

         Meu rosto arde e tenho vontade de bater nele por isso.

         -- Quer ir primeiro? – pergunta.

         -- Você tá doido? – exclamo indignado.

         -- Ué, achei que você já era familiarizado com buracos, cair neles e tudo mais. – ele implica e eu mostro o dedo para ele.

         Ele puxa a tábua e agora posso ver melhor. Não era um poço qualquer, mas sim uma espécie de passagem. Isso estava aqui esse tempo todo?

         -- Boa viagem, Theodore. – sorrio e o empurro.

         O vejo deslizar, mas quando ele some de vista é a minha vez de descer. É mais fundo que parece, mas logo vejo Theo de pé na minha frente, em uma sala escura. Aliás, aquilo era tudo menos uma sala. Tinha espaço só para nós dois e uma porta enorme, similar a de um cofre. Ainda ouço vozes distantes.

         -- Idiota. Eu encontro o lugar e você me empurra.

         -- Supera. – digo enquanto cresço minhas garras e tento abrir a fechadura.

         -- Deixa eu só... – ele fala baixinho e simplesmente gira a manivela.

         A "porta" se abre. Me sinto um bobo.

         Dou um passo para frente, mas Theo me impede, segurando meu pulso:

         -- A porta não deveria estar aberta. Tem mais gente aqui.

         -- Beleza, então... no três.

         -- Um, dois... – sussurramos em uníssono.

         -- Três! – completo, mas ele já tinha chutado a porta.

         Estamos em uma espécie de laboratório improvisado e subterrâneo. E não. Não estávamos sozinhos.

***

Estava ansiosa pra postar esse capítulo! O que acharam?
Não se esqueçam de favoritar :)

Do Outro Lado da Porta de Uma Camionete EnferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora